O CD autointitulado do Esperanza marca a nova fase dos ex-Sabonetes Artur Roman, Wonder Bettin, Alexandre Caja e João Davi. O produtor Alexandre Kassin abraçou o projeto e contribuiu para o material final, recheado de participações especiais.
Nós conversamos com o vocalista e guitarrista Artur Roman sobre o novo trabalho dos curitibanos e como foi construir um álbum que resumisse toda essa transformação que a banda passou.
O Esperanza marca uma nova fase da banda. Como a gente pode dimensionar isso?
O Esperanza meio que veio pra marcar. A gente começou a tocar junto em 2004, então já são 9 anos de banda. A gente tocou muito, viajou muito. Começamos os quatro a conviver muito junto. E a gente mudou muito durante esse tempo todo. E eu acho que esse disco novo reflete esse período todo que a gente passou junto e essas mudanças todas que nós tivemos juntos. Acho que foi justa essa mudança, porque ela reflete bem essa mudança pessoal dos quatro e a mudança de som também. Há uma diferença bem clara sonoramente falando do primeiro disco pro último. As pessoas nos perguntam se eu acho que o Esperanza é uma evolução. Eu acho o seguinte: o primeiro disco não é melhor nem pior que esse, é só diferente, bem diferente. A gente tá muito feliz com essa diferença e com essa nova fase.
Por falar nisso, a banda está mudando de nome. Por que foi feita essa mudança?
Não foi uma interrupção ou a gente está melhor do que a gente era. Foram só muitas mudanças que aconteceram que a gente achou que seria interessante mudar de nome pra representar essas mudanças, e pra gente se identificar com essa nova fase de uma forma completa. Pra gente foi muito natural. Não foi nada muito brusco. Foi um processo que foi sendo construído desde que a gente começou a pré-produção do disco novo, e já faz uns 3 anos que a gente vêm compondo ele. Daí esse nome, Esperanza, foi crescendo. Na verdade Esperanza é o nome da última faixa. Dessa música a gente resolveu batizar o disco e quando a gente viu o nome já tinha tomado conta e a gente já tinha virado o Esperanza. A gente diz que foi o Esperanza que escolheu a gente, e não a gente que escolheu o Esperanza.
São 3 anos que separam o primeiro disco de vocês desse novo. A gente pode dizer que isso foi uma demora ou pra vocês fazia parte do plano?
A gente tava um pouco ansioso pra lançar material novo, porque o último disco a gente gravou no final de 2009, lançou em 2010, relançou em 2011 e não gravamos desde então. Mas agora que o disco está pronto eu acho que essa demora foi necessária. Eu não posso chamar de demora. Foi o tempo pra esse disco madurar. Acho que foi o tempo exato. Acho que talvez se a gente tivesse lançado ele antes, a gente não estaria tão preparado e acho que as músicas também não estariam tão refinadas assim. Acho que a gente conseguiu chegar em uma unidade sonora nesse disco de tema e de conceito que se a gente tivesse gravado antes a gente não conseguiria.
O teaser de lançamento do disco foi com um trecho do filme O Clube da Luta. Da onde veio a ideia de fazer o teaser assim?
A gente sempre brincou que a origem do Sabonetes veio do livro O Clube da Luta. Porque nesse livro, que depois foi adaptado pro cinema, o personagem principal roubava gordura humana de cirurgia plástica e usava essa gordura pra fazer sabonete e pra produzir explosivos que ele usava pra destruir coisas pela cidade. E a gente sempre falou que esse era o motivo do Sabonetes, apesar dele não ser, mas a gente achava legal, era um motivo interessante. Eaí a gente acho que ia ser legal usar esse trechinho pra meio que se despedir do Sabonetes e então vir o Esperaza. Foi uma despedida mesmo: o Saboneste está indo embora e o Esperanza está chegando agora.
Quem dirige todos nosso clipes é o nosso baterista, Alexandre. É o nosso diretor de plantão. O clipe de “Sem Porquê” deve sair daqui há uma semana. Vai ser um clipe bem legal. É um clipe de animação. O Alexandre dirigiu as partes filmadas, que foram todas aqui em Curitiba. Quem está fazendo a parte de animação é um estúdio lá de Buenos Aires que se chama LeCube. E está ficando bonito, cara.
Vocês gravaram o disco através de um projeto de crowdfunding que acabou dando certo e vocês arrecadaram tudo o que vocês precisavam. Como foi o processo depois de ter feito o crowdfunding, foi tudo tranquilo ou vocês tiveram alguns imprevistos no meio do caminho?
