#bqvnc | O candomblé de Ordep

08/08/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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08/08/2014

A Bahia é uma terra muito inspiradora pela sua rica cultura afro-brasileira. Berço de grandes músicos como Gilberto Gil e Caetano Veloso, a terrinha também tem frutos mais carregados nos riffs pesados, como Pitty e Ordep.

Foi com o Lampirônicos, banda que ele ajudou a fundar e permaneceu até 2005, que Ordep conheceu a Europa em turnê. Já em São Paulo, o multi-instrumentista começou a tocar com Kiko Zambianchi, uma parceria que durou sete anos. No primeiro disco solo que Ordep acaba de lançar, o amigo Kiko participa da faixa “E Você”.

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Recheado de elementos do candomblé, o álbum homônimo combina batuques orgânicos com guitarras pesadas e algumas coisas eletrônicas. Ordep é como suas referências, sem rótulos. Assim como a música do Titãs, Gilberto Gil e Caetano Veloso, o som dele não cabe dentro de uma caixa. Ordep também usa da mesma receita do Raimundos em faixas como “Crer Pra Ver” e mistura sua sonoridade nordestina com riffs e bateria marcados. Tudo em um disco abençoado pela natureza.

No próximo dia 14, às 22h, acontece o show de lançamento do disco, com a participação de Kiko Zambianchi, no Centro Cultural Rio Verde, em São Paulo.

Como a Bahia te inspira musicalmente?

Nascido, filho de lá, eu tenho contato com todas as manifestações culturais da cidade, do estado, e isso a gente cresce vendo e participando de festa de Largo, que nós herdamos dos africanos. Isso tudo é muito presente em Salvador, na minha terra. Como tem também rock. Tem as pessoas da arte do lado B, que a gente costuma falar. Eu sou muito encantado com a musicalidade nordestina.

E de onde vem os elementos eletrônicos do disco?

Eu gosto muito dessa coisa da tecnologia, da gente tirar proveito dela pra fazer música. Eu sou produtor de áudio, então eu tô sempre em contato com esses equipamentos. Eu sou meio que fascinado em música eletrônica. Do ritmo da “música eletrônica” eu curto algumas coisas, mas eu gosto mais é do equipamento que a gente utiliza pra desenvolver essa sonoridade.

Como é seu processo criativo?

Eu geralmente quando eu vou compor uma música, eu componho sempre com um violão, papel e caneta. Depois eu chego na produtora onde eu trabalho e começo a visualizar. Eu aprendi a tocar guitarra, baixo, bateria e violão juntos. Só o bandolim que foi meu primeiro instrumento que eu comecei a tocar quando era criança. Então eu tenho tudo muito claro na minha cabeça. Quando eu começo a compor uma música de violão, eu já sei como vai ser a bateria, a linha do baixo,… é um negócio bem esclarecido, normalmente. Quando eu parto pra esses instrumentos virtuais que uso, eu fico pirando em um monte de coisa em cima de uma base que eu já sei como que vai soar no resultado final.

O candomblé está muito presente tanto no instrumental quanto nas letras do disco. Qual a sua relação com a religião?

Eu sou do candomblé. Meu padrinho é ogan do primeiro terreiro de candomblé do Brasil e foi quem me apresentou a religião. Eu me oriento com uma pessoa que é muito antiga na religião. Eu procuro passar um pouco da liturgia do negócio. A música “Batuqueiro” ela fala dos preparativos de uma festa no terreiro de candomblé e fala um pouco dos cânticos, porque todas as rezas do candomblé são cantadas. Então, é uma forma de contar um pouco o que acontece nas festas de orixá.

Tem outra música que se chama “Alafiá” que fala sobre uma consulta que eu fiz ao jogo de búzios. Eu canto um pouco em iorubá também, tentando incentivar as pessoas a conhecerem um pouco mais essa cultura. O candomblé é culto ao corpo, à natureza. Os orixás não são nada menos que elementos da natureza. Essa coisa do ancestral divinizado nada mais é do que um ser humano que em tempos remotos aprendeu a manipular uma parte de certas forças da natureza, cultuando e assim chegando ao que chamamos hoje de candomblé. Essa é a explicação dos antigos.

Você é uma pessoa que gosta de estar ligada com a natureza, como faz pra manter essa ligação em uma cidade como São Paulo?

A família que eu tenho aqui tem um sítio muito bonito com montanha, tem um riozinho que passa dentro. De vez em quando eu vou pro litoral. E na minha terra, a casa da minha mãe é, praticamente, em frente à praia. Então quando eu posso eu to em Salvador também.

“É Hora do Chá” fala sobre uma experiência que você teve com o chá de ayahuasca. Você teve que passar por algum tipo de ritual para isso?

Essa seita da União do Vegetal que eu fui convidado tem quase no Brasil inteiro. Foi uma experiência quase na íntegra, porque só um pouquinho me inspirou a fazer essa música (risos). Na União do Vegetal, você precisa ser convidado por uma pessoa que tem mais de um ano de casa, que já é considerada membro desse grupo. E tem um dia especial dedicado às pessoas que vão tomar pela primeira vez, e eu fui em um desses dias (risos). Eu fui por causa do meu compadre. Como eu sou curioso com essas coisas ligadas à espiritualidade, ainda mais quando se trata de um chá milenar, acabei indo.

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08/08/2014

Revista NOIZE

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