Dia dos Pais | Conversamos com 7 filhos da música

09/08/2015

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Reprodução

09/08/2015

Uma coisa é o lado artístico de um músico, outra bem diferente é o seu papel enquanto pai. Neste Dia dos Pais pegamos sete depoimentos de músicos que são filhos de músicos. Seun Kuti falou sobre a lenda Fela Kuti; Ulisses Bezerra, sobre o malandro-mór Bezerra da Silva; Vivi Seixas contou o que lembra do Raulzito; Bem Gil filosofou sobre Gilberto Gil; Davi Moraes falou sobre Moraes Moreira; Tim Bernardes (d’O Terno), sobre Maurício Pereira (d’Os Mulheres Negras); e Erick Endres lembrou da fita que Fredi Chernobyl, da Comunidade Nin-Jitsu, botava para ele dormir.

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FELA KUTI, por Seun Kuti
Eu tinha oito quando comecei [a tocar com Fela Kuti], então era só diversão! Era interessante ficar acordado até tarde nos clubes enquanto todos meus amigos iam dormir. Eu sempre ia falar com Fela para não me sentir pressionado durante as apresentações e ele dizia “suba no palco e faça o que você gosta que Fela cuida do resto”. O maior legado dele foi essa mensagem de igualidade e a ideia de que cada um tem responsabilidade sobre o outro.

raul e vivi

RAUL SEIXAS, por Vivi Seixas
Quando meu pai morreu, eu tinha oito anos e, quando ele se separou da minha mãe, eu tava com seis. Então, tenho poucas lembranças do meu pai, lembro mais das brincadeiras que ele fazia comigo. Ele era muito divertido dentro de casa, gostava de tirar sarro com a cara de todo mundo. Lembro de personagens que ele criava pra mim e me divertia, tinha um personagem que era um camarão que morava no fundo do mar e usava óculos escuros, tinha o Capitão Garfo, que pegava minhas bonecas e botava no congelador. Lembro também da gente num hotel catando formiguinha e botando elas dentro de um potinho. Ele era muito engraçado, mas quando eu fazia malcriação ele ficava brabo. Lembro que um dia eu fiz uma malcriação com minha mãe e ele chamou minha atenção na frente de todo mundo em um restaurante e eu morri de vergonha. Ele era educador, sabe? E eu era filha única, né? Toda filha única é meio mimada, né? Quando eu chegava em São Paulo pra vê-lo e ele via que eu tava meio desaforada me dava bronca. Não lembro muito do assédio dos fãs com ele, pra mim é sempre complicado porque antes de ver o Raul como mito, antes de tudo ele é meu pai. É difícil pra mim. Lógico que eu sei da grandiosidade dele, mas, antes de ser o maluco beleza, é o meu papai Raul. Até hoje eu sinto saudade dele, até hoje me emociono quando ouço as letras.

GILBERTO GIL, por Bem Gil
Eu me envolvi com música mais tarde, só fui começar a tocar violão com 16, 17 anos. Mas o fato positivo é que eu tive oportunidade de viajar o mundo e, através do meu pai, tocar com músicos incríveis. O que é uma oportunidade única. Eu fui gerado, não só biologicamente, mas musicalmente pela minha família, consequentemente pelo meu pai. Não tem muito como fugir disso. Mas, às vezes, chega a ser esdrúxulo: “Ah, mas e a sua carreira, vão lhe comparar”… Como é que você vai comparar o Moreno Veloso com o Caetano? Ou a Maria Rita com a Elis? Mesmo tendo um timbre de voz parecido, mesmo a Maria Rita fazendo o repertório da Elis, eu não consigo enxergar esse tipo de associação. A não ser a associação direta que é o fato de que a Elis Regina criou a menina, é a mãe dela. Isso é uma coisa da qual você não tem como fugir. No nosso caso é uma sorte. Mas às vezes me perguntam sobre isso como se algum tipo de comparação pudesse me incomodar, me intimidar ou causar algum tipo de sentimento ruim. Já é difícil me comparar com a Preta Gil, que é minha irmã, imagina nos comparar com nosso pai, que é um ser único, que desenvolveu seu trabalho em outra época… Chega a ser uma perda de tempo.

