Entrevista | Clarice, suas letras não são chiques

16/06/2016

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Por: Amanda de Abreu e Camila Piccinini

Fotos: Divulgação

16/06/2016

Quem vê de fora, pode achar a Clarice Falcão um pouco confusa. Afinal, ela fez parte do Porta dos Fundos fazendo crítica em forma de graça, mas também estava na TV, cantando em comerciais. E aquelas outras músicas cheias de letras nada convencionais, recheadas de ironia sobre relacionamentos? Ah sim, esse era o CD. Mas ele não saiu em formato de CD, então era álbum. E agora já são dois. Sem falar dos vários filmes que mostraram o seu talento como atriz.

Mas é só chegar mais perto pra enxergar a simplicidade de Clarice. Em vez de escolher a carreira da sua vida aos 26 anos, deu voz para todos os seus dons. Hoje, afastada do projeto do Porta, faz sua segunda turnê, com o álbum Problema Meu. Por meio de palavras simples e diretas (e, impossível não repetir, irônicas), a moça mistura complicações dos relacionamentos modernos, autocrítica na medida certa, uma dose de discurso feminista e até uma paródia do sucesso dos anos 90, “L’amour Toujours“. Nenhum problema parece grande o suficiente para impedir Clarice de fazer sua graça.

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Os próximos shows da turnê Problema Meu acontecem em Curitiba (24/06), Porto Alegre (25/06), Belo Horizonte (2 e 3/7) e São Paulo (9/7). Veja como foi nossa conversa com ela abaixo:

Sabemos que você é bastante ativa nas redes sociais, principalmente no Twitter e no Snapchat. Sua interação é tão natural que facilmente confundimos a artista com um amigo querido. Esse seu posicionamento vem acompanhado de uma grande responsabilidade social, pois muitos movimentos (de jovens, feministas, LGBTs, por exemplo) citam seu trabalho. Que impacto você acha que seu trabalho traz para o seu público e que mensagem você faz questão de passar?
Eu me interesso muito por feminismo, direitos LGBT, políticas sociais, etc. Então costumo mesmo falar sobre isso. Acho ótimo: faço alguns jovens se interessarem por assuntos pelos quais eles não se interessariam de outra forma e ao mesmo tempo aprendo muito com eles sobre tudo isso. No fim das contas, é uma troca bonita.

O Brasil conheceu uma Clarice em Monomania mais romântica e sonhadora, mas que já possuía uma forte originalidade. Em Problema Meu, percebe-se uma evolução do processo de entendimento dos conflitos individuais que todos nós temos. É o caso de “Vagabunda”, que mostra que você já se familiarizou com os problemas do amor e não tem medo de falar sobre eles, pelo contrário, brinca com eles. Quais as mudanças mais fortes que você sentiu no processo de criação de um álbum para o outro?
Acho que no Monomania eu ainda estava tentando encontrar minha voz como compositora. No Problema Meu, ainda acho que não encontrei, mas desisti de tentar.

Os artistas geralmente têm a sensação de que as turnês vão melhorando com o tempo, já que vão aprendendo com os erros e amadurecendo. A sua turnê de Monomania foi uma experiência completamente nova e deve ter sido um grande aprendizado pra você. Agora que vocês já estão mais experientes, como seria a sua turnê perfeita? O que você já sabe que quer e não quer fazer de novo?
Eu continuo nervosa igualzinha, agoniada igualzinha, me enrolando com o fio do microfone igualzinha, esquecendo as letras igualzinha. Mas aprendi uma coisa com as viagens do Monomania: levar um violoncelo na turnê é problema pra vida toda.

Qual foi o seu processo de criação das trilhas de Problema Meu? Existe alguma história por trás de cada letra ou você simplesmente senta e começa a escrever o que dá vontade quando bate a inspiração?
Cada caso é um caso. Algumas músicas foram baseadas em fatos reais, como “Marta”, “Vagabunda” e “Clarice”. Outras são totalmente ficcionais, como “Irônico”, “Como É Que Eu Vou Dizer Que Acabou”, “Vinheta”.

Sabemos que você não é o tipo de artista que se prende a uma forma de arte e segue ela pro resto da vida. Mas mesmo com essa sua personalidade inquieta e curiosa, acreditamos que a Clarice atriz e a Clarice cantora vão continuar nos presenteando com seus trabalhos, certo? Se você pudesse definir o seu caminho daqui pra frente sem os imprevistos da vida, quais sonhos você gostaria de ver realizados? Quais parte da sua carreira multifacetada você quer levar sempre com você?
Eu gosto muito de tudo que eu faço, e acho que preciso fazer um pouco de cada coisa pra ser feliz. Se eu passasse minha vida só escrevendo, me sentiria um pouco sozinha. Se passasse minha vida só atuando, sentiria falta do processo criativo solitário. Se eu passasse minha vida compondo/cantando, sentiria falta de contar histórias puramente narrativas. Ainda quero muito escrever um musical. E um livro, quem sabe.

Suas músicas apresentam um conteúdo original extremamente contagiante e que soa para o público como um grande reflexo da sua personalidade. Mesmo com letras simples e até cômicas muitas vezes, você sente que usa a sua música pra se comunicar com os seus fãs?
Eu adoro comunicar. No processo de compor as músicas, a minha primeira preocupação é “está comunicando?”. Talvez seja por isso que minhas letras sejam tão simples e quase sempre contem uma história.

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16/06/2016

Amanda de Abreu e Camila Piccinini