A poucos metros da avenida Farrapos, reduto da putaria porto-alegrense, o Audio Flat perde sua virgindade em grande estilo. É no novato estúdio que a Comunidade Nin-Jitsu grava o álbum que comemora 20 anos da banda.
Pra chalaça de aniversário, os ninjas foram até o litoral catarinense resgatar Edu K (Defalla), que saiu do seu refúgio particular no Campeche pra retomar a parceria iniciada no primeiro disco da CNJ, “Broncas Legais” (1999). “Ele participou do processo criativo conosco porque é o cara de fora que mais entende a gente”, conta o vocalista Mano Changes.
“Ter alguém bom e criativo, que pode nos olhar de fora, acrescenta muito”, reforça o baixista Nando Endres. “A banda, olhando só pra si, acaba ficando limitada como um ser criativo. A gente acaba se autotolhendo sem querer ou fazendo coisas que já está acostumado. E daí vem alguém de fora, olha e diz que dá pra ampliar. É o processo que está acontecendo no estúdio.”
Do encontro entre banda e produtor, está nascendo um disco que foi pensado especialmente pro formato vinil. São 10 faixas. “Metade é Funkadelic com hardcore; e a outra metade é trap com baile funk”, resume o guitarrista Fredi Chernobyl. “Esta é a grande sacada do disco. A gente precisava da vibe dessa velha (se referindo a Edu), a gente estava com saudade das viradas, do subgrave, do popozão dele. A melhor coisa que a gente fez foi ter chamado ele de novo.”
“O que eu trago pro disco é meu estilo de produção”, diz Edu. “Estou aqui pra perverter o mundo, transformar tudo num caos, num inferno do caralho, trazer o lixo de volta ao pop, que está muito bunda mole. Aí, o lance é tirar o couro dos caras. Eu sei até onde eles vão e sei até onde dá pra ir. Porque o mundo precisa de sujeira, de putaria, de coisas doentias, de ideias radicais. E eles têm a mesma obsessão que eu tenho pelas velhas do rock dos anos 70. Esse disco é uma homenagem a esses caras, à alma desses caras.”
A primeira faixa a ficar pronta foi “Bonde do Cachorro Quente”. “É uma música que brinca com essa coisa da ostentação”, explica o vocalista Mano Changes. “A Comunidade é politicamente incorreta e sempre vai ser. O Edu é um cara muito divertido e potencializa esse nosso lado. Sempre foi muito verdadeiro, e não é porque a gente está com quase 40 anos que isso vai mudar. Ao contrário, isso só nos fortalece, nos rejuvenesce.”
A jovialidade está também nas mãos e nos riffs de Erick Endres. O filho guitar hero de Fredi, concebido junto com o primeiro álbum, é a única, digamos, participação especial. Quase única, aliás, pois Edu K também saiu de trás da mesa e gravou uns vocais.
Ainda sem título, o disco tem previsão de lançamento pro segundo semestre de 2014.
Fotos: Ariel Fagundes