ANTES DO ANTES

A trajetória artística –e política– do Apanhador Só

Foi um começo como o da maioria: na garagem, uma masmorra úmida e cheia de cacarecos na casa dos pais do vocalista Alexandre Kumpinski. Naquele tempo, em 2003, mesmo com toda a bagunça e umidade, foi o local mais adequado que os amigos encontraram para tocar as músicas que tanto amavam. No repertório, canções daqueles que, antes, haviam feito a mesma coisa, reunindo-se em alguma garagem para tocar as músicas do coração, dentre eles, The Who, Beatles e Strokes. Mas havia um ingrediente estranho na receita roqueira: a presença de “Construção”. “Já tinha uma tentativa de mistura lá no comecinho”, diz Alexandre, que costumava tirar no violão as músicas do songbook de Chico Buarque.

As origens do que seria o Apanhador Só estão em uma banda formada no colégio por ele e o amigo Souto, que foi também quem batizou o grupo, inscrito às pressas em um festival da escola. “O presidente do grêmio estudantil estava indo embora, entrando no carro da mãe, pegamos a ficha de inscrição e preenchemos rápido”, diz Alexandre. Não que O Apanhador no Campo de Centeio fosse a melhor obra da literatura de todos os tempos naquela vida maravilhosa de descobertas de quando se tem 18 anos, mas o título do livro, lido no ano anterior, foi a primeira coisa que veio à cabeça.

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"Já tinha uma tentativa de mistura lá no comecinho"

LINHAS BEM DESENHADAS

Uma das características marcantes da sonoridade do Apanhador Só, as ricas e delicadas linhas de baixo, também surgiram despretensiosamente e de forma circunstancial. Com a saída de Souto (hoje médico, “fazendo alguma especialização em São Paulo”) Fernão Agra se encarregou do instrumento. Fernão gravaria o primeiro EP, se afastaria para “dar um tempo” por quase um ano e depois retornaria durante a fase de mixagem do primeiro disco. As idas e vindas do baixista que começou tocando guitarra (“é daí que vêm aquelas linhas bem desenhadas”, nota o guitarrista Felipe Zancanaro) parecem naturais na história de um grupo que passou por diversas formações. Souto, Drusko, Batavo, Baiano, Carina, Martin, Haroldo, Pacote, deixando suas contribuições, todos eles passaram pela banda, que hoje é formada por Alexandre, Felipe, Fernão e Andre “Foca” Zinelli, na bateria. Nos instrumentos adicionais, efeitos e percussões, Diego Poloni e Lorenzo Flach entram ou alternam-se em cena. Fernão também foi o primeiro vocalista, já que Alexandre não se sentia à vontade para cantar no microfone.

Nessa época, aquele que se tornaria o símbolo da banda, ícone para o discurso político e estético que o grupo viria a construir, tinha um uso bem mais prosaico. A pequena bicicleta de criança já fora do irmão mais velho de Alexandre, passara para o irmão do meio e depois para ele próprio, havia sido emprestada para a vizinha e acabou jogada junto com os cacarecos na garagem. Com o apoio de uma muleta e uma baqueta amarrada na ponta, era usada como pedestal de prato da bateria.

a banda da bicicletinha

A entrada em cena da bicicleta veio pelas mãos da nova integrante Carina Levitan, ainda em 2004. Carina foi a um show do grupo e, ao fim da apresentação, disse aos rapazes que sabia o que estavam precisando. Depois apareceu no ensaio e rolou um momento de criação coletiva, com todo mundo batendo no chão e no estrado de uma cama que tinha na garagem. Carina entrou com a percussão sucata e teve a ideia de usar a bicicleta. Alexandre tirou o guidãozinho, botou o garfo de uma bicicleta maior e ajudou a criar o ícone perfeito para o Apanhador Só. A bicicleta simboliza o aspecto lúdico da música do grupo e resume as novas proposições para uma nova forma de viver nas cidades, a fundamental questão da mobilidade urbana. “Antes era um power trio bem rock”, recorda Carina, “daí eu trouxe essa sutileza, a ideia de trabalhar os arranjos com mais diversidade, de se ouvir melhor, dar mais atenção aos momentos”.

