Logo mais o Brasil inteiro vai parar para ver o jogo da seleção contra a Alemanha, inclusive BNegão. O músico acabou de lançar o single “Reclaim the game (Funk Fifa)” com o grupo inglês Pop Will Eat Itself criticando duramente a Fifa. Mas o cantor faz questão de deixar claro que seu problema é com a entidade que organiza a Copa do Mundo, e não com a Copa em si. Trocamos uma ideia com ele sobre isso e ficamos sabendo das novidades do Seletores de Frequência e do Planet Hemp. Vai rolar um disco instrumental ainda em 2014, quem sabe até um DVD. Veja abaixo:
Como você conheceu o pessoal do Pop Will It Itself? Como surgiu a ideia de fazer essa faixa juntos?
Sou fã dos caras faz muito tempo. Eles foram a primeira banda que juntou o eletrônico com o rock, a música “Def. Con. One” foi um hit pra galera das rádios alternativas do Rio e o refrão da música é “I Wanna Be Your Dog”. Depois de um tempo é que eu fui conhecer o Stooges. Um tempão atrás no Rio de Janeiro eu fiz uma jam session com um camarada chamado Marcelo Vig, que era baterista da minha banda Juliete na antiga. Ele morou muito tempo em Londres e trabalhou lá como baterista. E o cara que é vocalista do Pop Will It Itself mora metade do tempo no Brasil e metade na Europa e ele tava nessa jam também. Nos conhecemos ali. E quando surgiu essa ideia de fazer a faixa juntos, eu fiquei felizão.
“Reclaim The Game (Funk Fifa)” tem uma sonoridade bem eletrônica, até por causa dos caras do Pop Will It Itself. Como você se sentiu cantando nesse estilo?
Eu gosto pra caramba desse tipo de som, sempre ouvi. Em 1986, conheci o Kraftwerk e aquilo já entrou pra lista de preferidos, tenho vários discos deles, mesmo que não tenha aparecido tanto no meu trabalho. Tem várias coisas que eu ouço há muito tempo e não apareceram, certamente eu não vou fazer nada de música clássica, mas eu já ouvi tanta música clássica!
Sua música nova faz uma crítica super contundente à Copa do Mundo e à Fifa…
Não, à Copa do Mundo não. À Fifa.
E você está acompanhando os jogos da Copa?
Eu acompanho geral. A música fala sobre a Fifa, sobre essa instituição bizarra. A Copa do Mundo é uma parada muito foda, ainda mais com a nossa seleção jogando. Mas eu tenho a opinião de que o Brasil não poderia receber esse evento porque tem muitas outras prioridades para serem feitas aqui, sacou? Não é que eu não goste da Copa do Mundo, eu acho foda, sempre acompanhei. Só que uma Copa do Mundo é uma coisa que não se paga, ficam bilhões de rombo. O Brasil tem um monte de coisa precisando ser resolvida e, matematicamente, não tem como chegar perto de provar que a Copa do Mundo dá lucro pro país. O que a Copa dá é alegria pra população, o que eu entendo. É uma alegria pra galera, mas é uma falsa alegria, é tipo cartão de crédito. Você vai lá e gasta a maior grana e depois vem a conta.
Você está satisfeito com a forma que o evento tem sido conduzido aqui?
Em Belo Horizonte, teve essa obra que foi feita pra Copa e o viaduto caiu, construíram rápido e não botaram as vigas direito. Matou gente. Então, a parada é essa. A música fala bem sobre isso, sobre gente que ama o futebol mas não ama a Fifa. É lógico que eu tô acompanhando tudo. Tô prestando atenção, tem pessoas sendo presas, presos políticos, estilo Minority Report, sem mandato, sem ter nada. Mesmo amando o futebol e acompanhando os jogos pela televisão, não deixo de ficar de olho nisso.
O ano passado ficou marcado por uma série de manifestações no Brasil todo e nesse ano a coisa deu uma certa apaziguada…
Não! Não deu uma apaziguada, cara. É que rolou uma pressão contra a galera das manifestações muito forte, então é isso. Estamos nesse momento, mas daqui a pouco a coisa volta de novo. Com certeza, depois da Copa o bicho vai voltar a pegar.
Em 2012, você cantou no fechamento das Olimpíadas de Londres. Você se apresentaria em um evento da Copa do Mundo?
Nem fudendo! Tiveram diversos convites pra fazer propaganda, música, evento, um monte de coisa… Neguei tudo. A parada é essa: não quero me envolver com nada da Fifa. Acho bizarro, sabe? Acho inacreditável. Não tem como, pra mim, eu participar desse negócio.
Você poderia explicar um pouco esse sentimento?
Tá explicado na música. A letra tá ali.
[Na música, BNegão canta:
“Corrupção, dissimulação, pupila de cifrão
A Fifa é apenas igual a qualquer governo do planeta
A mesma linha ação
Dia e noite só botando no Fuleco da população”]
E quais são os novos planos do Seletores de Frequência?
Estamos fazendo shows, tá sendo do caralho. Vamos lançar um disco de música instrumental nesse ano, relançar os discos em CD e provavelmente em vinil também. O Sintoniza Lá (2012) saiu em vinil no ano passado lá em Londres e o Enxugando Gelo (2003) a gente tá querendo lançar também em vinil.
E o Planet Hemp? Vocês ainda vão sair em turnês ou a coisa tá em stand-by mesmo?
Tá em stand-by, mas como sempre. Minha banda é o Seletores de Frequência, o Planet hoje em dia é um projeto que acontece de vez em quando. Tem possibilidade de acontecer. Talvez role de sair o DVD que a gente gravou nessa última turnê, e saindo o DVD vamos fazer mais uns shows. Mas sempre com esse caráter de projeto, não como volta da banda.
Composições novas é algo impensável?
É. Impensável.
Então, valeu mesmo pela atenção…
Só pra finalizar: eu nunca deixo de torcer pela seleção brasileira, não consigo fazer isso. Tem amigos meus que torcem contra, eu entendo, mas não consigo. Eu tô sempre ligado, não vou baixar a cabeça e concordar com as coisas da Fifa. Eu sou tipo o João Saldanha, que é gaúcho, você conhece a história dele?
Puxa, não conheço…
Então meu irmão, para um pouquinho de escrever e vai ver o documentário que tem sobre ele. É um dos caras mais revolucionários do Brasil! Sabia tudo de futebol, procura aí! O cara é gaúcho e é um dos meus heróis. Revolução e futebol, tá tudo ali!
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Após a conversa, BNegão entrou em contato conosco e nos mandou o trailer desse documentário dizendo: “João Saldanha é figura central dentro da minha visão de futebol e de revolução”. A pedidos do músico, disponibilizamos o vídeo aqui: