Exclusivo | Salma Jô responde Macloys Aquino sobre o novo disco do Carne Doce

03/05/2018

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Macloys Aquino

03/05/2018

Ser músico independente, pelo menos no Brasil, é estar sobre uma corda bamba constante. O equilíbrio nunca está garantido, você precisa calcular seu movimentos e o risco está sempre ali. Em suma, exige coragem.

É com poucas certezas e muita coragem que o Carne Doce enfrenta a fase de finalização do seu terceiro e aguardado disco, previsto para julho e sem nome anunciado. Com 11 faixas, o trabalho está sendo gravado em Goiânia, terra natal dos integrantes, sob a produção de João Victor Santana Campos, que também produziu Princesa (2016) e Carne Doce (2014), e conta com financiamento do Natura Musical.

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Desbravando um universo mais poético e introspectivo, a vocalista Salma Jô responde as perguntas do guitarrista e companheiro Macloys Aquino em uma entrevista em casal publicada com exclusividade na NOIZE. Abaixo, confira a conversa sobre os desafios que eles vivem hoje, as expectativas sobre o terceiro álbum e a luta de viver de música.

Mac – Quais as diferenças fundamentais entre nossos três discos?

Salma – A diferença principal seria o desafio de cada um. No primeiro, nós não estávamos tão amarrados às nossas responsabilidades, ele foi mais solto e mais amador. O segundo foi condicionado por um lugar mais profissional, mas também já mirou num território que a gente mais ou menos conhecia, já sabíamos como soar, tínhamos uma perspectiva para mirar, embora essa segurança nunca exista totalmente.

Mac – Você fala de temáticas, assuntos?

Salma – Não, acho que na hora de compor a gente é espontâneo e autêntico, e tenta mirar na emoção, pelo menos assim é comigo. Eu não tento agradar as pessoas, tento agradar a mim antes de tudo. Então esse risco continua acontecendo, porque eu ainda quero me agradar antes de agradar as pessoas e isso foi uma angústia a mais no segundo disco, por saber que eu deveria continuar agradando as pessoas que já tínhamos agradado no primeiro disco. Você não sente isso? Tá me olhando com uma cara extremamente esquisita.

Mac – Mas sobre o terceiro disco, o que é fundamental?

Salma – O terceiro tem um peso ainda maior dessa questão da estabilidade, da continuidade, um terceiro disco é mais difícil pra uma banda que um segundo. A maior parte das bandas dura menos que três discos, achar uma banda que dura muito tempo nesse nosso mercado é de admirar. Então quanto mais o tempo passa, mais a gente pensa na questão da estabilidade. Ou então você se acostuma com a ideia de que fazer arte não é uma reta ascendente e que é preciso experimentar, se arriscar sempre, e isso passa a fazer parte da sua lógica, do seu jeito de ver o mundo. Mas, por enquanto, isso ainda me angustia muito. Se a gente vai continuar vivendo disso, se a gente vai continuar agradando as pessoas, ou se isso vai acabar em breve.

Mac – Isso me angustia muito também. 

Salma – E nesse terceiro disco eu sofri com isso. Porque… Nossa, me deu vontade de chorar agora, exatamente porque eu tô sofrendo muito com isso… Porque as coisas que eu tô falando [no disco] são mais introspectivas ainda, um pouco tristes, e não são muito acolhedoras. Poucas músicas são acolhedoras nesse disco.

Mac – Dá um exemplo de música acolhedora.

Salma – “Já Passou”, eu acho. Por mais que ela fale de dor e que seja tristinha, ela acolhe. As outras parecem meio ariscas talvez… Eu sou uma pessoa meio arisca também. Então, às vezes estão refletindo a pessoa que eu sou. Mas funciona. Você pode escrever uma música super arisca e introspectiva, autobiográfica, e no final das contas estar falando de algo que todo mundo sente. Isso é possível na arte.

Mac – Do terceiro disco, qual a melhor música?