Foi o primeiro contato com uma estrutura profissional de show, outra realidade. A banda começava a formar público em Porto Alegre e São Paulo – graças à amizade com o Bazar Pamplona. O Orkut era a rede social da hora. “Lembro que eu invejava as comunidades do Superguidis e da Pública que tinham umas 320 pessoas. A nossa tinha 60, 80, e eu pensava: um dia a gente chega lá”, lembra Alexandre. [+3] [Foi nesta época que a banda saiu pela primeira vez na NOIZE, ainda na segunda edição da revista]

Na terceira tentativa, em 2008, veio o Fumproarte, edital de fomento à cultura de Porto Alegre que possibilitou o lançamento do primeiro disco, Apanhador Só (2010). Não fosse o edital, “iríamos gravar um disco bem pior”, confessa Alexandre. O álbum marcou a fase existencial da banda, com uma poética que tentava por as coisas em cheque, analisar perspectivas. Os artistas cresciam, afinal. “Uma tentativa de decodificação do mundo, meio como um Picasso, abrindo ângulos. Nunca foi música de curtição”.

Sucateiro assumido, Felipe já fazia uso desse aparato – ralador, fita cassete e walkie talkie – na banda Verde Vilastra [+2], com quem o Apanhador costumava dividir os palcos das escassas casas de shows da Porto Alegre de 2006: Tear, Jeckyll e, principalmente, o Cave (“primeiro lugar que nos recebeu”). As aulas agora já eram na faculdade e a politização, um caminho natural no ano em que o Brasil viu a reeleição de Lula. Felipe cursava Filosofia e costumava usar um chapeuzinho de palha com uma pena. “Era ridículo”, recorda. “Não, era muito classudo”, discorda Fernão. [+2] [A primeira composição em parceria entre Alexandre e Felipe, “Balão de vira-mundo”, era tocada pela Verde Vilastra por ser considerada pesada demais para o repertório do Apanhador.]
O grupo também venceu o Festival de Bandas do Trama Universitário, região Sul. Bazar Pamplona, que ganhou na região Sudeste, tornou-se uma banda-amiga. A vitória no festival proporcionou a abertura para o show de Maria Rita, no Rio, evento assistido por cinco mil pessoas[+3]. “Deu um gás pra gente acreditar que a coisa poderia dar certo”, diz Felipe.

Foi quando houve a fuga em massa. “Dei um tempo”, diz Fernão, que saiu mais ou menos junto do baterista Drusco e de Carina, mas acabou voltando. Drusko saiu antes ou depois, ninguém sabe ao certo. Sempre as dúvidas sobre o passado. Entra Baiano. E então Pacote, Martin e Haroldo, que depois foi trabalhar em Belém, no Forum Social Mundial, e nunca mais voltou. Crise. Convite para o Festival Psicodália e no hay banda. No entra e sai, Pacote gravou o primeiro disco, mas muitas das linhas de baixo são de Fernão. “Ele tirou de mim, gravou e eu tive que retirar dele”, confessa, sempre com bom humor. Fernão voltou na mixagem do disco, depois do sumiço de Pacote. Foi inevitável, segundo Felipe: “ele ia nos shows e dava pra ver que queria voltar, tomava um tragão de vinho e ficava abraçado nos amigos dizendo: fui eu que fiz essa linha de baixo”.

No show de lançamento, depois de um ano de agruras, fuga em massa, shows incertos e a interminável gravação do disco, a surpresa: duas sessões lotadas no Teatro Renascença. O Twitter se firmava como rede social do momento e em dez dias do lançamento do disco o buzz estava formado. “Tudo se espalhou muito rápido”, diz Alexandre, “600 pessoas no teatro, a galera cantando as músicas”.

