David Bowie para ver e ouvir

04/04/2013

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

04/04/2013

O que faz David Bowie ser David Bowie? Livros e teses acadêmicas já foram escritos para tentar desvendar o “homem que vendeu o mundo”, mas talvez seja com a eletrizante retrospectiva “David Bowie Is” que muitas respostas venham à tona. Essa concorrida exposição, que vai até 11 de agosto no Victoria & Albert Museum, em Londres, apresenta pela primeira vez o Arquivo David Bowie, baseado em Nova York, onde o músico vive com a família. Em janeiro de 2014, ela segue para o Museu da Imagem e do Som, o MIS, em São Paulo, mas não se sabe ainda se vai completa. Quem me contou esse detalhe durante a preview para a imprensa foi Kathryn Johnson, que trabalhou diretamente ao lado dos curadores Victoria Broackes e Geoffrey Marsh.

Aqui em Londres estão sendo exibidos mais de 300 objetos, tudo reunido em um grandioso espetáculo para narrar a trajetória de Bowie, o primeiro pop star pós-moderno, como bem definiu o Dylan Jones, editor da GC e autor do livro “When Ziggy Played Guitar,” lançado no ano passado. Entre os objetos, estão ítens pessoais, fotografias, vídeos, LPs dos heróis musicais de Bowie, como Little Richards, mais de 60 figurinos, muitos deles originais, anotações em seu diário, sketches, storyboards, set lists, instrumentos e partituras musicais, como os manuscritos originais de “Space Oddity” e “Ziggy Stardust”, de 1969 e 1972, respectivamente.

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A concepção do design é uma das mais arrojadas e a ideia de ser uma experiência imersiva e sensorial permite múltiplos insights no universo de Bowie. Diversos objetos lá expostos, como os manuscritos de canções, ajudam a lançar uma nova luz sobre a sua obra. “David Bowie Is” examina também as influências que ele recebeu dos movimentos artísticos que surgiram na época. Vale lembrar que David Bowie flertou com a pop art de Warhol e bebeu nas fontes do surrealismo, do teatro de Brecht, dos musicais do West End britânico e do expressionismo alemão, passando pelo teatro kabuki e pelo moderno design japonês. Sem esquecer, é claro, das diversas interpretações da cultura jovem britânica. Mas, da mesma forma como foi influenciado, Bowie colaborou e foi referência para artistas e designers em diferentes campos da música, moda, teatro, arte, cinema e design gráfico e isso está presente o tempo todo na exposição.

“David Bowie Is” mostra de que forma o gênio criativo de Bowie inspirou e abalou o zeitgest e de que forma ajudou a desenhar o futuro. Um exemplo clássico é o display eletrônico espelhado que exibe o figurino original completo do incônico Ziggy Stardust, cercado por todos dos lados, inclusive em cima e embaixo, com as imagens da derradeira performance de Starman com os Spiders from Mars no Top of the Pops, em 1972. Tudo é destaque nessa retrospectiva, mas chamam a atenção os objetos nunca vistos antes como os esboços para as bandas que Bowie fazia quando era adolescente, entre elas os Kon-rads.

Tem também os contatos originais das fotos promocionais tiradas por Terry O’Neil, em 1974, para o álbum “Diamond Dogs”, trabalho que anunciou uma nova fase na carreira de Bowie. O curioso é que nas fotos ele aparece elegantíssimo, usando um chapéu Cordoba preto e relaxado, sentado em uma cadeira e segurando ao seu lado um cachorro muito grande. Mas o que pouca gente sabe (e as fotos no V&A revelam) é que a produção pendurou em um fio um pedaço de carne para que o cachorro, ao tentar pegar o alimento, esticasse o corpo, ficando maior ainda do que ja era.

O som em áudio 3-D é uma preciosidade, como um coração que pulsa forte e vigoroso. Aliás, foi Tony Visconti, produtor e amigo de longa data de Bowie, quem produziu o mash-up da trilha musical. A seção final apresenta um amplo espaço audiovisual onde telas que vão do chão ao teto mostram imagens dos shows ao vivo mais eletrizantes de David Bowie, assim como os vídeos “DJ”, de 1979, e a recente descoberta da performance de “The Jean Genie” no Top of the Tops, em 1973.

Se tem alguma lacuna nesta retrospectiva, ela está nos anos 80. Os curadores pisaram pianinho ao apresentar esta década em que a presença de Bowie na música foi apática. Encerro esse post dizendo que, para mim, prazer maior do que ter visto “David Bowie Is” foi ter atendido na minha casa uma ligação do próprio Bowie, em 1990. Ele estava em Portugal, a caminho do Brasil, onde viria apresentar a turnê “Sound and Vision”. Ele ligou para dar uma entrevista para o então editor de música do Caderno 2, o jornalista Jimi Joe. Ao atender o telefone, ouvi do outro lado da linha um simpático e infinito “helou”, que parecia cruzar o oceano Atlântico. Emudeci e não consegui balbuciar nem um anêmico “hi”. A voz metálica, solar e bem-humorada de David Bowie nunca mais saiu da minha memória e, certamente, essa exposição nunca mais vai sair “dos corações e mentes” do público e dos fãs.

(Fotos: Luana Kaderabek)

Keli Lynn Boop é fundadora e editora de conteúdo do URGE.
Luana Kaderabek é antropóloga visual e editora do Art of The Day

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04/04/2013

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