Na metade final da década passada, entre tantos sites de party photos existentes na Internet, um ganhou status de fenômeno mundial no meio alternativo. The Cobra Snake, pseudônimo do californiano Mark Hunter, influenciou fotógrafos, por desprezar cliques posados, e fashionistas, por mostrar a moda de vários lugares do mundo em sua forma mais livre e desprendida de critério. Sempre à procura de festas malucas com pessoas diferentes, no último final de semana, em sua segunda passagem pelo Brasil, ele esteve em Atlântida para expor suas fotos praianas e registrar o MECA Festival, onde fez amigos, curtiu o mar e conversou conosco.
Texto por Maria Joana Avellar
As fotos publicadas por Mark já ajudaram a revelar talentos, ou, ao menos, a ampliar sua exposição. Em sua primeira visita ao país, publicou em seu site imagens da modelo curitibana Alicia Kuczman, que, talvez por coincidência, foi recordista de desfiles no São Paulo Fashion Week do ano passado. Sua descoberta mais conhecida foi sua ex-namorada Cory Kennedy que se tornou mundialmente conhecida graças a ele e, já que os acessos do site iam às alturas toda a vez que postava uma foto dela, investiu em tornar-se uma estrela. Hoje, Cory está um pouco esquecida, mas ainda honra o status de it girl modelando ao lado de nomes como Peaches Geldof e Alice Dellal.
O trabalho de Mark também ia ao encontro de uma fase importante para a música do nosso tempo. Na época, muitos sentiam, talvez de forma ingênua e precoce, que uma de suas vertentes mais importantes começava a tomar sua forma concreta. A reinventada fusão entre o rock e a música eletrônica, e a consagração de bandas e artistas que uniam a ousadia dos dois gêneros, parecia gerar frutos tão inspiradores quanto definitivos. Nas fotos de Mark, esse momento é representado pela atitude “a festa nunca termina” de Steve Aoki (www.myspace.com/steveaoki), DJ de Los Angeles precursor do Maximal e queridinho de Hollywood.
Por fotografar despretensiosamente, como um fotógrafo infiltrado em uma festa invejável, Cobra ganhou o mundo. E se por um lado o conceito de festa e atitude que ajudou a criar soa superficial e adolescente, por outro, sua personalidade simpática e acessível parece fazer parte de um universo bem menos glamoroso. Confira a conversa que tivemos com ele em sua passagem por Porto Alegre para expor e registrar o MECA Festival.
Você gostou do festival? Vi muita gente falando com você…
Sim. Fiquei surpreso que no sul do Brasil existam tantos fãs do Cobra Snake. Também gostei de Porto Alegre. Não fui a muitos lugares, mas adorei o Beco, onde vi o show de uma banda cover de Beatles. Conheci a Pink Elephant na minha primeira noite aqui e achei horrível.
Qual a melhor e a pior coisa do seu estilo de vida?
A melhor coisa é que viajo para todos os lugares, conheço muita gente, fotografo shows de bandas que amo, vejo mulheres lindas e incríveis do mundo inteiro… Mas é difícil porque nunca estou em casa, não tenho uma vida normal. Estou sempre em aviões, às vezes fico doente de tanto viajar. Não é tão glamoroso quanto pode parecer, mas ainda me sinto muito afortunado por poder viajar tanto e conhecer o mundo inteiro com o meu trabalho.
E você tem uma casa incrível que nem aproveita tanto…
É, eu tenho uma casa legal.
Eu conversei com Steve Aoki no ano passado e ele falou muito bem de você. Vocês ainda são próximos?
Sim, nós já rodamos o mundo juntos, acho que o Brasil é o único lugar em que não estivemos ao mesmo tempo. Mas vamos a Austrália para uma grande turnê em março e há pouco estivemos na África, passamos pelo Canadá, Las Vegas e todo os Estados Unidos. Ele é meu melhor amigo, eu o amo.
E a Cory? Por que ela sumiu de repente?
Ela foi morar em Nova York e eu a vejo muito de vez em quando. Nos vimos pela última vez na semana de moda de lá. Mas ela tem um blog onde publica muitas fotos. Ela ainda tira muitas fotos.
Ela está mais quieta agora, não?
Sim.
