Entrevista | Conheça Ocean Hope e mergulhe no synthpop da Grécia

10/08/2018

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Por: Fabiano Post

Fotos: Divulgação

10/08/2018

Onírico, enigmático e penetrante, assim soa Rolling Days, álbum de estreia do duo grego Ocean Hope, formado pelos irmãos Angeliki e Serafim Tsotsonis, que foi lançado pela norte-americana Hush Hush Records (ouça abaixo).

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Os Tsotsonis nasceram forjados para as artes e sempre se comunicaram através da música. Nascidos em Nerantza, uma pequena aldeia à beira-mar, em Corinto, Grécia, garantem que foram “extremamente afetados pelo local” e que “isso se desdobrou no que se tornaram”. Serafim, é pianista, compositor, designer de som, além de compor trilhas para documentários e filmes. Já Angeliki também é pintora e trabalhou muito com artes visuais.

A colaboração artística entre os Tsotsonis se inicia em 2000 e é justamente entre uma experimentação sonora e outra que o Ocean Hope nasce, dando as caras de forma taciturna no ano de 2015, despejando pela rede sua sonoridade poética, bela e sofisticada, envolta em uma atmosfera melancólica e reflexiva. No pacote de inspirações está um amplo leque de estilos e influências de altíssimo quilate. “Nosso espectro abrange de new wave, post rock, shoegaze até música clássica”, diz Angeliki.

O primogênito álbum da banda é um desdobramento natural – em prol de uma estética sonora mais iluminada, expansiva e vigorosa, sem abrir mão da essência primal do introdutório e auto-declarado romantic dream-pop, Chamber Dreams, primeiro EP, de 2015, que é adequadamente descrito como obscuro e recôndito.

De lá para cá, o duo se manteve absorvido na produção de Rolling Days. O álbum foi concebido em estúdios caseiros, na casa de Angelik em Nerantza, e no estúdio de Serafim em Atenas. O registro é um reflexo desse ambiente íntimo e familiar, como enfatiza Angeliki: “Este álbúm reflete seu entorno, é aquoso em sua essência, captura toda a luz do dia da vila à beira-mar em que vivemos, a vibração das cores do mar, além da sensação de escapismo. Isso reflete nossa infância, um sentimento adolescente, andando de carro, fugindo para ver o mundo grande”.

“Foi uma experiência única produzir esse álbum em nossos estúdios, pudemos experimentar bastante, para encontrar o som que tínhamos em mente, nós dois temos as habilidades técnicas necessárias, principalmente o Serafim, para as coisas se moverem na direção que queremos. Trabalhar sem interrupções e sem prazos foi crucial para produzir Roling Days“, diz Angeliki.

O sintetizador analógico, pilotado pelo experiente Serafim, incorpora doses generosas e bem-proporcionadas de psicodelia, a frequente batida eletrônica dá o tom, cria o corpo material do registro, por outro lado, o gentil, intimista e belo dedilhar da guitarra preenche os espaços com sutileza, na ânsia de parecer “invisível”, já a intangível e penetrante voz de Angelik é a alma enigmática de Rolling Days”. A química criativa entre os irmãos é perfeita. “Somos duas personalidades bem diferentes, mas compartilhamos da mesma visão, é como estar um dentro da mente do outro, sem precisar falar, isso faz as coisas se moverem gracioasamente”, afirma Serafim.

Tamanha harmonia e capacidade de gestão técnica artística para criação, resultam em mutações que tonificam constantemente o som em Rolling Days, amplificando suas possibilidades sonoras. Uma teia simbiótica complexa toma forma, entre sonoridade, lirismo e musicalidade, tornando o álbum multi-sensorial, um quase transe sinestésico, para o ouvinte. Suas múltiplas camadas entrepostas geram múltiplas sensações.

Rolling Days não pretende passar uma mensagem “vital específica”; como me relatou Angeliki: “Esse é um registro sobre emoções: provocando-as, sendo inspirado por elas, para criar uma melhor compreensão de nós como seres humanos… nós gostamos de abraçar, com nosso próprio som, essas noções, sem nos esforçamos para nos encaixarmos em algum gênero musical específico”.

Rolling Days ancora seu mote no caótico ambiente das aflições e aprendizados terrenos, é uma viagem demasiadamente humana expondo nossa árdua coexistência e fragilidade; os amores aos pedaços; as incertezas, os desapontamentos, as dores da perda que conduzem ao inverno da alma; para cada término um revigorante recomeço; é um mergulho em uma profunda reflexão.

Siga o Ocean Hope aqui para acompanhar a banda.

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10/08/2018

Gaúcho, de Porto Alegre, vivendo a 15 anos no Rio de Janeiro. Colaborador da Vice Brasil e autor lusófono do portal de mídia cidadã Global Voices.

Fabiano Post