Icarus abre a alma e conta a história de cada faixa do seu EP de estreia

26/10/2017

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Marta Karrer

Por: Marta Karrer

Fotos: Divulgação

26/10/2017

No seu EP de estreia, Homossexualidade e Videogames, Icarus trata as desilusões amorosas como pano pra manga, transformando os “relacionamentos homoafetivos frustrados de uma adolescência quase tardia” em uma fusão de noise com pop cheia de beats que não deixa de ser dançante por um segundo. O lançamento é a primeira experiência de Icaro Gorri (que gravou todos os instrumentos e a voz) na música e vem ao mundo através do Boiola Records.

Os samples de videogames dão uma boa dose de ironia para as cinco faixas do disco e contrastam com a voz doce que não ficaria deslocada numa música da Mahmundi (que Icarus cita como sua maior referência). Os beats dão vontade de dançar, mas as letras parecem quase mensagens de texto de tão diretas. Homossexualidade e Videogames traz uma série de game overs piscando na tela e convidando a apertar o play again.

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Entenda melhor as histórias que inspiraram cada um dos sons com o próprio Icaro abaixo.

1. “999”

Bom, acho que tudo começou aqui nessa música, logo depois de lembrar de um relacionamento que tive com um garoto chamado Carlos aos 15 anos: ele estava para se mudar da cidade em que eu vivia no interior do Paraná, ele não era assumido. Basicamente, vivíamos dentro de um quarto. Nosso relacionamento só existia ali, com um Nintendo velho e algumas fitas que assoprávamos vez ou outra. Beijávamos.

A partir dessa lembrança resolvi gravar algo. Resolvi escrever conforme palavras que me remetiam aquele momento. Era minha primeira decepção amorosa. A distância acabou com essa relação doida e tímida que vivíamos. “999” abre com esse universo lúdico onde videogames se embolam com tristezas e medos e a falta de técnica musical e a necessidade de transformar isso em algo maior.

2. “Balada de Identidade”

Tanto fundo de verdade que me assusta e chego até chorar em tem quer falar sobre ela. Logo depois da decepção, dei meus primeiros passos pra superar ela e todo aquele mundo lúdico que criei. Eu me sentia sozinho, sem personalidade, só tinha o velho vídeo game, onde passava horas chorando e vencendo os “chefões” da minha cabeça. Eu queria me livrar daquilo, como se fosse algo que nunca tivesse feito parte de mim. Mas basicamente o que eu sentia por aquele menino era muito maior do que eu podia imaginar. Até negar o fato de que era gay era mais confortável do que aceitar que ele tinha partido meu coração – e da minha cidade. Eu passei pelo menos um ano até superar. “Balada de Identidade” é basicamente uma música dançante e abstrata, mas recheada de sentido e sentimentos pra mim. Confusão doida da minha cabeça. Criar beats e samplear games trazem essa atmosfera que me fazem sentir o cheiro até da casa de madeira em que morei.

3. “Aquela de Término”

Essa música é um tanto especial pra mim. Fala de um “relacionamento” mais recente com um garoto “hétero” tão único e confuso quanto nossos términos. Eu havia adicionado ele no Facebook logo que cheguei em São Paulo. Demorei 2 anos pra ter coragem falar com ele. Até o dia em que falei, trocamos mensagens, e eu, paquerador que sou, sempre dado demais… flertar era o nosso assunto. E dramas. Ele era apaixonado por futebol e bandas estranhas e completamente engraçado, dizia coisas do tipo “vesti calça pra te ver duas vezes” (risos). A primeira vez que nos beijamos foi no meu aniversário. Onde coincidentemente, estávamos todos jogando vídeo game. Gostava do drama que vivíamos e, mesmo sendo trocado por uma outra pessoa, um peito tão gostoso de deitar com certeza merecia uma música.

4. “Lolo”

Acho que essa música fala sobre a confusão que é a minha cabeça ao não entender a cabeça do homem heterossexual. Eu não tenho limites pra paquera. Eu sou aquela pessoa que flerta com garotos sem se preocupar com essas restrições sexuais. Óbvio que tenho todo respeito aos mocinhos heterossexuais, e aos que têm medo de assumir que não são tão héteros assim. Essa música fala das vezes que beijei “bissexuais” que ainda não sabem que são e os fiz pecar.

Acho que remete um pouco o lance de não servir de exemplo pra nada, e nem querer isso.
Ela tem uma pegada um pouco diferente das outras faixas, consegue ser mais sem coesão que as outras, mas no todo é uma música que gosto muito.

5. “Veraozin”

Eu amo essa música, é minha preferida. Ela conta uma história de um relacionamento à distância que vivi com um menino que morava na praia onde eu e minha família vamos todos os finais de ano, mas o lance tava tão saturado que o menino queria me largar a todo custo e eu, como um bom chorão que sou, transformei isso em um drama dançante pra esse EP.

Lembro que ele morava num morro imenso, pra subir aquela ladeira tinha que ter muita vontade de amar esse menino, e eu subia a temporada inteira de praia! Foram uns 3 anos assim. Até que ele fugiu de mim e virou música. Usei algumas referência de disco music e sampleei Donkey Kong porque tem uma vibe tropical boa que eu amo e me remete praia. Um beijo, Andrew.

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26/10/2017

Marta Karrer

Marta Karrer