A simplicidade singular do DIIV em sua primeira turnê no Brasil

23/10/2017

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Eduardo Panozzo

Por: Eduardo Panozzo

Fotos: Tuanypics

23/10/2017

O público esperava ansioso pela primeira vez do DIIV em São Paulo. A banda nova iorquina já estava presente nas playlists dos brasileiros mais atentos desde 2012, ano em que saiu o seu primeiro álbum, Oshin. Nessas playlists, DIIV provavelmente divide espaço com artistas como Mac Demarco e bandas como Tame Impala, Tops, Yuck e Unknow Mortal Orchestra (agora sim, podemos dizer que todas essas já passaram pelo Brasil). Tudo culpa do selo Balaclava, responsável pela produção da maioria desses shows por aqui e, junto com o Monkeybuzz, que organizou a vinda do DIIV ao Fabrique Club, novo espaço no bairro Barra Funda.

Não dava pra saber o que esperar desse show. A banda, que na verdade sempre soou como um projeto encabeçado por Zachary Cole Smith (compositor, vocalista e guitarrista) é cercada de acontecimentos que vão além da própria música desde o seu nascimento. A saída de Zach do Beach Fossils para tocar seu próprio projeto, o relacionamento hypado com a cantora Sky Ferreira e o abuso de drogas, culminando na sua prisão por porte de ecstasy e heroína ao lado de Sky em 2013.

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A relação com as drogas é basicamente o tema do aguardado segundo álbum do DIIV, Is The Is Are, lançado no ano passado. O disco é bem diferente do primeiro, onde tudo parecia uma grande massa sonora feita de guitarras, vozes e teclados misturados e com muito, mas muito reverb. Em Is The Is Are, dá pra notar o que cada instrumento faz com mais clareza, dando um ar diferente e até mais convencional para o som da banda.

Por tudo isso, o show era uma incógnita. Achei que fosse ver uma galera muito louca no palco, um show meio desleixado e jogado, mas a coisa aconteceu de uma forma completamente diferente. Todos os 5 integrantes pareciam bem a vontade ao mesmo tempo focados, afim de entregar um show a altura da expectativa de tantos anos de espera para sua primeira vez no Brasil.

Começou com a instrumental “Druun Pt. II”, do primeiro disco, ganhando o público logo de cara. Em seguida, uma música do segundo álbum, e assim o show seguiu com essa mescla de músicas dos dois discos já lançados pela banda, rolando até um som novo e inédito mais pro final (bem pesado por sinal). No telão atrás do palco, durante o show todo, apareciam imagens registradas por eles mesmos em VHS, do rolê dos caras por Nova York, filmadas aparentemente desde que a banda começou. Isso fez com que a gente entrasse no universinho DIIV e entendesse um pouco mais a panca toda. Tornou tudo muito pessoal.

Mas vamos voltar para o som. Eu, pessoalmente, curto bem mais as músicas do Oshin e fiquei muito feliz de ver que eles acharam válido reservar uma boa parte do show para essas músicas mais antigas. A formação da banda mudou muito de um disco pro outro, também a sonoridade, mas o novo baterista e o novo terceiro guitarrista/tecladista somaram muito inclusive para as músicas do álbum que não gravaram. Elas acabaram ganhando uma cara mais potente (leia-se “que bandão da porra”) e funcionaram muito bem ao vivo.

Aliás, essa foi uma outra grata surpresa: não foi o show de um cara só. Cada um dos 5 trouxe sua personalidade pro show. Dois caras que me chamaram bastante a atenção foram o baterista Ben Newman, que foge um pouco do beat reto e mais simples característico do antigo batera, e o guitarrista Andrew Bailey. Sóbrio a 4 anos, segundo o que Zachary contou pro público ali mesmo no palco, ele deu a vida o show inteiro, mostrando o quanto é importante pro som da banda ao vivo, tocando com tanta vontade a ponto de estourar algumas cordas ao longo do show.

Essa “sobriedade” aparentemente é algo importante para eles agora. Em algum momento do show, entre um pedido e outro para aumentar o reverb da sua voz, Zach perguntou se o público tinha drogas. Assim mesmo. Naturalmente uma galera gritou confirmando, e ele só respondeu dizendo: “Resposta errada, isso não é bom pra vocês.” Quem acompanha um pouco a banda nas redes sociais deve ter visto um post ou outro sobre o assunto, até mesmo sobre uma internação voluntária por parte do vocalista.

O fato de eles não estarem só locões ali em cima do palco fez muito bem para o show como um todo. Eles tocaram demais, mesmo, entregaram o que tinham que entregar e ainda mais. Trocaram ideia com a galera, atenderam até alguns pedidos de música, colaram adesivos em suas guitarras e vestiram bonés e camisetas jogados no palco.

Depois da loucura que foi a música “Doused”, quando já tinha passado mais de uma hora de show, eles falaram: “Vamos tocar essa e fingir que vamos embora, mas depois voltamos pra tocar mais algumas.” Voltaram e tocaram os clássicos do primeiro disco, “How Long Have You Known” e “Wait”. Pronto. Era o que faltava pra eu considerar esse um dos melhores shows que eu já vi de bandas gringas aqui no Brasil. Sem pirotecnias, simples, de cara, bem pessoal e despido de qualquer artifício além do som pra entregar exatamente o que todo mundo estava ali pra ver. Foi foda.

Já pode voltar, DIIV. Só não precisa demorar tanto tempo dessa vez, né?

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23/10/2017

Eduardo Panozzo

Eduardo Panozzo