Os baianos do Maglore deixaram de lado as guitarras intensas do álbum “Veroz”, de 2011, e lançaram o segundo disco da banda, “Vamos Pra Rua”, que reúne toda a experiência adquirida pela banda desde o primeiro trabalho em 2009, o EP “Cores do Vento”. Boas críticas acompanham o grupo desde então. Teago Oliveira, Leo Brandão, Nery Leal e Felipe Dieder saíram de Salvador para morar na cidade de São Paulo e ganhar espaço no música brasileira.
O material foi gravado em janeiro, no estúdio Casa das Máquinas, em Salvador. A produção de Tadeu Mascarenhas e a mixagem de Fernando Sanches ajudaram a construir o disco. “Vamos Pra Rua” foi gravado em uma sala com todos juntos e microfones vazando. Tudo para montar um álbum como se fazia antigamente, sem perfeição sonora.
Os caras do Maglore conversaram com a gente sobre a concepção do novo disco, que está disponível para streaming.
O lançamento do “Vamos Pra Rua” coincidiu com o momento que o Brasil estava vivendo, de protestos e pessoas indo pras ruas quase que diariamente. Um amigo de vocês chegou até a fazer um vídeo misturando imagens das manifestações com a música título do disco. O que vocês acharam dessa coincidência e do vídeo que o André Oki fez?
Nosso disco foi lançado um pouco antes das manifestações começarem, logo depois o pessoal do Passe Livre iniciou o movimento contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô. Inclusive, o nome do disco e a música título já eram divulgados e existem registros de shows, pré-disco, no Youtube, onde tocávamos a referida música. Nós, a princípio, ficamos meio receosos de sermos taxados de oportunistas, porque a faixa que dá titulo ao disco [“Vamos Pra Rua”], dá margem a interpretações de cunho politico também, em algumas passagens, mas depois desencanamos com a história. Se quiserem interpretar assim, interpretem! É algo muito pessoal. A respeito do vídeo de André, nós curtimos muito, sim! Não é um clipe oficial da música. As imagens, inclusive, não foram captadas por ele, são de algumas emissoras de televisão. Ele fez um trabalho de edição que ficou bacana e resolvemos divulgar sem maiores pretensões.
Em “Veroz”, vocês tinham músicas que haviam sido escritas antes da banda existir. Agora no “Vamos Pra Rua” dá pra sentir uma identidade mais forte do Maglore. Como foi o processo de criação desse álbum?
Nós todos deixamos Salvador no início do ano passado e estamos dividindo a mesma casa em São Paulo desde então. Temos um estúdio em casa e passamos a ensaiar mais, ouvir música e criar juntos. O disco surgiu no meio desse processo de mudanças. Ouvimos muita música brasileira na vitrola durante o processo todo e trabalhamos os arranjos com bastante calma em nosso estúdio. Em dezembro do ano passado, tínhamos sete das onze faixas prontas, faltavam algumas para termos um disco e resolvemos terminar a etapa de criação numa casa de praia no litoral da Bahia. Foi o que aconteceu. Pudemos focar mais ainda no trabalho. Tocávamos o dia inteiro e acabaram saindo quatro novas músicas.
“Vamos Pra Rua” tem pop, tem rock, tem MPB. Como vocês buscaram a unidade do disco?
Foi tudo muito natural. A gente acaba não rotulando o que fazemos durante o processo. Depois, quando termina, a gente até pensa se está muito isso ou muito aquilo, mas não mudamos o que sai naturalmente. O disco saiu uma mistura de tudo o que tínhamos de referência, tanto recente, quanto mais antiga. Acho que a unidade veio mais do fato de estarmos todos ouvindo basicamente as mesmas coisas do que das coisas que estávamos ouvindo propriamente.
“Vamos Pra Rua” tem a participação de Wado e Carlinhos Brown. Como foi trabalhar com eles nas músicas?
Tanto Wado quanto Brown tem trabalhos dos quais somos bem fãs. A espontaneidade com que Brown trabalha é uma coisa realmente de outro mundo. Brown é único. Ele transformou a música que participou. Sincopou a melodia de forma ímpar e deu um balanço a mais na canção. Até refizemos os vocais depois que ele gravou. Wado é unanimidade na banda. Todos nós acompanhamos o trabalho dele e adoramos mesmo. Ele até tem participado de alguns dos nossos shows. Pra nós, foi uma satisfação imensa reunir dois ídolos de trajetórias tão distintas em nosso disco.
Em músicas como “Espelho De Banheiro” dá pra ouvir alguém falando ao fundo, no final da faixa. Isso porque vocês gravaram o disco com todo mundo em uma sala com os microfones vazando. Como foi o processo de finalização de “Vamos Pra Rua” e porque deixar esses sons aparecerem?
Quando chegamos na mixagem com Fernando Sanches (Estúdio El Rocha, em SP) em março, só aproveitamos praticamente 4 microfones da gravação: um “over” da bateria, dois overs de sala que pegavam mais as guitarras e um over central, que captava a sala homogeneamente. O disco tem pouquíssimos “overdubs”. No final da mixagem, passamos tudo pra fita, num gravador de fita de rolo antigo do Fernando (por isso o disco não tem o som super limpinho e certinho), e fomos pra masterização. Fernando fez um trabalho incrível, também. Era como se quase tivéssemos gravado num gravador de rolo antigo de 4 canais. Ficamos empolgados com essa coisa meio ”Let It Be”. Tadeu, que gravou o álbum, é super adepto dessa concepção: muitas vezes apertava o “rec” sem sabermos se estávamos gravando. O legal de se fazer um disco assim é que só vale o take inteiro, não dá pra fazer por partes. A vibe era sempre muito boa. Em “Beagá”, na hora da gravação, estávamos ensaiando com a porta aberta e esse foi o take que valeu. Nesta concepção de gravação, é complicado, às vezes, cortar falas, sons alheios à gravação. Até que cortamos algumas brincadeiras, mas preferimos deixar alguns vazamentos que, para nós, soam como parte do disco. O que é dito no final de “Espelho de Banheiro” é “Tada [Tadeu], tive uma ideia genial” (Possivelmente essa idéia não entrou. Risos)
“Demais, Baby!” foi lançada com exclusividade pela NOIZE e teve milhares de acessos, antes mesmo do disco estar pronto. O que mudou na continuidade de “Vamos Pra Rua” depois que vocês divulgaram a música?
Acho que “Demais, Baby!” era novidade, a primeira música inédita depois de dois anos… acredito que foi uma parceria proveitosa que acabou chamando mais a atenção para o lançamento do disco.
Em “Avenida Sete” vocês lembram das ruas de Salvador. O que mais o disco traz do estado natal da Maglore?
No disco inteiro se encontram referências: no som, no clima de algumas músicas, nas letras… acredito que o fato dele ter sido concebido em São Paulo, nos deu uma certa nostalgia da Bahia.
O novo disco do Maglore saiu junto com a NOIZE #62. Leia a revista aqui: