Karol Conka avisa: “Tô lutando por uma causa e não vou me calar”

06/10/2015

Powered by WP Bannerize

Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação

06/10/2015

Uma montanha-russa de emoções tem cruzado a vida de Karol Conka. Preparando seu novo disco, que sairá no início de 2016, Karol foi confirmada hoje como a única rapper feminina do line-up do Lollapalooza Brasil do ano que vem. Além disso, a artista acabou de se envolver em uma polêmica ao denunciar o racismo da fala de Caíque Gama, da banda Fly, que disse em entrevista à Atrevida que tranças seriam a “salvação” para “quem tem cabelo ruim”.

Conversamos com Karol sobre a alegria do Lolla, o disco novo em parceria com o Tropkillaz e a responsabilidade dos artistas sobre as suas declarações. Veja abaixo:

*

Hoje saiu o lineup do Lollapalooza Brasil do ano que vem e você é a única representante do rap feminino nacional lá, como você se sente?
Ah, eu fico muito feliz pela indicação. É uma conquista pras mulheres do rap. Não só pras mulheres, mas pro rap em geral. É uma conquista poder chegar lá e mostrar meu trabalho, faz um tempo que eu lancei meu disco e ele tá sendo trabalhado até agora, as pessoas ainda estão descobrindo ele. Então é muito bacana estar nesse festival, eu tô muito, muito, muito feliz.

Nesse ano, o Lolla deu uma ênfase maior ao rap. Por que você acha que isso está acontecendo agora? O rap está chegando a espaços onde não chegava antes?
Vi uma pesquisa recentemente que dizia que o gênero mais ouvido hoje é o rap. E eu concordo. Quando fui pra fora, eu ouvia nas lojas, no rádio, é super pop o rap lá fora. Aqui, no Brasil, isso tá sendo esquematizado já tem uns três anos, que eu tenha percebido. Eu acho que é muito bacana porque essa é uma música que existe, que a população ouve, que gera lucro também. Querendo ou não, o rap agrada a muita gente. Acho que tem a ver com isso… E com a internet, que ajudou bastante a mostrar que essa é uma música super ouvida.

E sobre seu novo álbum, já tem data de lançamento prevista?
Sim, eu tô trabalhando nesse disco diariamente. Como viajo muito, tento sempre encaixar algumas horas dos meus dias pra me dedicar a ele. Vai sair no começo do ano que vem, mas antes eu pretendo lançar ainda uns dois singles.

E o que você pode adiantar sobre o disco?
Eu não gosto de mesmice, eu gosto de sempre estar estudando coisas em mim, sejam melodias, ou palavras, ou um jeito de rimar diferente… Provavelmente, esse disco vai ser bem diferente do Batuk Freak (2013). Todo aquele lance “Karol Conká” é de mim mesmo e não tem a ver com as batidas, então vai ter isso, mas vai ser diferente porque eu vou estar com uma nova direção, não será a mesma produção do Batuk Freak. Mas vai ter a mesma essência, com certeza! Nesse disco, o André Laudz e o DJ Zegon, do Tropkillaz, estarão trabalhando comigo.

E já tem nome definido?
Ainda não, todo dia eu penso em, no mínimo, três nomes. (Risos) Não tem nome ainda e vai ficar sem até o dia em que tivermos que fechar e não tiver como fugir.

Reprodução da revista “Atrevida”

Queria conversar um pouco sobre a polêmica que rolou em relação às declarações da banda Fly. Pra você, qual foi o maior problema na declaração deles?
Não é nada pessoal com eles, a gente tem que se posicionar quando vê uma coisa que tá sendo dita errada, ainda mais voltada pra adolescentes, que podem receber aquilo de uma maneira negativa. Assim como eu já recebi, na época em que eu era adolescente e vivi esse tipo de coisa. É só ler aquilo pra ver que é preconceituosa aquela frase, não tem o que dizer. E não é vitimismo, é uma luta. Eu tô lutando por uma causa e eu não vou me calar. Enquanto esse tipo de coisa for me incomodando, eu tenho que falar. Eu tô aqui pra ser porta-voz do meu público. Todo mundo sabe que eu tenho um público super diversificado. Sabe? Eu não posso simplesmente estar diante disso e ficar calada. Como se nada estivesse acontecendo. Eu acho que a gente tem que tomar cuidado com o que fala. Cada ação gera uma reação, a minha parte foi apenas uma reação. Mas não é nada pessoal contra a banda, e sim contra esse comportamento. Não achei bacana, não vou retirar nada do que eu falei, acho que a maioria das pessoas também se surpreendeu com aquilo e entendeu o que eu quis dizer com a postagem. Fiquei extremamente chateada. E mais chateada ainda quando eu vejo pessoas que têm preguiça de entender e simplesmente acham mais fácil dizer que eu é que estou querendo chamar atenção do que reconhecer a minha luta. Infelizmente, tem muita coisa que precisa ser reparada no Brasil. Enquanto tiverem artistas como eu, que se importam com a humanidade mesmo, com as pessoas, esse assunto vai ser trend topics. Mas não é uma questão de richa, a questão é que foi errado o que eles fizeram e eles tinham apenas que reconhecer o erro e não ficar dizendo que eu tô me fazendo de vítima ou que todo mundo tá exagerando. Não é um exagero. Tem postagens antigas desse membro da banda que comprovam o quanto ele foi infeliz nos comentários dele. Minha mãe sempre diz: “Ou a gente aprende com o amor ou aprende pela dor”. No caso dele, ele vai ter que aprender pela dor.

NOSSO CABELO CRESPO É LINDO! <3Ninguém diz como nós, mulheres, devemos nos comportar! Menina se comporta como ela quiser!Charge: Vini Oliveira

Posted by Karol Conka on Segunda, 5 de outubro de 2015

E sobre a responsabilidade do artista, como você lida com esse papel de ser porta-voz de tantas pessoas?
É, eu aprendi a postar, mas sobre certas coisas que me incomodam, gosto de deixar claro o que eu tô sentindo. Meus fãs ajudam, eu tenho uma relação muito boa com eles. Eles conversam comigo e, quando tem alguma coisa que os incomoda, eu recebo muitas mensagens. E eles me cobram muito, tipo: “Olha isso que tá acontecendo”. Às vezes são coisas que me chateiam e chateiam grande parte do meu público, aí eu tenho que fazer alguma coisa, é uma responsabilidade muito grande e eu tenho que assumir. É uma coisa meio difícil, mas você tem que aprender a assumir as coisas.

Você acha que estamos vivendo um tempo de melhora sobre esses assuntos ou é apenas um momento em que as coisas estão vindo pra fora, e aí é que surgem os conflitos? Eu fico bem em dúvida.
É, eu também. Eu fico um pouco assustada. Não sei, acho que a internet é muito louca. (Risos) Eu acho muito boa a internet, mas é muito louco como as pessoas piram ali e falam coisas… Eu já vi situações em que a pessoa vê o meu trabalho e pira e fala uma coisa nada a ver. Dá até dó da pessoa, mas você vai fazer o quê? É a era da internet. Eu acho que por um lado é bom, mas todo lado bom tem um lado ruim. Então, eu também fico em dúvida sobre o que é essa nova era.

Tags:, , , , , , ,

06/10/2015

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

Ariel Fagundes