"Uma tentativa de decodificação do mundo, meio como um Picasso, abrindo ângulos. Nunca foi música de curtição"

Sucata: ressignificando as coisas do mundo

A necessidade de fazer algo interessante diante da demanda de apresentações acústicas em programas de rádio, circunstância imposta pela maçante rotina de divulgação, possibilitou a exploração das potencialidades da sucata. “Foi na sala de espera de uma rádio, começamos a batucar nos cases”, lembra Alexandre. Felipe emenda: “Eu tinha uma munhequeira por causa de uma tendinite e começamos a brincar com o velcro e logo depois o Fernão pegou a sacola, que foi o grande instrumento do Acústico-Sucateiro”. Das texturas produzidas por Carina, a sucata foi ocupando um papel mais rítmico, e até melodias começaram a surgir através de um tecladinho. “E foi evoluindo porque é uma coisa que é eternamente evoluível”, conjetura Felipe.

 

A fita-cassete, mídia sucateada e reutilizável, fechou perfeitamente com o novo conceito. “Isso causou uma mudança na nossa postura, de começar a se preocupar com as coisas do mundo, com algo que fosse além da música e da nossa carreira”, avalia Alexandre. Felipe completa: “A sucata não é só um instrumento e passa a representar algo que tem a ver com essa ideia de ressignificar as coisas”. Um novo olhar sobre as velhas coisas, reciclagem de objetos e ideias que já não servem mais, ato de resistência ao consumo burro e desenfreado: a tentativa de fazer com que o mundo, de alguma forma, seja diferente. A semente que iria germinar em Antes que tu conte outra em uma planta florida e espinhosa estava plantada.

 

Também em 2011, apareceu o clipe de “Um Rei e o Zé”. As roupas esportivas vintage que usaram se tornaria o figurino oficial de vários shows, a ponto de, ao fim da turnê, estar tudo encardido e fedorento[+4]. A onda sportswear durou pouco e, no ano seguinte, saiu o compacto em sete polegadas Paraquedas. Produzido por Curumin, o single capturava um lado mais sombrio do grupo. No lado B, “Salão-de-festas” já indicava o flerte com os recursos eletrônicos que o Apanhador exploraria no segundo álbum. A entrada de Foca, baterista de abordagem mais simples em comparação ao estilo exuberante de Martin, abriu espaços, permitindo que os elementos eletrônicos se instalassem. [+4] [Chegavam a entrar no palco fazendo alongamentos e aquecimentos, em referência ao clima esportivo do vídeo (no qual os rapazes, vestidos de tenistas, disputam uma partida de taco)]

vandaliza

Politicamente, além do engajamento individual (maior ou menor) de cada integrante, o Apanhador Só entendia que, como grupo, também era preciso definir um programa de atuação, tomar um posicionamento. Na sempre polarizada Porto Alegre, o grupo passou a integrar um núcleo de resistência, um tanto festiva, contra o processo de privatização dos espaços públicos que a cidade vem sofrendo, financiado por interesses da iniciativa privada que paga as campanhas eleitorais. O Bloco de Lutas pelo Transporte Público passou a promover manifestações contra o aumento da passagem, os ciclistas da Massa Crítica reivindicavam a construção de ciclovias e, em outras frentes, coletivos artísticos como o Bloco da Laje e os Ovos e Llamas articulavam ações e festas nos espaços da cidade. No Largo Glênio Peres, em frente ao Mercadão, tradicional espaço de concentração popular e manifestações culturais e políticas, onde a prefeitura instalara um estranho chafariz, estudantes, ativistas e artistas passaram a reunir-se aos finais de tarde nos movimentos Largo Vivo e Defesa Pública da Alegria. Quando o tatu inflável símbolo da Copa do Mundo (trazida ao Brasil com enormes custos humanos e democráticos) foi instalado no meio do Largo, o gesto deve ter sido entendido como uma provocação pelos ativistas. O episódio que se seguiu, no dia 4 de outubro de 2012, estopim dos protestos de maio de 2013, ficou conhecido como a Batalha do Tatu.

