Coluna | Estranho mundo: Die Antwoord | Leo Felipe

06/04/2012

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

06/04/2012

_por Leo Felipe

Nos últimos dias 3 e 4 de abril, Porto Alegre sediou o primeiro Rodada de Debates Sobre Arte. Promovido pela Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia (a partir das inquietações de seu coordenador, o cosmopolita Bernardo de Souza), o RODA reuniu uma série de agentes do mundo da arte – do regional ao internacional – que atuam em áreas como curadoria, jornalismo, crítica, ensino e criação.

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Peraí, mas essa coluna não era sobre música?

É que um dos palestrantes, o curador sul-africano Storm Janse van Rensburg, com o objetivo de traçar um panorama da arte contemporânea produzida em seu país, incluiu nele a música. Storm iniciou sua apresentação com o clipe de “It’s a strange, strange world we leave in, Master Jack”, um sucesso internacional do pop sul-africano dos anos 1960 (e que emprestou título à fala). Contrariando qualquer idéia preconcebida relacionada à produção musical do continente africano (e ao mesmo tempo revelando o racismo que marcou profundamente seu país localizado mais ao sul), os intérpretes deste único hit, o grupo de rock meloso Four Jacks and A Jill, eram todos brancos. A partir dessa peculiaridade, o curador abordou a arte sul-africana sob uma perspectiva global e branca, quebrando clichês do que chamou de política da representação e expondo alguns de seus mecanismos. A fala culminou com a exibição de “I fink u freek”, clipe do grupo de rap-rave psicótico Die Antwoord. O vídeo foi produzido em parceria com o fotógrafo novaiorquino radicado em Johanesburgo Roger Ballen.

A atitude de Storm Janse van Rensburg ao incluir vídeos musicais em uma apresentação sobre arte sinaliza duplamente: 1) que o campo da arte contemporânea extrapola a noção estrita de visualidade, agregando, aceitando e absorvendo expressões tão diversas que podem ir do texto à música; e 2) que a produção de música pop hoje não pode ser dissociada de um conteúdo visual.

Friamente construído e, portanto, consciente desse poder da imagem, o Die Antwoord é formado por três personagens: o DJ Hi-Tek e os rappers Ninja e Yo-Landi Vi$$er. Baseado na Cidade do Cabo, o grupo pratica o que chama de zef rap, uma reação à tradição negra do rap sul-africano. Na África do Sul, zef é a condição do branco pobre (algo como um white trash africano) e, tal qual toda subcultura, uma forma de recusa disfarçada em estilo, que vai ser incorporada como produto.

Mas, ao que parece, o Die Antwoord não vai se entregar assim tão facilmente.

Ten$ion, o segundo álbum do grupo, foi lançado em 2011 por seu próprio selo, o ZEF Recordz, após o rompimento com a gravadora anterior. Segundo Ninja (pseudônimo de Watkin Tudor Jones), a Interscope Records queria transformar a música visceral do grupo em babas comerciais como Lady Gaga e Black Eyed Peas.

“Shitty music”, conforme declarou Ninja para o site da MTV.

Em africâner, língua de origem germânica similar ao holandês, Die Antwoord significa A Resposta, é uma resposta não-conformista, estranha e conectada à ética DIY, uma resposta punk: não. Aliás, o grupo recusou recentemente o convite de “shitty” Gaga para abrir a turnê Born This Way Ball que começa no próximo dia 27, em Seul.

@leoafelipe é mestrando em história e crítica de arte pelo PPGAV-UFRGS. Polivalente, é escritor, jornalista, DJ e, há pouco mais de um ano, curador e gerente artístico da Galeria Ecarta, em Porto Alegre.

06/04/2012

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