Entrevista | O amor cinematográfico do Cigarettes After Sex

18/12/2017

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Aline Pellegrini

Por: Aline Pellegrini

Fotos: Joyce Kiesel

18/12/2017

Foram quase dez anos até Greg Gonzalez conseguir gravar um disco depois de fundar a banda Cigarettes After Sex. De 2008, quando ainda morava no Texas (ele se mudou para Nova York em 2013, onde conheceu os atuais membros do grupo), até este ano, em que lançou um álbum homônimo, o vocalista e guitarrista passou por muitos momentos acreditando que ninguém se importava com o que ele compunha.

Algo aconteceu em 2015. Gonzalez define como um “milagre”. O sucesso veio com o lançamento de “Nothing Is Gonna Hurt You Baby”. A partir daí, o Cigarettes After Sex embalou seu pop lento em cenas de séries como Handmaid’s Tale e The Sinner e transita agora em sua primeira turnê mundial. Em passagem por São Paulo para divulgar o primeiro disco, o músico conversou com a NOIZE.

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Você começou a banda há muito tempo, em 2008. Agora vocês gravaram o primeiro álbum e estão fazendo a primeira turnê mundial. O que mudou, sua música mudou?
Mudou muito. Quando eu comecei a banda eu fazia mais eletro-pop, música dance, como Erasure e New Order. Mas como as coisas progrediram, a música começou a ficou cada vez mais obscura e começou a soar mais como The Smiths, como Joy Division. Eu passei por uma separação e a música que eu mais me identificava era assim, mais sombria, como se simbolizasse uma busca profunda. E, finalmente, em um ano intenso, 2012, um tive uma decepção amorosa e enfrentei a morte de um amigo. Foi aí que eu acho que o som da banda começou a ficar assim. Foi quando o primeiro EP saiu. Era a música que eu precisava para sobreviver. Tive uma longa jornada até isso. Mas eu passei uma boa parte da minha vida fazendo outros tipos de música para de fato chegar até esse momento.

Sim, muitas das suas letras falam sobre amor. Mas seu processo de composição vem dessas memórias ou é algo que surge de maneira orgânica?
As letras surgiram a partir de memórias. Todas as canções são sobre pessoas reais. Algumas das músicas, como “K.”, “Sunsetz” e “Affection”, são descrições exatas de momentos que eu vivi e são direcionadas a uma pessoa, como uma carta pra alguém. Pessoas com quem eu me relacionei em algum momento, mesmo que brevemente. Acredito que um relacionamento pode lhe impactar mesmo que você passe apenas uma noite com uma pessoa, mesmo algo breve pode ser muito inspirador. Tem coisas assim no disco e também músicas sobre relacionamentos mais longos, como as músicas sobre a namorada que eu tive durante sete anos. A garota Kristen é real em “K.”, foi uma garota com quem eu namorei por quatro meses.

O nome da banda remete a uma cena, muitas das músicas também têm esse efeito de levar uma imagem pra mente. Além disso, algumas das canções também estão em séries. Você pensava em trilhas sonoras enquanto compunha?
Ah, sim. Eu cresci amando trilhas de filmes e muitos dos meus compositores favoritos são compositores de trilhas.

Como quem?
Ah, Ennio Morricone, é meu favorito. Ele tem esse álbum maravilhoso Ennio Morricone – With Love, que é repleto de músicas românticas. Eu escuto ele muito para dormir, para relaxar. Até de Danny Elfman eu sou um grande fã. Seria maravilhoso um dia poder trabalhar com um diretor e fazer a trilha de um filme.

Mas você chega a imaginar a sua música em uma cena?
Muito. Eu acho que o que eu acabei fazendo, como eu gosto muito de cinema, eu vejo uma cena em um filme como Amor à Flor da Pele [de Wong Kar-Wai], uma cena romântica, e eu fico ‘nossa, eu adoro o jeito como sinto isso’. Como eu posso fazer uma música que me faça sentir o mesmo que essa cena? Eu quero esse sentimento ali. O que eu faço é colocar um filme na TV, tirar o som, e ter essas imagens ao fundo enquanto eu faço as canções. Assim eu pego o ritmo do filme enquanto escrevo. Acho que vem daí esse sentimento cinemático.

Nesse sentido, não encontrei nenhum videoclipe da banda.
É verdade. Não fizemos nenhum. Nós não encontramos nada ainda que a gente veja e pense: ‘Ok, essa é a versão da nossa música em imagem’. Acho que vamos acabar fazendo mais tarde. Nos dê um ano.

Você mencionou que escuta Morricone para dormir. Você acha que a sua música é para dormir, ou que tem alguma outra “função”?
Não, acho que, pra mim, qualquer música é para muitas situações diferentes. Deveria ser fácil colocar para ajudar a dormir, como um remédio. Eu faço muito isso com música. Mas também é pra ser uma música de dançar, como as músicas dos anos 1950 e 1960, quando você tem um parceiro, uma música lenta. É doce, pelo ritmo você deve ser capaz de dançar, fazer amor, estudar, todas as coisas mais diferentes. Poder ter seu próprio tempo com ela, fazer o que quiser enquanto a escuta. E eu amo ouvir todas as histórias de como uma música entrou na vida de alguém, o que fazem enquanto escutam ela, seja dormir ou dirigir.

Seus arranjos são muito minimalistas, como o set de bateria, com apenas três peças às vezes. Isso veio naturalmente ou foi algo que você buscou durante as composições?
Veio naturalmente durante os anos. Mas eu me dei conta de que todas as minhas canções preferidas se reduziam a apenas uma coisa, como Chopin, apenas com um piano, ou Dylan, que é apenas guitarra/violão e voz. Eu entendi que a maior parte das músicas que eu tanto amava era muito simples. Isso me fez sentir como: quanto mais simples, melhor. E mais é menos esse tipo de ideia. E é por isso que tocamos as músicas do jeito que tocamos. Do tipo: apenas relaxando e se deixando respirar. Eu tento fazer música como um ouvinte, pensando ‘o que eu quero ouvir?’. Eu quero ouvir minha própria música também.

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18/12/2017

Aline Pellegrini

Aline Pellegrini