O Apanhador iria se apresentar na manifestação daquela noite, mas acabou tendo que tocar no Rio e foi poupado da violência. Uma noite antes, Alexandre se envolvera em um embate tão definitivo para os rumos criativos da banda quanto as questões políticas enfrentadas pelo Brasil do século 21. Tom Zé se apresentou em Porto Alegre, na reinauguração do Auditório Araújo Viana. A casa de shows, localizada no Parque da Redenção, havia sido reativada depois de anos de ostracismo após uma parceria com a iniciativa privada. Durante a apresentação, parte do público (muitos ativistas presentes) queria dançar na frente do palco, mas Tom Zé interveio, pedindo para que sentassem. Alexandre recorda: “Essa postura não me representa, se colocar como uma autoridade. Isso dizia muito respeito ao que estava acontecendo na cidade, esse moralismo. Na hora, rolou um afastamento entre eu e ele. Não foi culpa dele, ele não sabia o que estava acontecendo”. Então Alexandre saiu do show e se meteu em uma confusão porque era proibido pisar no talude, o “morrinho” de grama que há em volta do auditório, um ponto clássico do chimarrão de domingo dos porto-alegrenses, agora privatizado e interditado. “Na grama onde a gente não podia pisar, tinha um inflável da Coca-Cola, era tudo muito simbólico”. Ele quase foi agredido pelos seguranças. Voltando para casa, deprimido, soube por uma amiga que, quando o show acabou, parte do público armou uma revolta, incendiando o inflável. Em volta do objeto pegando fogo, gritavam: “amanhã é o tatu, amanhã é o tatu!”.

No Rio, após o bode tropicalista de Alexandre com Tom Zé, recebiam as notícias sobre os amigos espancados pela polícia durante a manifestação em Porto Alegre. “Como se a violência contra um tatu de plástico justificasse a violência contra corpos”, considera Alexandre. A explosão de violência sofrida pelos colegas e amigos ajudou a dar forma a um conteúdo que já tratava de temas contundentes. Alexandre recorda: “a Batalha do Tatu rolou dois dias antes de a gente começar a pré-produção do disco, vários amigos apanharam, o Lasier [+4] chamou todo mundo de vagabundo, que tinha que apanhar mesmo, que cidadãos de bem não poderiam permitir que vândalos tomassem conta da cidade. Isso pessoalmente me incomodou muito, passei vários dias no inferno astral dentro do estúdio, tocando e pensado: que merda de cidadão de bem uma ova, que ser comportado uma piça, bota barulho aí, estraga essa primeira faixa do disco, manda tomar no cu tudo, fode o mundo, vandaliza.” [+4] [Caricato e conservador comentarista da RBS, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, e, hoje, candidato a senador.]

“Mordido”, a faixa de abertura de AQTCO, foi a primeira a ser gravada e o que ouvimos no disco é quase inteiramente o que foi registrado naquela madrugada de inferno astral [+5]. Diz Felipe: “fizemos o arranjo, sentamos para fazer as batidas, fomos gravar e depois nunca mais mexemos. O violão chegou a ser reprocessado, mas as batidas, os radinhos, nunca foram regravados. O estranhamento é um conceito que a gente buscou, causar essa sensação no ouvinte.” “Mordido”, gíria porto-alegrense para descontente, é o manifesto do Apanhador Só contra os hipócritas cidadãos de bem. Alexandre já vinha expressando seus pontos de vista em textos na internet e as ideias de algumas letras decorriam do mesmo pensamento político:

O segundo disco não vem mais levantando dúvidas, fazendo questionamentos filosóficos e existenciais, mas afirmando uma posição e sendo mais intolerante: algo tem que mudar porque as coisas não estão funcionando assim. Não está tudo certo, então não vamos comunicar como se estivesse certo, daí vem muito ruído, muitas notas erradas, fora da escala, um arranjo todo torto, cheio de barulho, mixagens estranhas, um baixo alto e distorcido na caixa, coisas agressivas, letras dizendo claramente a que vieram, colocando o dedo na cara de algumas lógicas.” [+5] [Kumpinkski fala mais sobre ela no Faixa a Faixa, página 19?]

