Inmigrantes e a nostalgia sonora de 2007

19/10/2015

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Ingrid Flores

Por: Ingrid Flores

Fotos: Daniela Grimberg

19/10/2015

Antes de falar do show ao qual assisti, queria fazer umas constatações. Rebobina pra 2007:

Na época, uma das músicas que tocavam a toda hora nas rádios era “Grafitti”, de uma banda argentina da qual pouca gente tinha ouvido falar, os Inmigrantes. Naquele ano, o mesmo do lançamento do iPhone, tinha-se duas certezas. Uma delas era que aquele era o smartphone mais tecnológico já feito. A outra era que você ia escutar “Da da da di da da da, da da da di da da da” (e cantar feliz da vida) pelo menos uma vez no dia.

*

Até hoje, de vez em quando a gente ouve esse som em uma ou outra FM, mas pouco se falou da banda dos irmãos gêmeos depois desse sucesso. Parecia que seriam uma dessas bandas que gravam um só disco e desaparecem (e partem nosso coração de fã, tipo The Last Shaddow Puppets, sabe?). Até que começou 2015 e eles anunciaram shows no Brasil em janeiro e em outubro. Plim, ressurgiram.

Agora, corta pra um parágrafo sobre 2011, que explica porque eu fiz questão de assistir ao show deles e escrever esse review:

Naquele ano, eu chegava numa cidade maravilhosa no sul da Espanha, onde moraria por uns meses, acompanhada da minha melhor amiga. Lá, ela me mostrou o único álbum dos Inmigrantes, ao qual a gente escutou até gastar (sério mesmo, eu já quase achava a voz deles cansada). Se você levar em consideração que o disco se chama Turistas En El Paraíso, fazia todo o sentido, já que era exatamente como nos sentíamos naquele país fantástico. Foi meio que a trilha da viagem, tem todo um afeto envolvido, entende?

Pronto, agora que expliquei de onde vem o meu interesse/carinho pelo som deles, podemos finalmente falar sobre o show que fizeram no Opinião, em Porto Alegre.

Após as apresentações das bandas Madame Bogardan, Escambau e Identidade, chegou a vez dos hermanos subirem ao palco e serem recebidos com: empolgação, muita. Aliás, que atire a primeira pedra quem não lembrou dos irmãos Gallagher quando avistou os gêmeos Carlos e Pablo Silberberg ali. Um deles (não sei qual é qual) estava usando óculos redondinhos bem ao estilo do Oasis, só faltou tocar “Wonderwall”.

O repertório dos caras é bem enxuto, até porque o álbum só tem 13 faixas. No entanto, acabei descobrindo naquela noite que eles têm um EP de cinco faixas, Surplus, lançado em 2013 de forma totalmente independente. Eles tocaram algumas desse material também e bastante gente ali conhecia.

Do álbum de 2007, eles tocaram a maioria das músicas e, novamente, deu pra ver que o público presente era mesmo fã deles, já que o coro foi constante. “Babilônia” foi uma das que mais me pareceu animar a galera já no começo do setlist (ou, de repente, foi só a minha impressão por gostar tanto dela).

Outra das minhas favoritas, a belíssima “Voy Muriendo”, apareceu – uma surpresa, já que é uma das baladas mais lentinhas e é um chororô só. Foi incrível ter a oportunidade de cantar com eles “voy muriendo de a poco / voy buscando mis ojos / voy quemando tus fotos” depois de tanto ouvir no disco.

Obviamente, o ponto alto da noite foi quando começou o famoso “da da da di da da da” e a plateia inteira cantou “Grafitti” a todo volume. O som segue divertido há oito anos, fazer o quê?! (Resposta: aprender o resto da letra, no caso de quem só sabe o “da da da”.)

Em resumo, acho que dá pra dizer que os argentinos foram fiéis às versões do álbum e fizeram um show super satisfatório. Quase previsível, só que de um jeito que só quem já teve o prazer de dissecar um mesmo álbum por milênios sabe como é bom. E desconfio que esse era o caso da galera presente naquela noite.

Na saída da banda, eles pararam pra conversar com quem estava ali na pista, e eu aproveitei pra descolar uma entrevistinha rápida. Os queridíssimos me atenderam prontamente – suspeito que até agora não entenderam que o nome da revista era Noize, mas tudo bem, toparam numa boa.

Perguntei como estava sendo a recepção do Brasil e eles disseram “Incrível! Temos sido recebidos de uma maneira maravilhosa, que jamais teríamos imaginado (…) Isso é maravilhoso e, por ser algo que não foi planejado, tem um efeito muito louco em nós”.

Quando perguntei como era ver um público daqui cantando todas as letras daquele mesminho álbum que lançaram há tanto tempo, eles foram igualmente adoráveis: “É muito estranho, porque [mesmo sendo tão perto] é outro país e, pra gente, isso de nos conhecerem tanto, é novidade. Tomara que possamos continuar criando coisas novas e isso siga se repetindo”.

Eles contaram ainda que já vão começar a gravar um álbum novo, que deve sair em março ou abril (YAY), e que a ideia é seguir voltando pra vizinhança brasileira.

Que boa notícia, né?! Tomara que eles consigam manter a identidade dos primeiros trabalhos, com suas melodias doces e letras de uma delicadeza encantadora. Eu certamente adoraria ter mais um disco desses pra ouvir até do avesso.

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19/10/2015

Jornalista por formação, questionadora e overthinker por não conseguir evitar.
Ingrid Flores

Ingrid Flores