Entrevista | Instituto cria um mosaico de sons histórico em “Violar”

19/10/2015

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Alexandre Orion/Reprodução

19/10/2015

Tony Allen, Sabotage, Criolo, Karol Conka, Otto, Kiko Dinucci, Tulipa Ruiz, Nação Zumbi, Curumin, Fred Zero Quatro, Juçara Marçal, Lanny Gordin, Sombra, BNegão, Fernando Catatau…

Parece um sonho, mas é a lista de convidados do disco novo do Instituto, Violar. Já disponível no Spotify, o segundo disco autoral do coletivo capitaneado por Rica Amabis e Tejo Damasceno é, sem dúvidas, um dos mais importantes de 2015.

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Considerando que o álbum anterior do Instituto, Coleção Nacional, saiu em 2002, passaram-se 13 anos até o Violar. “Fomos fazendo aos poucos pra ficar com a qualidade que queríamos. Em álbuns feitos com pressa, às vezes, percebo que várias peças ficam desencaixadas e só estão ali porque foi do único jeito que dava. Nós, como não tínhamos pressão, pudemos ir realocando tudo até ficar bom pra nós”, explica Tejo Damasceno. Já Rica Amabis lembra que a falta de pressa deixa tudo mais prazeroso: “Minha diversão mesmo é fazer a música, não apresentar-la, tanto que a gente nem faz show. Lógico que é legal lançar o trabalho, mas a construção, pra mim, é o processo mais divertido”, afirma.

Tendo envolvido mais de 30 músicos em suas faixas, Violar é um disco mosaico, onde cada pedaço de som é único. Coube à dupla do Instituto construir cada elemento e garantir que esse material diverso se encaixasse em uma mesma unidade estética. “É o nosso trabalho, né? Você vai lapidando o negócio todo. Ainda mais durante 13 anos”, brinca Rica. Tejo complementa:

– Nosso trabalho sempre foi juntar pessoas e fazer algo diferente com elas, nunca vamos chamar um artista pra fazer o que ele já faz. Mas, por exemplo, alguém como o Lanny Gordin, que era uma lenda pra nós, quando apareceu a oportunidade, a gente gravou! Não sei nem te dizer em que ano foi isso, talvez 2007. Nós também vamos atrás quando surge um artista novo, tipo a Karol Conka ou o Metá Metá, e vemos que ele tem o perfil parecido com o nosso. Sempre que convidamos, todos toparam. Porque o sentimento era recíproco, sabe? Mas existem músicos maravilhosos, talentosíssimos, que nunca vão gravar conosco porque não pensam igual, não estão no mesmo espírito. Temos esse cuidado até pra formar uma unidade no disco.

A primeira gravação de Violar foi feita por Lyrics Born no final de 2002, quando o rapper veio tocar no festival Indie Hip Hop. “Os headliners do evento éramos nós, Instituto e Sabotage, e o Lyrics Born. Aí ele adorou o Sabotage e quis fazer um som com a gente. “Seco” era, na verdade, uma música pro Sabotage, o Lyrics Born escreveu pensando que ele faria as rimas – só que ele faleceu um mês depois. Aí, com o tempo, fomos maturando a faixa e escolhemos o BNegão como o maior representante pra substituir o Maurinho”, conta Tejo Damasceno referindo-se ao nome de nascença do rapper assassinado em janeiro de 2003, Mauro Mateus dos Santos.

No fim das contas, o disco acabou contando com outra participação de Sabotage, a faixa “Alto Zé do Pinho”, composta pelo rapper em homenagem ao Chico Science. Essa música poderia ter entrado no seu disco póstumo, porém acabou sendo escolhida para o Violar. “Não encaixou no disco dele, foi uma parada que ele faria com o Instituto mesmo, saindo do rap e indo pro cancioneiro. Mas eu acho que o Sabotage tá atual como nunca, inclusive vejo muita semelhança entre o Chico [Science] e ele, ambos ficavam viajando nesses ambientes diferentes”, analisa Rica.

Ouça “Alto Zé do Pinho” abaixo:

A última gravação de voz feita pro Violar foi a da Karol Conka, para a faixa “Mais Carne”, e a guitarra do Kiko Dinucci na música “Isso é sangue”, ambas registradas no fim de 2014. “Colocamos essa guitarra e fechamos o álbum”, conta Tejo. Ele diz ainda que uma versão em vinil de Violar está pronta na República Checa e deve chegar ao Brasil até dezembro. Das 13 faixas do disco digital, o LP conterá 12: “Tiramos a faixa ‘Baía’ pra fazermos uma prensagem boa sem que precisasse ser um disco duplo. Até porque o Tony Allen já tinha lançado essa música em vinil na França. Lá saiu como ‘Bahia Beatz’. A gente achou o nome péssimo, mas foi uma escolha do Tony”, comenta Tejo.

Capa da versão em vinil

O Instituto conta ainda que todo o conceito de Violar foi feito em parceria com o artista Alexandre Orion: “Ele tá desde o começo, a música ‘Ossário’ foi feita pra um vídeo dele. Também fizemos ‘Polugravura’ pra outro trabalho dele e, depois, a parceria culminou na capa”, lembra Rica Amabis. “Primeiro, ele escutou o disco, desenvolveu a arte de capa, aí pensou num nome que resumisse toda atitude das letras do disco. Eu olho pra capa e vejo o álbum”, diz Tejo cheio de orgulho.


Por enquanto, Violar está disponível na íntegra apenas no Spotify, mas, no próximo dia 26, o álbum será disponibilizado para download no site do grupo. Abaixo, você encontra o disco completo e a lista de faixas com seus principais convidados.

Capa da versão digital do disco

Violar (2015)

“Polugravura” (com Tejo Damasceno, Pupillo, Dengue e Thiago França)
“Vai Ser Assim” (com Rica Amabis, Criolo, Junior Areia, Tony Allen, Lanny Gordin, Axé, Gustavo Da Lua, Thiago França e Fred Zero Quatro)
“Alto Zé do Pinho” (com Sabotage, Nação Zumbi, Otto, Sombra, Rica Amabis e Tejo Damasceno)
“Mais Carne” (com Tulipa Ruiz, Karol Conká, Rica Amabis, Tejo Damasceno, Alexandre Basa e Mike Relm)
“Na Surdina” (com Jorge du Peixe, Rica Amabis , Luca Raele, Dengue e Rob Mazurek)
“Bossa Chineva” (com Rica Amabis, Dengue e M.Takara)
“Pacto com o Mato” (com Curumin, Rica Amabis, Marcelo Cabral, Gui Amabis e Mike Relm)
“Tudo Que Se Move” (com Tulipa Ruiz, Rica Amabis, Lúcio Maia , Dengue e Gui Amabis)
“Seco” (com Tejo Damasceno, Rica Amabis, Lyrics Born, Joyo Velarde, BNegão, Thiago França e Klaus Sena)
“Ossário” (com Rica Amabis, Marcos Gerez, Tejo Damasceno, Fernando Catatau e Luca Raele)
“Isso é Sangue” (com Tejo Damasceno, Daniel Ganjaman, Rica Amabis, Kiko Dinucci e Jorge du Peixe)
“Irôco” (com Rica Amabis, Klaus Sena, Guilherme Held, Kiko Dinucci, Thiago França e Juçara Marçal)
“Baía” (com Tejo Damasceno, Thiago França, Tony Allen e Maurício Alves)

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19/10/2015

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Ariel Fagundes

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