O Rappa já sabia quem era Tom Capone, mas só veio a ter um primeiro contato com ele em 1998, quando o produtor assumiu a direção artística de sua gravadora, a Warner Music Brasil. Começava aí uma bem-sucedida parceria musical e também uma forte amizade, que ajudou a banda a passar por um dos períodos mais importantes – e tensos – de sua história.
Estamos falando, claro, da turbulenta saída do compositor e baterista Marcelo Yuka, em 2001. Tom estava lá, dando o suporte que O Rappa precisava para enfrentar tudo o que aconteceria a partir dali. “Ele acabou se tornando o quinto Rappa desde que começou a produzir nossos álbuns, e foi ele que administrou toda a transição, não só como diretor da gravadora, mas como amigo”, lembra o guitarrista Xandão. “Eu até fico muito chateado, porque o Tom não está mais aqui para se defender das acusações que o Yuka fez, dizendo que foi colocado para fora da banda. Isso mancha a índole do Tom, que foi uma das pessoas que mais se dedicou à recuperação do Yuka, procurando trazê-lo de volta ao trabalho. Eu, como amigo, digo que o Tom foi uma das pessoas mais éticas que conheci. Ele era a pessoa mais importante para a gente naquele momento, e se tivesse aqui hoje, continuaria sendo. Talvez, ele nem estaria numa gravadora hoje, mas no palco, com a gente.”
Ainda superando a perda, O Rappa entrou em estúdio para gravar seu primeiro disco sem Yuka. Trata-se de “O Silêncio Q Precede o Esporro” (2003), que já nasceu com a tarefa de provar que a banda continuava firme e forte, apesar dos pesares. A recém-inaugurada Toca do Bandido, de Tom, foi o lugar escolhido – e nem poderia ser diferente – para o processo.
Veja O Rappa e Tom tocando juntos na Toca:
Xandão lembra das noites que banda e produtor vararam juntos, gravando o álbum. “A gente estava em turnê e, durante a semana, ele não ia na gravadora, ficava com a gente o tempo inteiro no estúdio, virava a madrugada. Lembro muito da Constança (mulher de Tom) muito puta, porque mesmo com o estúdio sendo junto à casa dele, ele não comia direito, dormia pouco. Ela tinha toda razão, porque ele botava até a saúde em jogo. A gente falava: para um pouco, cara. E ele não parava.”
Foi numa dessas madrugadas, a propósito, que o DVD “O Silêncio Q Precede o Esporro” (2004) começou a ser pensado. “A gente parou para comer e acabou tendo a ideia de fazer o DVD”, conta Xandão. “’Reza Vela’, a gente fez na garagem da Toca. A gente continuava gravando o disco, mas foi gravando o DVD ao mesmo tempo. Era tudo muito intenso, e por isso o disco é tão intenso.”
Foi tudo muito especial, o que não impede que algumas histórias tenham sido ainda mais inesquecíveis. A que rolou com Zeca Pagodinho, por exemplo. Xandão conta que por pouco a participação do sambista não foi cancelada. Sorte que Tom estava lá e salvou a banda do desfalque. “A gente chamou o Zeca para gravar uma participação em ‘Maneiras’, uma música dele, só que a base tinha ficado totalmente diferente. Quando o Zeca entrou no estúdio e escutou, falou: ih, cara, não sei, não tem nada a ver comigo. Aí, eu puxei o Tom pelo braço e disse: vai lá dentro, pega um pandeiro, grava um negócio de samba, vamos transformar isso em samba agora. Ele foi e gravou em três minutos. Quando Zeca ouviu, se sentiu mais à vontade e gravou. A gente conseguiu reverter a história e, no final, ficou uma coisa maravilhosa. Ele ficou superfeliz, e para a gente, foi fabuloso.”
Ouça o disco:
Saiba também a história da capa do álbum, assinada por Speto: