Entrevista | Edgar: de olho no mundo pela janela do absurdo

18/12/2018

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Divulgação/Bruna Paulin

18/12/2018

Edgar, primeiro nome de batismo do multiartista paulista, é capaz de concentrar a pluralidade e a polissemia de um dos músicos mais instigantes da cena de rap brasileira. Visceralmente experimental, Edgar é um artista de fronteiras, não de limites.

Essa visão ampliada e descolada da zona de conforto diz um pouco do lugar do qual Edgar fala. Filho de pernambucanos que migraram para a São Paulo, ele cresceu na periferia de Guarulhos. Os ouvidos se acomodaram com os ruídos do dia a dia urbano, do funk das comunidades, do rock’n’roll que ecoava do quarto do irmão, das músicas folclóricas e nordestinas do pai entre outras influências sonoras que fazem do músico um apaixonado por ritmos.

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No quarto disco da carreira, Ultrassom (2018), lançado meses após sua ótima participação na faixa “Exu nas Escolas” em Deus É Mulher (2018), disco de Elza Soares, ele faz um mergulho caótico e – por vezes, angustiante – na concretude do distópico. Enredando política, meio ambiente, sociedade, antropologia, tecnologia, saúde e vida no século XXI, ele expõe as frestas das loucuras disfarçadas de cotidiano e das realidades disfarçadas de loucura. Um relato lúcido de quem despertou da anestesia da vida moderna e que entende que o presente não se esgota, mas sim, projeta o futuro, em um cenário onde o consumo e o descarte se transformam em palíndromos.

Ultrassom carrega a estética para além do som. Edgar, calcado na arte performática, amplia seus discursos para o formato dos shows e para os figurinos, feitos por ele mesmo, como nós pudemos assistir no show que ele fez recentemente no festival Kino Beat. O penso do disco foi dividido com Pupillo, baterista da Nação Zumbi e produtor do álbum, que conta com as participações de Céu e Rodrigo Brandão. Dê play no disco e confira a conversa que batemos com o rapper-performer-artista-letrista na sequência:

Você já foi considerado um “profeta do apocalipse” pelas letras-poesias-rimas presentes em Ultrassom. Você denuncia os absurdos da modernidade, das violências de todas as ordens, usando às vezes até uma espécie de humor ácido. Como você definiu essa linguagem para falar de temas tão caóticos, ambíguos e pesados?
Não me considero um profeta porque não quero ter discípulos. É uma linguagem ainda em processo de mutação indomável e que se comunica, sim, com as pessoas que ficam colocando a mira pra sua arma, chamada ‘ódio’, no próximo cidadão depressivo que se apresenta disposto a acreditar em tudo que se escuta na televisão, a tiazinha do WhatsApp, o opressor e o oprimido.

Seu trabalho de performance e figurinos veio junto ou depois das composições? Como você avalia a força dos elementos visuais para transmitir o seu som?
Primeiro veio a música e, em paralelo, eu fazia as máscaras, as roupas e até o chapéu e customização dos tênis. Só que depois de um tempo eu comecei a unir todos os elementos, tanto pra clipes quanto para projeção e shows ao vivo.

Alguns lêem a música Ultrassom como o anúncio de um futuro distópico. Mas, sinto que você fala muito mais do presente, da construção desse futuro, e de algo mais cotidiano e concreto do que distópico. Você acha que fala de futuro ou de presente?
Eu falo sobre o presente que vem chegando hoje de noite e reverbera na manhã do amanhã. São coisas que eu noto no dia a dia e nas conversas com meus amigos — não são pesquisas, são desabafos.

Como foi a construção do conceito sonoro em que rap, música eletrônica e experimentalismo se conectam?
Foi natural no meu rolê, lugares que eu passei e festas que eu fui. Somam no meu imaginário sendo a trilha sonora das letras e no que está na minha memória junto com a do Pupillo. A busca é abrir uma nova trilha de timbres.

Em 2018, você lançou Ultrassom, além de participar do disco Deus É Mulher, da Elza Soares, na faixa “Exú nas Escolas”. Como você vê a sua carreira e a sua fase neste ano, depois desses dois marcos?
Esse foi um ano muito importante; foi a colheita de muitas sementes plantadas pra muita gente no planeta Terra. As eleições deixaram alguns amigos abalados. De fato o joio se separou do trigo, socialmente falando. Agora, artisticamente, ter ganhado o prêmio SIM Novo Talento com Luedji Luna mostrou que temos que nos unir cada vez mais e triplicar nosso posicionamento. Foi um ano de conquistas porque os anteriores e os próximos foram e serão de lutas.

Ouça abaixo os álbuns anteriores de Edgar, disponíveis apenas no YouTube:

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18/12/2018

Brenda Vidal

Brenda Vidal