Entrevista | A quarentena de Baco Exu do Blues

31/03/2020

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Wilmore Oliveira/Divulgação

31/03/2020

Panelaços, Big Brother Brasil, tesão, otimismo, angústia, Cardi B, WhatsApp, quem pode ficar em casa, quem é obrigado a sair. O hoje. Talvez não tão bem acabado, sem intenção de ser polido, mas um registro pessoal que apreende em si o agora. O novo EP Não tem bacanal na quarentena -lançado ontem, dia 30 de março, no Youtube, e hoje, 31, nas plataformas de streaming – de Baco Exu do Blues é um testemunho do rapper sobre a experiência do isolamento social.

Em 8 faixas, o baiano tangencia os aspectos individuais e coletivos do que é poder e ter que ficar em casa como medida de redução de danos causada pela pandemia do novo coronavírus, o covid-19. Explorando a liberdade e a impotência, a escolha e a renúncia, a insegurança e a segurança, o EP é fruto desse momento quase distópico que se tornou cotidiano. As letras até podem dividir opiniões, por fazerem críticas ao Governo Federal e por tratarem de temas como o BBB #20, mas o registro é um exercício criativo em tempos de crise. No dia em que soltou a novidade, conversamos com Baco Exu do Blues sobre sua quarentena, o processo de criação, o porquê de falar sobre o Big Brother Brasil, a potência da arte em tempos críticos e qual o seu mantra para se manter otimista. Ouça o EP e leia agora na sequência:

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Baco, há quanto tempo você está em regime de quarentena?
Não sei quantos dias exatamente, mas um pouco mais do que a maioria das pessoas porque eu tava machucado, então, eu não tava conseguindo sair de casa. Aí, quando eu acabei ficando tranquilo de saúde, a parada já tava estourando e eu não podia mais sair também. 

Como e por que foi tomada a decisão de adiar Bacanal, seu terceiro disco de estúdio?
Bacanal tem uma grande importância para mim e pra todo mundo que tá envolvido, então, acho que merece um pouco esse tempo de espera, saca? Eu não queria lançar o Bacanal em tempos tão problemáticos e urgentes quanto o momento atual. 

Você gravou o novo EP Não tem bacanal na quarentena em três dias, meio que de improviso, num ímpeto criativo. Como foi esse processo? Esse processo foi muito doido porque montamos um estúdio aqui em casa, eu e o Dactes [engenheiro de som que o ajudou na montagem do home studio], que já tinha produzido umas paradas minhas antes do Esú (2017), que me gravou por muito tempo, e eu acabei trabalhando também com o Nansy, que fez o Esú quase que inteiro, e com DKVPZ, que já esteve presente anteriormente com Bluesman (2018). Trabalhei só com pessoas com as quais eu já tinha trabalhado, não trabalhei com ninguém novo, e acho que isso dá um pouco a essência das coisas, mas sem necessariamente ter uma ligação.  

O EP recém lançado parece ser um trampo super espontâneo. As temáticas chamam a atenção pela referência a temas acessíveis, como a rapper Cardi B, que virou um “meme do bem” com seus vídeos sobre o coronavírus, as críticas ao governo federal e até uma música dedicada ao Babu, abordando os casos de racismo que ele sofre dentro da casa do reality. Tocar em assuntos assim gera até uma certa incompreensão, né? Por que esses foram os assuntos que inspiraram você e por que você acha importante olharmos com atenção para essas figuras e acontecimentos? 
Eu acho que esses assuntos são os grandes símbolos que temos desse momento que a gente tá passando, saca? Então, acho que eu quis usar esses símbolos porque acredito que, daqui a um tempo, quando a gente olhar para trás e lembrar do que aconteceu, vamos lembrar deles também. É meio que uma forma de dar uma referência para as pessoas que vão ouví-lo futuramente sobre quando e como esse EP foi feito. Sei lá, pessoas que podem nem ter passado pela quarentena em si, saca? 

A arte tem sido nosso respiro em tempos de isolamento, através do consumo de filmes, séries, músicas e das incontáveis lives de artistas nas redes sociais. Qual a potência da arte em tempos de crise? 
A arte é o grande refúgio em momentos de crise, saca? Acho que o momento em que a gente tem que se internar em si mesmo, quando a gente fica isolado, a gente acaba ficando maluco. E a arte é a forma da gente não ser levado pela loucura 100%. 

Baco, para a gente fechar: qual tem sido o seu mantra para manter a crença de que dias melhores virão por aí? 
Ah, tem que repetir sempre que tudo vai dar certo. É isso. 

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31/03/2020

Brenda Vidal

Brenda Vidal