As faixas foram gravadas em três estúdios, com pré-produção do quinto elemento Diego Poloni, responsável por “muita coisa determinante”. “Cartão Postal”, por exemplo, é inteira da sessão da pré. O conceito do desconforto, o ruído como expressão do dissenso, foi reforçado através das técnicas de circuit bending [+6] empregadas nas gravações. Felipe vinha juntando “uma porrada de lixo eletrônico”, bugigangas que foram montadas na antessala de um estúdio em Gravataí, na grande Porto Alegre. Caixas de coisas que não tinham uso determinado, ninguém sabia ao certo o que fazer com aquilo. O que havia era uma enorme vontade de experimentar, quebrando os protocolos que regulam a captação de áudio, “nada disso de lugar certo pra colocar o microfone”, provoca Alexandre, “se o ar condicionado está ligado e deixa um ruído de fundo, melhor assim”. E de fato, em “Ian, Vital e Cassales”, a guitarra mantida no mix final tem o acompanhamento da vibração de um ar-condicionado. [+6] [“Circuit bending” é uma técnica para criar e modificar instrumentos musicais eletrônicos. O procedimento é simples e utiliza brinquedos, teclados, componentes eletrônicos básicos]

"Como se a violência contra um tatu de plástico jistificasse a violência contra corpos"

Outro elemento importante nas gravações foi o microfone de contato, sugerido pela visita do amigo Antonio Ternura, que batucou no corrimão de aço instigando novas sonoridades. Os microfones foram afixados em vários pontos da casa e disso saiu o arranjo para “Lá em casa tá pegando fogo”. O pequeno caos experimentado na pré-produção, que incluiu também a troca de instrumentos (como no caso de “Despirocar”), é uma abertura à experimentação, “se propor e se dispor a vivenciar aquilo que está na tua frente como possibilidade sem pré-julgamentos”, observa Felipe. Um set list com dezoito músicas foi levado para as sessões e o material captado naqueles dias forma praticamente todo o disco, com apenas regravações de bateria, alguns baixos e vocais. Entre São Paulo e Porto Alegre as gravações do disco foram concluídas. Em Sampa, os produtores que não presenciaram o processo custaram um pouco a entender o espírito do disco. “Eles não sacaram”, lembra o batera Foca, “ficaram meio assustados”. “’Destrói o som’, a gente tentava explicar”, conta Alexandre, mas os produtores insistiam em métodos mais tradicionais de gravação. “A gente aterrorizou um tanto até que entenderam”, conclui Felipe. Na sala da casa de Alexandre, na última sessão, “tudo que estava muito limpo e certinho”, foi retimbrado, passado por amplificadores de guitarra, captando ambiências, e “isso foi somado às gravações impecáveis do estúdio”, conta Felipe, “viemos depois a descobrir que isso não é um procedimento incomum”. “Mas, para nós”, arremata Foca, “era muito novo”.

A possibilidade de contrato com a Som Livre, anterior à gravação, traria uma chance de inserção no mercado, mas também levantava questionamentos éticos da maior importância, afinal se tratava da gravadora da Rede Globo. Os rapazes discutiram a questão internamente, a primeira discussão importante da banda. A politização os fazia sentirem-se mais responsáveis por suas ações no mundo, como artistas e cidadãos. “Já existia nos indivíduos e foi por aí que conseguimos amalgamar essa posição como banda”, filosofa Felipe. E então veio a ideia do crowdfunding como solução de financiamento. “Uma maneira diferente de fazer as coisas”, considera Alexandre, “que tem tudo a ver com o disco. Se a gente tivesse fechado aquele contrato, no fim das contas, esse disco nunca teria nascido”.

Aclamado pela crítica nacional (o álbum conquistou o importante prêmio de melhor disco de 2013 pela Associação Paulista de Críticos de Arte), Antes que tu conte outra é uma obra de arte que, como poucas, captura o zeitgeist do Brasil de antes da Copa do Mundo, com suas ruas tomadas de manifestantes, a vontade de mudança dos jovens e as reações violentas do poder público. Independente, experimental, político, se AQTCO tivesse um cheiro, ele seria o de gás lacrimogêneo.

Revista NOIZE

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Fotos Deni Cristian Seleção musical

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