Aluna Francis fala de racismo, disco novo do AlunaGeorge e o dilema de usar pouca roupa

19/01/2015

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Ariel Fagundes

19/01/2015

Um dos headliners do MECA de 2015, a dupla londrina AlunaGeorge vem chamando atenção com acordes e batidas que não deixam ninguém ficar parado. Formado por Aluna Francis e George Reid, a banda nasceu quando eles decidiram sair de seus antigos grupos, o My Toys Like Me e Colours, respectivamente. Pouco antes de chegar ao Brasil, conversamos com a vocalista Aluna sobre sua relação com o multi-instrumentista George e as novidades do grupo. Aproveitamos para trocar uma ideia com ela sobre os desafios de ser uma mulher negra no mundo da música, confira abaixo.

Vocês se conheceram porque George queria fazer um remix de uma música do My Toys Like Me, né? Como vocês se deram conta de que poderiam fazer uma banda juntos?

*

Foi quando nós começamos a nos encontrar com mais frequência. A gente foi curtindo cada vez mais a companhia um do outro e partimos daí.

E como o pessoal do My Toys Like Me lidou com a sua escolha de sair da banda? E o Colours, sobre o George…

O George só saiu do Colours. Comigo, a banda deu um ultimato e eu saí. Fiquei feliz comigo por isso.

AlunaGeorge no MECA de Maquiné/RS (Foto: Ariel Fagundes)

AlunaGeorge no MECA de Maquiné/RS

É verdade que já na primeira vez em que você e George tocaram juntos compuseram “Double Sixes”? Como vocês se sentiram naquele momento?

É. A gente estava apenas experimentando e se conhecendo melhor. Foi uma coisa muito sincera. George não estava muito feliz com a música e, na época, ele pensava em fazer um EP. E eu fiz só umas gravações em torno do que ele havia composto. Foi bem aquela coisa de ver o que dava para ser feito.

Como vocês se completam musicalmente? O que a Aluna dá para a música do George e vice versa?

Isso é um processo muito orgânico. Quer dizer, obviamente eu canto e o George faz a produção. Mas todo o resto é uma experiência que nós compartilhamos juntos. Nós sempre estamos juntos no estúdio, nós conversamos sobre absolutamente tudo, compartilhamos sons que estamos ouvindo… Mas eu não sento no computador dele.

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A capa do seu single Supernatural mostra a imagem de uma gangorra. É de alguma forma um símbolo do equilíbrio que existe entre vocês dois?

Eu acho que foi só uma oportunidade de mostrar essa forma típica de colaboração constante entre duas pessoas. Porque se você está numa gangorra, você tem que se equilibrar com a outra pessoa.

E é fácil chegar nesse equilíbrio entre você e o George?

Eu não diria que é fácil. Mas é constantemente interessante e divertido. É como se fosse uma brincadeira!

Deixa eu comentar uma coisa. A música pop dos Estados Unidos às vezes soa um pouco ingênua para mim, enquanto o pop britânico parece que tem um lado mais obscuro. Você concorda?

Possivelmente sim… Definitivamente os artistas britânicos são bem diferentes dos americanos. Os britânicos são mais depressivos, mais obscuros mesmo, na sua atitude e nas coisas que criam. Os americanos tendem a ser mais otimistas e alegres, isso deve afetar a música de alguma forma mesmo. Eu acredito que você sempre ouve a música de outros países a partir da perspectiva de onde você está. Nós ouvimos a música americana de uma perspectiva diferente da que os americanos têm.

George toca guitarra, piano… Vocês já pensaram em incluir instrumentos analógicos no som do AlunaGeorge?

Sim, na verdade no nosso segundo disco nós usamos guitarras, teclados e outros instrumentos para serem tocados ao vivo.

O próximo disco já está a caminho?

Com certeza! Viemos trabalhando nele durante o ano passado inteiro. Nós esperamos conseguir lançar ele nesse ano. Eu só não sei dizer se será na primeira metade do ano ou na segunda.

AlunaGeorge no MECA de Maquiné/RS (Foto: Ariel Fagundes)

AlunaGeorge no MECA de Maquiné/RS

George já disse como se sente incomodado com o fato de que as redes sociais matarem um pouco da mística que existia em torno dos artistas antigamente. Para você, é difícil dar conta de tantas redes sociais?

É difícil. Toda essa indústria da música é um desafio constante para mim.

Qual é o maior desafio que você encontra na indústria da música?

O maior desafio provavelmente é quando você quer lançar sua música e talvez ela não seja uma música tão pop assim. Você é constantemente desafiado pela possibilidade de ninguém ouvir sua música. O maior medo é que as pessoas não escutem seu disco, ainda mais quando ele não tem um super hit.

Você é uma mulher e você é negra. Eu não sei como é na Inglaterra, mas aqui no Brasil não é fácil ser uma mulher negra. Você já enfrentou obstáculos na sua carreira por causa disso?

Eu acho que você pode resolver encarar de frente esses desafios… ou pode ignorar eles! (Risos) Mas com certeza existem desafios por causa disso.

Existe racismo na indústria da música?

Bem… Eu não diria que o racismo deixou de existir ou que a indústria da música não é mais afetada pelo racismo de nenhuma forma. Mas também não é mais uma questão de “preto-ou-branco”, como já foi. O racismo é uma doença que afeta a todas as pessoas.

E quanto ao papel da mulher na indústria da música?

Eu acho que as mulheres têm um papel importante na indústria da música. Às vezes há uma cobrança para que elas tenham um ponto de vista perfeito, o que nem sempre conseguimos sustentar porque somos humanas como qualquer pessoa. Acho interessante que as pessoas cobrem que as mulheres equilibrem perfeitamente suas habilidades e suas opiniões, e quando isso não acontece todos ficam chateados (risos). Isso é engraçado…

Você já sentiu incomodada com a exposição com que uma artista tem que lidar? Até mesmo a exposição do seu corpo.

Com certeza é algo que você tem que encarar e pensar a respeito. Você tem que navegar constantemente entre o que as pessoas esperam que você faça e o que você sente que quer fazer. Porque às vezes as suas ações parecem que são escolhidas por você mesmo, mas na verdade foram motivadas pelas expectativas dos outros. Às vezes você faz alguma coisa, mas não tem total controle sobre ela… Essa é uma reflexão constante. Por exemplo, quando eu estou tocando, fica muito quente em cima do palco. Se você é um esportista, usa uniformes e roupas curtas e isso não é tido como sexy. Mas se você usar alguma roupa assim no palco parece sexy. E eu acho legal expressar sua sexualidade, mas tem muita confusão em torno disso. Você tem que ficar atento a como as pessoas estão reagindo. E eu acho que é bem difícil conseguir controlar essa reação.

AlunaGeorge no MECA de Maquiné/RS (Foto: Ariel Fagundes)

AlunaGeorge no MECA de Maquiné/RS

E como você se sente vindo para o Brasil?

Eu acho que vou me sentir muito bem no Brasil, não sei exatamente por que. As pessoas daí gostam muito de dançar e a habilidade de dançar diferentes tipos de música é inspiradora. Acho que vou estar em muito boa companhia aí! Se preparem para descer até o chão!

Algum recado para os fãs daqui?

Se preparem para descer até o chão!

O AlunaGeorge toca ainda no MECA em Inhotim e São Paulo nos dias 23 e 24 de janeiro.

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19/01/2015

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Ariel Fagundes

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