Exclusivo | Graxa brinca de Andy Warhol com memes na música “A Senhora É Destruidora Mesmo”

17/02/2017

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Tássia Costa

Por: Tássia Costa

Fotos: Dani Almeida/Divulgação

17/02/2017

Para o recifense Angelo Souza – mais conhecido na cena da capital pernambucana como Graxa – a arte no seu sentido mais puro e divino está no cotidiano, sem muita glamourização. “Eu acredito numa arte voltada pra ideia daquele bicho Warhol no campo da linha de produção em série, saca?”, exemplifica ele ao atestar sua crença no potencial artístico do que é considerado banal.

Assim como Andy Warhol levava para as galerias de artes visuais fragmentos do que era comum para a cultura de massa americana de classe média das décadas de 50 e 60, o morador do bairro do Jiquiá no Recife captura em elementos do dia a dia a principal matéria prima de suas composições musicais. E foi assim que surgiram os seus dois primeiros discos Molho (2013) e Aquele Disco Massa (2015), gravados de forma independente pelo artista que dedica grande parte da sua carga horária diária trabalhando em uma tornearia mecânica.

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As letras de Graxa tendem a oscilar principalmente entre temas políticos, consumo de música, trocadilhos e ironias, mas a nova canção que estará no seu terceiro álbum de estúdio, A Concorrência É Demais, brinca com um meme. A faixa “A Senhora É Destruidora Mesmo” surgiu depois de o cantor assistir a um vídeo com o bordão e perguntar para algumas mulheres quais características faziam com que uma amiga fosse uma “destruidora”. Obtendo as respostas, ele musicou tudo com seu tradicional rock lo-fi.

Ouça a seguir “A Senhora É Destruidora Mesmo”, composta com a ajuda das respostas de Dani Almeida, Keyse Menezes e Rô Zaschoque. Na sequência, leia a entrevista com mais detalhes sobre o próximo disco do Graxa.

O título do seu próximo disco é A Concorrência É Demais e a capa tem vários artistas pernambucanos, você pode explicar o conceito da ideia por trás do título e da capa?
O uso de “demais” funciona como um mal necessário. É “demais” de incrível e de difícil de suportar. Já na capa eu fiz uma referência à ideia do Sgt. Peppers de forma nacional em cima do quadro Operários de Tarsila do Amaral, daquela semana de 20 – se não me engano. Como “todo mundo” faz referência ao Sgt. Peppers, eu procurei trazer a ideia de forma nacionalista com ênfase bairrista/regionalista. Depois eu pedi pro meu amigo Victor Zalma fazer a arte final mais decente e profissional.

A nova música é bem rooock, um som mais parecido com as faixas do Aquele Disco Massa. Tinha acontecido uma suavizada no EP Canções de Protesto, do ano passado. O que podemos esperar do próximo disco? Vai ser todo rockzão ou vai variar com as músicas mais calminhas como as do EP?
Vai ser super variado, vai ter de tudo, não só o rock. Eu acho que esse é o que mais tem variedades de estilos. Tem samba, samba rock, rock, valsa, música psicodélica… vai ter um balaio de gato. Remetendo à ideia referência da capa.

Dei um stalk na sua conta do Twitter e li a seguinte frase em uma das publicações mais recentes: “Eu passo um tempo sem vir aqui e percebo o quanto sou tolo”. Você tem o costume de frequentar muito as redes sociais ao ponto de estar por dentro dos memes? Até porque o bordão que deu origem à sua nova música viralizou por causa da internet.
Eu fico no limbo da internet. Ela já foi muito funcional… mas você acredita que eu penso assim? Depois que rolou aquele lance do 7×1 (hahahahaha) aparentemente o Brasil ficou “mais politizado” em cima dessa ideia binária e quase que totalmente não funcional, e a internet ficou meio “garrafa de náufrago”, saca? Ela foi o carro chefe pra divulgação independente de minha parte, que aí depois abria as portas pra outros veículos de comunicação. Mas tudo parece que degringolou nesse país e ninguém quer saber de nada mais além de que se fulaninho é reaça, coxinha, mortadela, bolivarista e coisas do tipo. O que interessa ao Brasil, aparentemente, se não por total, é fazer a revolução de memes. Nada mais importa além disso.