Eu queria saber o que te inspira…
Eu me inspiro pelas pessoas ao meu redor. Me faz feliz ver gente feliz e curtindo. Ontem, no MECA Festival, foi lindo ver todos cantando junto com Two Door Cinema Club e Vampire Weekend. É tão incrível que a música esteja viajando pelo mundo inteiro e, no Brasil, mesmo a língua não sendo o inglês, a galera sabe as letras e canta as canções. Isso é muito inspirador para mim. E acontece o mesmo em relação às minhas fotos porque eu sei que muita gente aqui entra no meu site. É muito empolgante que a tecnologia e a Internet deixem tudo com um alcance universal. Fico feliz que o que acontece aqui pode ser visto em Los Angeles e Tóquio. É muito internacional.
Qual teu diferencial em relação aos outros fotógrafos de vida noturna?
Eu trabalho há muito tempo, já tenho o site há sete anos, e viajo como um condenado. Eu não sei se no Brasil ou nos Estados Unidos os fotógrafos costumam sair das cidades para fazer fotos, mas para mim isso é o mais importante. Eu quero ver e mostrar o mundo inteiro, não apenas Los Angeles. Eu quero estar sempre descobrindo algo novo, se eu fico em apenas um lugar é mais difícil. Tenho orgulho de estar sempre me movendo e procurando.
Então você se entedia facilmente?
Eu tenho um problema de déficit de atenção, estou sempre pensando em mil coisas ao mesmo tempo. Não é que eu me entedie, mas minha mente é maluca. Por isso a fotografia é tão boa para mim. Eu sinto que consigo estar e fazer parte de várias situações simultâneas.
Eu procurei a resposta para a próxima pergunta na Internet, mas não encontrei nada suficientemente bom. Por que The Cobra Snake? Mark Hunter é um nome que cabe bem para um fotógrafo.
É verdade, não existe nada realmente bom na Internet, mas vou tentar: em primeiro lugar, foi muito legal que muita gente no Brasil me chamou de Snake Cobra, e em seguida diziam “você sabe que uma snake é uma cobra?”. Nos Estados Unidos também é assim, uma cobra é uma snake. Enfim, acho que para mim a ideia desse nome tem a ver com um estilo de vida, uma identidade, um conceito diferente. “Fotógrafo Mark Hunter ponto com” me soa muito entediante. Acho legal que as pessoas não necessariamente sabem que sou eu por trás disso. The Cobra Snake não significa fotografia, e não diz respeito apenas a fotos de festas, é mais como uma plataforma e um conceito para falar sobre coisas diferentes.
E por que cobra?
É totalmente randômico. Na verdade morro de medo de cobras.
Qual é a trilha sonora da sua vida?
As músicas do Steve Aoki estão na minha cabeça o dia inteiro. Ele está lançando um álbum daqui a alguns meses produzido inteiramente por ele e está muito, muito bom. Ainda não tem nome, mas o conteúdo é 100% original.
Um disco que mudou sua vida…
Eu gosto de muitos álbuns do Elliott Smith, XOX e Either Or são os meus favoritos. Também gosto de Phoenix, Arcade Fire…
E qual a importância da música no seu trabalho?
Acho que parte do que gosto de fazer é fotografar cultura, e música é provavelmente o que há de mais forte na cultura de cada local e na cultura pop. Música faz parte do meu trabalho por fazer as pessoas se divertirem e por uni-las. Ver as pessoas curtindo bandas e DJs ao vivo é muito especial. DJs são rockstars hoje em dia, e são muito icônicos para a nossa geração. Gosto de fotografar isso.
Esta camisa dos Estados Unidos é da sua linha de roupas?
Deveria ser, não é? Eu adoro roupas vintage, no meu site vendo muitas. Sempre faço compras em brechós quando viajo, mas a maioria é californiana.
E como funcionam os test drives com Vespas imaginárias?
Tivemos essa ideia no verão porque não tenho carro e queria ter uma alternativa além da bicicleta. Comprei uma Vespa e achei a coisa mais divertida do mundo, então, na minha loja, colocamos uma Vespa e um espelho, você pode subir nela e jogamos vento no seu rosto. Na verdade, acho o nome mais legal do que a ideia em si (risos).
O que te faz rir? Você sabe dizer qual é seu tipo de humor?
Eu gosto muito dos irmãos Coen e dos filmes do Woody Allen, mas acho graça, principalmente, em muitas coisas que as outras pessoas não consideram engraçadas. Como esses musculosos na praia, que se acham o máximo, mas são ridículos. Essas coisas sutis me fazem rir.