The Drums testa sons novos e mais intensos em São Paulo

10/11/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

10/11/2014

Fotos: Camila Mazzini

Eram 22h31 quando os holofotes se acenderam e um movimento vinho cintilante surgiu entre a fumaça do palco, ao som do coro eufórico do público. Era Jonny Pierce entrando no palco, com sua jaqueta cintilante em contraste com o cabelo indie platinado. Ao seu lado, Jacob Graham, vestindo tons mais sombrios, ocupou o seu ninho de sintetizadores, onde permaneceu durante toda a noite.  A introdução com “Bell Laboratories” nos deu boas vindas ao show soturno do The Drums na última quarta-feira (05), no Cine Jóia, em São Paulo. A vinda da banda ao Brasil, acompanhada dos músicos de apoio Rene Perez, Daniel Allen e Colin Halliwell, integrou a agenda de shows gringos constantes do Popload Gig e foi a terceira passagem dos garotos do Brooklyn por aqui: eles já se apresentaram no extinto Estúdio Emme, em 2011, e no festival Planeta Terra 2012.

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Dada a largada, a base eletrônica de “Let Me” fez o público acompanhar a batida com palmas e empolgação dando apoio à performance icônica do vocal. Assim como nos clipes, a coreografia caricata de Jonny também pôde ser apreciada no palco. Seus movimentos são um convite para dançar com pegadas abstratas nas ondas sonoras. E a experiência indie/pop/electro dos Drums começou assim, com os passos leves do frontman e os gestos robóticos e um tanto sombrios de Jacob ao controlar os efeitos.

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Ao começar a música “Me and The Moon”, Jonny olhou “with lasers” para os fãs, como se estivesse procurando alguém para dedicar o som. Jacob trocou os sintetizadores pela meia-lua, fazendo “lip sync” do trecho: “It’s a lovely night with the moon in the sky…”. Jonny se empolgou, ainda que com leveza, e animou a dança da plateia mantendo o ritmo na batida do pé. Foi nesse som que todos na casa se entrosaram e o frontman resolveu falar: “Obrigado, São Paulo. Somos os Drums, de New York City. Esta é do nosso novo álbum Encyclopedia, chama-se ‘I Can’t Pretend’”. E o loirinho cantou, com a mão no peito enquanto o seu dupla praticamente não tocou em nada. Essa vibe de Jacob, de intercalar sua performance robótica com a meia-lua, foi mantida nas músicas seguintes: “Kiss Me Again” e “Book of Stories”, quando ele apontou para o público no trecho final: “Why can’t I let you go?Hate you I wanted to hate you”.

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Em “Best Friend”, Jonny afastou o microfone de sua boca para saltitar enquanto o público assumiu o coro. Jacob fez um olhar irônico, expressando a letra, operando sua parafernália e “maestrando” os fãs com o backing vocal da canção. A energia continuou quando o riff de “Money” fez o Jóia inteiro dançar e cantar com o refrão mais compreendido por todos que estavam lá (“I want to buy you something, but I don’t have any money…”). A acústica do local não favorecia muito a qualidade do áudio, mas o Drums mostrou que não deixa a desejar na execução ao vivo. A guitarra em notas super agudas no riff final com os efeitos do mega sintetizador e o vocal fanho de Jonny foram o suficiente para alegria dos fãs. E até este momento, todas as músicas pareciam metricamente ensaiadas, sem surpresas entre uma faixa e outra. Essa perfeição sem improvisos mostrou que o show do The Drums é do tipo pra quem curte e espera um som igualzinho ao que encontra ao dar o play no computador, iPod ou CD.

“U.S. National Park” deu uma pausa nos passinhos indies e abriu espaço para muitos abraços de casais presentes. Foi o primeiro momento em que senti uma energia mais intensa vinda do palco. A baladinha dessa música envolveu o público, que aplaudiu no final. Depois, a dupla tocou “Book of Revelation”, recebida também com calmaria pelo público. Jonny concluiu com um agradecimento no seu melhor sotaque gringo: “Obrigado, São Paulo”.