Qual é a importância do artista em momentos políticos como o que a gente vem vivendo atualmente? Em tempos de internet dividindo as pessoas nisso de coxinha, mortadela etc?
Olha, arte pra mim tem que propor questionamentos e não necessariamente ser algo para agradar. E aí um artista tem que apresentar seu trabalho mostrando um viés de direcionamento, de argumento… Sei lá. Ele tem que declarar o inimigo mesmo, saca? Um cara que fica fazendo música de luz do sol, estrelinha, amor de novela e coisas desse tipo não é artista, é uma coisa que é menos funcional do que um escoro de porta. Eu nem me considero um artista no sentido divinal da coisa. Eu acredito numa arte voltada pra ideia daquele bicho Warhol no campo da linha de produção em série, saca?

Aquela questão das massas e do consumo?
Aquela coisa de que quem delimita o que é arte ou não, saca? O Brasil é arte pura. Parecem intervenções cruéis e geniais.

Além de levantar questionamentos políticos e tópicos do cotidiano, várias de suas músicas têm referências de outras bandas, como o Kiss, os Beatles, o Bob Dylan, o que você cresceu ouvindo?
Eu cresci ouvindo de Elvis a Nubia Lafayette. Uma ponte entre Nat King Cole e Bezerra da Silva. Quando rolam essas perguntas o pessoal gosta logo de cantar marra citando os malditos daqui, né? Ou grandes bandas dos anos sessenta cheias de psicodelia e por aí vai. Eu não: eu cresci ouvindo isso que te disse… Coisa de rádio também, como Leandro e Leonardo.

Na verdade, a gente consome de tudo no fim nas contas, certo?
Isso, eu falo no sentido do subconsciente.

A Concorrência É Demais deveria ter saído ano passado (e deveria ser virginiano), mas você declarou no Facebook que não rolou por causa do “Brasil”, o que aconteceu?
É porque eu não sou só o grande “princesinho” do rock – tampouco os meninos que tocam comigo. Vou falar um pouco. Depois que eu lancei o Aquele Disco Massa aparentemente todo mundo quis gravar, mixar, na casa do Kaos, que é o lugar onde o guitarrista trabalha com música. Aí veja os encaixes: eu trabalho numa oficina mecânica de tornearia e aí pra encaixar horários d’eu ir pra lá tava complicado porque muitas vezes só sobrava horário à noite. Imagina você passa o dia todo “comendo limalha” – dando duro na oficina – pra depois ir pra casa dele e mexer ainda em música… saca? E aí rolava show também… E tem lance de transporte. Pr’eu ir pruma onda dessa eu saía meia noite, e tu saca transporte público e segurança como são? Aí ficava algo puxado por copo e pro bolso. E assim foi atrasando. Se fosse só o rock – que eu nem sei como é que essa turma consegue (na verdade eu até sei) – tudo estaria pronto faz tempo.

Já tem alguma previsão de quando sai o disco?
Esse disco eu vou lançar duplo, saca? Vai ter acho que umas 26 músicas, que estão pra finalizar. Tem que sair em março.

Será que vai ser de Peixes ou Áries?
Prefiro que seja de Peixes. Como que eu faço?

Então vai ter que sair até o dia 20.
Boa!

O lançamento do single “A Senhora É Destruidora Mesmo” acontecerá no primeiro show do ano de Graxa neste sábado (18/2), na festa Let’s Play That! no bar Texas Café Bar, em Recife. Mais informações aqui.

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17/02/2017

Lou Reed é minha bússola.
Tássia Costa

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