BEZERRA DA SILVA, por Ulisses Bezerra
A nossa relacao era de pai pra filho, ele sempre me tratou com muito carinho e muito respeito. Ele sempre me falava: “Meu filho, você tem que saber que há os dois lados da vida – o lado A e o lado B”. Ele sempre me levava para os shows nas favelas e, assim que chegávamos lá, era festa de tiroteio pro alto. Nao tinha como ficar parado pra ver, era perigo de vida total. Ele sempre me mostrou vários tipos de situações e sempre falava: “Tá vendo ali! Malandro não cagueta”. Muitas dessas comunidades estavam em guerra, mas sempre que tinha show dele a guerra parava para o evento. Ele sempre foi muito respeitado. Os donos do morro sempre pintavam no camarim pra dar boas vindas. Todas comunidades no Brasil tinham muito carinho e respeito por ele. Ele sempre passou Humildade. Não só a musicalidade e o processo de percepção musical, eu tambem peguei muita experiência de palco e conhecimento artístico dele. E também experiência de vida tendo próximo o expoente do lado B da sociedade brasileira que muitos da classe média não conhecem.

MORAES MOREIRA, por Davi Moraes
A música me interessou desde cedo. Meu pai percebeu isso e falou que o cavaquinho é melhor que o violão, por ser pequeno, para fazer aquela pestana difícil de fazer. Então, o cavaquinho foi muito amigo nesse sentido. Ele foi importante para mim, para começar a praticar o chorinho. A rítmica do samba e do chorinho, a digitação das melodias me ajudou muito quando fui para a guitarra. Tive a coincidência, a sorte e o privilégio de tocar em todas as edições do Rock in Rio desde 1985. O primeiro, quando eu tinha 12 anos, eu toquei “Brasileirinho” com o meu pai.

maurico e tim

MAURICIO PEREIRA (Os Mulheres Negras), por Tim Bernardes, d’O Terno
Ele me mostrava bastante música e sempre deixava a gente livre pra curtir o que fosse, sem preconceito com estilo ou qualquer coisa assim. Fora isso, eu ia bastante nos shows dele e ficava de olho nos instrumentos, curtindo no meu canto. Com seis anos, eles viram que eu queria aprender mais música e me colocaram pra estudar. Daí eu não parei mais. Com uns 16 anos, ele me colocou de roadie de uma série de shows dele. Foi legal pra eu ver de dentro o esquema do show e ainda juntar os cachês pra comprar a guitarra que eu andava sonhando naquela época. E ele sempre colocou muito som em casa e no carro e desde muito pequeno eu ia prestando atenção. Acho que meio propositalmente ele foi fazendo eu e meus irmãos ouvirem o que ele chama de “clássicos”, hehe. Ouvia coisas como Beatles, Rolling Stones, Caetano, Milton, Jorge Ben, Roberto, Tim Maia, Elis, Mutantes… Muitas dessas coisas me chamavam a atenção e, quando eu ia perguntar pra ele, ele me contava quem era e me mostrava mais um pouco. Lembro dele e minha mãe baixarem Bob Dylan, Janis Joplin e Jimi Hendrix pra me mostrar quando eu era pequeno.

FREDI CHERNOBYL, por Erick Endres
Esses tempos a gente encontrou uma fita-cassete que ele colocava pra eu dormir e tinha Jimi Hendrix, Parliament, Funkadelic, Nina Simone, Billie Holiday, Tim Maia… E eu dormia ouvindo isso. E depois, quando eu era um pouco maior, eu ia pra casa dele e ele tinha um DVD do Red Hot – e eu amava aquele DVD. Eu não pedia pra ele colocar o DVD do Tarzan, sabe? (risos) Eu amava o show “Off the Map”, que é depois do Californication, quando o [John] Frusciante voltou. Mas uma banda que eu sou tri fã é o The Racounters, do Jack White, que ele não sacava muito e eu fiz ele ouvir mais. Ele super adora agora.

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09/08/2015

Revista NOIZE

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