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Foi um show de hits dos álbuns “The Drums” (2010) e “Portamento” (2011), onde o público reagiu festivamente aos singles antigos da dupla. Ficou claro que, apesar de termos ouvido meia dúzia de faixas novas, a declaração do Drums sobre esse novo trabalho ser deprê só vai ser sentida pra quem ouvir o novo disco, Encyclopedia (2014), longe dos palcos.

O show dos nova-iorquinos ainda preserva a animação da pista indie que estamos acostumados. Porém, não é um show pra dançar do início ao fim. Em “Face of God”, senti a experimentação da banda com as músicas do novo disco e percebi que talvez algumas pessoas não estivessem preparadas para novidades mais intensas. “I Need A Doctor I Hope Time Doesn’t” propôs uma experiência estranha e bonita com a dança de Jonny enquanto ele cantava “And you hold my hand…”. Uma cena fortemente indie e com uma resposta melhor ao som do disco recente, ainda incompreendido e muito criticado. Mesmo sem conseguir acompanhar a letra, os fãs prestaram atenção aos riffs e acompanharam Jonny nas palmas enquanto Jacob se manteve concentrado no teclado. Nessa música ficou ainda mais claro que o show dos meninos de Nova York também pode fazer você chorar.

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“How It Ended” embalou o segundo coro da noite e traduziu perfeitamente a vibe do show inteiro. A energia da banda e do público ficou contida até essa música, quando o vocal de Jonny se sobressaiu e Jacob dançou muito. A noite deveria ter começado nesse momento, com essa animação explosiva, mas foi exatamente quando ambos se retiraram do palco. E foi uma estratégia linda para deixar os fãs com gosto de quero mais. Afinal, ainda faltaram alguns hits, como “Let’s Go Surfing”.

Em poucos segundos, o vocalista retornou sem sua jaqueta vermelha cintilante. Ele chegou em frente ao palco, estendeu seu braço para cumprimentar a plateia e se agachou para começar a cantar “Forever and Ever Amen”. Em seguida, chegou o momento em que Jonny anunciou o hit mais esperado do set, gritando “Go, São Paulo!”. Foi o início de “Let’s Go Surfing” (ufa!), quando o público ficou saltitante outra vez a banda supriu a expectativa de todos presentes, que responderam com muitas palmas e um coro alto.

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A noite fechou com uma música perfeita para despedidas. “Down By The Water” foi um dos melhores momentos do show. Jonny mostrou uma força incrível no vocal e tocou no coração de muita gente que estava lá. Com esse desfecho fofo, o frontman se despediu: “Obrigado, São Paulo. Amamos vocês. Viemos de New York City”.

O show do The Drums é um show para fã de verdade curtir. Aos que conhecem os hits das pistas de baladas pop indies, a apresentação da dupla talvez possa decepcionar. E não só pelas canções dos discos passados, mas por esperar que o set list dos nova-iorquinos seja um verdadeiro carnaval. E, um detalhe importante: aquela história das influências pós-punk anos 80, acho que a dupla não conseguiu passar.

A essência indie é visível e ela que transforma a performance em uma linda e estranha experiência. E é óbvio que os dois aproveitam muito isso, se permitindo curtir a brisa dos sons enquanto outros músicos executam bases e riffs. É uma forma genial de segurar todos os instrumentos e efeitos que compõem as músicas e a dupla ficar livre para aproveitar a brisa ao vivo do seu próprio som. Jonny e Jacob mantêm seus movimentos leves e robóticos o tempo inteiro, sempre com uma dança de ritmo sereno no palco enquanto o público em sua frente pula num contraste agitado. E tudo isso fez esquecermos do problema de som do Cine Jóia, que sempre deixa a desejar.

Resumindo: foi bonito, foi estranho, foi indie e não foi pós-punk anos 80, como muita gente por lá parecia esperar.

Confira o set list abaixo:

Bell Labs
Let Me
Me and the moon
Days
I can’t Pretend
Kiss me again
Book of Stories
Best Friend
U.S. National Park
Book of Revelation
Face of God
I Need A Doctor I Hope Time Doesn’t
How It Ended
Forever and Ever Amen
Let’s Go Surfing
Down By The Water

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10/11/2014

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