O crowdfunding veio como uma alternativa pra gravar esse disco. Em 2011 a gente relançou o disco, que em 2010 a gente tinha lançado independentemente, pelo selo da Universal Music. Pra gravar esse disco novo a gente tinha uma ideia muito clara do que a gente queria, do produtor que a gente queria, da forma da gente queria gravar. E a gente chegou com esse projeto pra gravadora e eles não aceitarem o projeto. Eles falaram ‘a gente pode gravar esse disco, a gente acha que são músicas muito boas, mas a gente tem que gravar com o produtor que a gente indicar, no estúdio que a gente quiser…’. Daí eles nos mandaram essa contraproposta, a gente olhou e achou que não era interessante pra gente. Sempre tivemos uma ideia muito clara do que queríamos com esse disco e então a gente reincidiu o contrato com a Universal e ficamos independentes de novo. Então a solução que a gente achou foi pelo Catarse mesmo, crowdfunding. Lançamos o projeto e foi muito bonito, porque a gente conseguiu 110% do que a gente propôs a se arrecadar. O objetivo inicial era de 40 mil e a gente conseguiu juntar 50 mil. Foi legal que a gente usou isso pra gravar coisas que não estavam plajeadas.
Como tu mencionou, tem uma diferença sonora bem clara entre o primeiro disco e o último. Essa diferença a gente pode perceber em “Assalto” e “Carta de Adeus”. Tem mais alguma música do disco que tu gostaria de destacar?
Nesse disco tem músicas minhas, tem músicas do Wonder e tem música do João Davi. Eu achei que tem algumas veias esse disco, ele ficou bem plural. Mas essas veias não ficam tão claras, essas diferenças não ficam tão claras, pela sonoridade que a gente conseguiu. A gente deixou uma unidade sonora dentro de canções diferentes. Por isso que não ficam tão gritantes essas diferenças, apesar de serem músicas bem diferentes umas das outras. Eu acho que “Assalto” talvez seja a música que seja mais parecida com o que a gente fez no primeiro disco. É uma música mais leve e ela tem um lance de arranjo muito forte. Eu acho que a grande diferença do disco novo pro disco anterior é que o de agora é um disco de canções. A gente procurou pegar nossas melhores canções. Letra, melodia e harmonia. O primeiro disco tinha uma questão estética muito forte, a gente privava muito pelos arranjos. Agora a gente está usando os arranjos pra enfatizar a canção. Acho que “Melancholia”, uma música do Wonder, tem um significado muito importante nesse disco. Acho que a própria “Sem Porquê”, que é o single, ela traz uma coisa de psicodelia que a gente abraçou nesse disco. A gente estava ouvindo muito Mutantes e muito rock brasileiro dos anos 70, Novos Baianos, Secos e Molhados. Além disso, a gente tava ouvindo muito folk também. Folk gringo. A gente ouviu muito Wilco nesses últimos tempos. Eu acho que tanto Mutantes quanto o folk, têm esse lance da canção. Acho que isso influenciou um pouco a gente ter deixado de lado o arranjo e prestado atenção mais no que a canção diz.
O disco está cheio de participações especiais. Como foi pra reunir tudo isso no disco de vocês?
Foi muito natural. A gente sentia falta de muito piano, órgão, teclado. E a gente é muito amigo do Pedro Pelotas e muito fã dele, ele toca muito bem. A gente tem o projeto de tocar músicas do Roberto e do Eramos Carlos e convidou ele pra tocar teclado. E nisso rolou uma química, uma vibe muito boa. A partir daí a gente convidou ele pra gravar e ele topou na mesma hora e foi muito legal. A gente ensaiou muito pouco. A gente mandou as músicas pra ele, fez um ensaio na casa dele e botou pra fuder. Ele é um cara mágico, muito foda mesmo. Acho que ele foi um puta ingrediente nesse disco. Sem ele a gente não conseguiria chegar onde chegamos. E o Pedro Metz foi outra história. A gente foi sempre muito fã de Pública e muito amigo dele, de todos ali. Eu lembro que a gente tinha a música Esperanza, que ainda não se chamava Esperanza, com uma letra provisória. E eu sempre quis compor alguma coisa com o Pedro Metz, porque eu sempre achei que ele escreve de um jeito muito bonito e eu sempre me identifiquei com a escrita dele. Quando ele tava em Porto Alegre ainda eu falei ‘a gente tem uma música assim que a gente quer gravar e ela tem uma letra provisória, queria te mandar pra vê se a gente consegue escrever junto”. Ele topou. Na mesma hora eu mandei pra ele, ele mandou a letra rapidinho, aí eu compus uma parte que faltava e saiu, assim. Foi essa música que deu origem ao nome do disco e ao nome da banda também.
O que vocês pretendem fazer agora com o disco pronto?
A gente agora tem uns shows marcados. Inclusive Porto Alegre não estava na lista dos shows, mas eu descobri que vai estar, estaremos indo logo pra aí. A gente vai lançar um clipe novo. A gente está muito seguro com esse disco e esperamos agora trabalhar bastante ele. Agora o plano é tocar o disco o máximo possível por aí.