Salma – Acho que é “Comida Amarga”. Porque ela é bem resolvida, e eu não fiquei bem resolvida com as outras letras. Eu acho que essa é a vez que eu fiquei menos resolvida com as letras.

Mac – Você está realizada?

Salma – Acho que sim. Não dá pra dizer isso porque a gente quer mais. A gente ambiciona as coisas e isso é saudável. Mas eu sou muito grata, a gente tá num lugar fabuloso e vivendo coisas absurdas mesmo. Eu cheguei a sonhar com elas e agora elas são reais, isso é mágico.

Mac – Como você gostaria de estar daqui cinco anos? Falo de cinco anos porque a gente começou o projeto há cinco anos.
Salma – É uma pergunta de auto-ajuda. Eu fiz esse exercício há cinco anos. Eu coloquei umas metas que a gente cumpriu. A gente tinha metas específicas de visualizações, de atingir pessoas, de tocar em alguns festivais e palcos, aparecer em algumas mídias, listas… A auto-ajuda te coloca pra medir metas práticas e específicas, que você pode contabilizar. A gente já chegou em várias dessas metas. Agora a gente teria de fazer esse exercício de novo e colocar metas maiores.

Mac – Essa foi a minha pergunta.

Salma – Sim, tenho que fazer isso. Eu tô num momento de muita dúvida, estamos prestes a lançar esse disco e acho que eu só vou ter ânimo pra traçar metas de cinco anos depois do lançamento. Mas onde eu gostaria de estar? Gostaria de ainda estar trabalhando com música, sem ter medo de parar, sem ter medo dos próximos dois anos. Gostaria que esse disco tivesse ido bem e que a gente já estivesse trabalhando no próximo, quinto disco que fosse. Ou que a gente já estivesse trabalhando em outros projetos cada um, e que voltássemos a trabalhar com a banda, enfim. Não sei. Nem penso em bens assim… Talvez um pouco mais de conforto na nossas tours, nos nossos negócios, mais estrutura.

Mac – Qual a melhor parte de trabalhar com música?

Salma – A melhor parte são os shows. Fazer letra também é legal. Saber que você emocionou as pessoas é maravilhoso. Mas a energia que eu coloco no show ali, dançar, e saber que você vai ganhar um cachê por aquela experiência que é tão catártica e terapêutica, pelo menos pra mim. De novo, parece incoerente, eu sempre me preocupei muito com o que as pessoas acham de mim e sempre fiquei muito ansiosa com a exposição e o show é puramente isso. O poder em estar ali exposto, vulnerável e ser o foco. Acho essa experiência fabulosa.

Mac – E a pior parte?

Salma – Talvez seja essa ansiedade, se tá bom, se não tá, se as pessoas vão gostar ou não.

Mac – Essa é a pior parte?

Salma – Acho que eu tô influenciada pela época, tô de TPM, tô muito ansiosa, acabei de gravar as vozes… Qual é a pior parte?

Mac – Pra mim é dormir pouco.

Salma – Ah, sim. A pior parte é manter a voz. Dormir pouco, ficar doente, minha garganta, isso me apavora.

Mac – O que você melhoraria em você como artista?

Salma – Eu gostaria de ser mais segura, ser mais criativa. Gostaria de gostar mais de música.

Mac – Gostar mais de música?

Salma – Gostaria de gostar de ouvir música sempre, o tempo inteiro, sabe? E ter essa vontade de tocar e compor o tempo inteiro. Gostaria de ser assim.

Mac – Eu também queria que meu corpo inteiro fosse música. Acordar e dormir sendo música, que fosse o sentido único da minha vida. Mas acho que a gente pode se esforçar pra ser.

Salma – É. Eu gostaria de ficar tranquila em ter experiência com outros artistas, porque isso geralmente me apavora. Tem a ver com não ser segura. Ser mais desinibida. Nossa, não vai fazer sentido nenhum pras pessoas que lêem isso, todo mundo acha que eu sou super desinibida, hahaha.

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03/05/2018

Brenda Vidal

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