Mais um ano se passou e uma avalanche de lançamentos incríveis entrou pelos nossos ouvidos. Teve banda que voltou depois de muito tempo em silêncio, como o Gorillaz e o LCD Soundsystem, teve vocalistas que se arriscaram em carreira solo, como Tim Bernardes e Xenia França, teve rap falando de candomblé, teve disco music sobre divórcio, teve sambas absurdos, teve psicodelias sintéticas, teve indie pop pra dançar… Teve tudo isso e muito mais.
O método para fechar a lista foi o mesmo de 2016: perguntamos ao pessoal da NOIZE quais foram seus álbuns preferidos e, a partir daí, montamos a listagem com nossos discos favoritos do ano – já sabendo que, como sempre, muitos álbuns incríveis acabariam ficando de fora simplesmente porque toda lista tem uma limitação de espaço.
Confira abaixo nossos 50 discos favoritos de 2017:
TOP 25 DISCOS NACIONAIS
1) Curumin – Boca
Dono de uma musicalidade espontânea, faz tempo que Curumin não precisa provar nada para ninguém. Boca é um disco que chega de mansinho, que soa despretensioso, mas basta seguir o fio da meada de suas faixas para se perder em um labirinto de batuques e beats difícil de querer sair. Seja por costurar com maestria as sonoridades tipicamente brasileiras ao reggae jamaicano e ao funk dos Estados Unidos, seja por falar com crueza e lirismo sobre o que qualquer um pensa ao ler as manchetes dos jornais, seja por reunir um time que inclui Russo Passapusso, Rico Dalasam e Ava Rocha, Boca foi o nosso disco nacional favorito lançado em 2017.
Por Ariel Fagundes
2) Baco Exú do Blues – Esú
Diogo Moncorvo criou o disco de rap do ano quando resolveu transformar sua caminhada entre o inferno e a glória em música. Em Esú, Baco canta sobre Candomblé, reverencia sua origem africana e dá uma aula sobre mitologia e espiritualidade, quando desconstrói a imagem de deuses e vilões serem divididos entre o bem e o mal. O discurso inteligente do debut de Baco Exu do Blues se destaca entre os lançamentos de 2017 – e também dos últimos anos – por abrir caminho pra uma nova vertente dentro da cena, que usa as palavras certas pra colocar na roda a diversidade da música nordestina ainda ignorada pelos fãs de rap. Toda essa densidade cultural e sentimental resultou num álbum que exige ser ouvido mais de uma vez surpreende com um novo detalhe genial a cada play.
Por Daniela Barbosa
3) Xenia França – Xenia
Xenia trouxe sua história pessoal e ancestral ao seu primeiro álbum solo que é inundado de elementos do que ela mesma nomeia (e é) música preta. Jazz e rock se unem a batidas orgânicas de percussão da cultura yorubá em um transe que chega a flertar com rap e o R&B. Verdades são ditas com a voz negra e feminina de uma mulher lutadora, intelectualizada, doce e categórica ao mesmo tempo. A colaboração da poetisa Roberta Estrela D’Alva é também essencial. Palmas pra Xenia!
Por Marília Feix
4) Letrux – Letrux em noite de climão
Depois de quase dez anos no duo Letuce, Letícia Novaes decidiu brincar com outras sonoridades e mergulhar de cabeça numa mistura contagiante de ironia e densidade. Assim nasceu Letrux Em Noite de Climão. Climão é a única palavra possível para descrever o que acontece nas onze faixas do álbum, pesado, caótico e decante, que parece narrar os vários estágios de um amor fracassado ou de uma festa não tão boa assim. Ao lado da produção de Natália Carrera e André Bragantti, Letrux consegue misturar a euforia da pista de dança com a melancolia de uma ressaca que não vai embora. Cada faixa que passa é uma nova surpresa, e ver o disco sendo tocado ao vivo é uma experiência visceral difícil de esquecer. Entre batidas animadas e letras tragicômicas, Em Noite De Climão sob hipótese alguma conseguiria passar batido na festinha.
Por Marta Karrer
5) Tim Bernardes – Recomeçar
Não era segredo pra ninguém que Tim Bernardes é um dos grandes compositores da sua geração – os três discos d’O Terno já deixam isso bem claro. Mas longe do instrumental enlouquecido e das viradas contagiantes do trio paulistano, Tim pode mostrar o lado mais intimista das suas letras no seu primeiro disco solo. Recomeçar é um disco solo, aliás, no sentido mais literal da palavra: Bernardes assina os arranjos de banda, cordas, sopro, harpa, a produção, a direção musical, a mixagem e, é claro, todas as letras. Com melodias singelas e orquestrais ao mesmo tempo, o frontman d’O Terno consegue ir fundo nas suas tristezas mais profundas a ponto de fazer com que elas apelem para qualquer pessoa comum, ao mesmo tempo nunca perdendo a perspectiva de que toda tristeza faz parte de uma história maior de um filme que obrigatoriamente tem um final feliz. “Recomeçar” é um disco cinematográfico, introspectivo, para ouvir de olhos fechados do início ao fim, que bate no fundo da alma justamente por ser singelo e sensível em um ano onde isso foi mais necessário do que nunca.
Por Marta Karrer
8) Flora Matos – Eletrocardiograma
9) As Bahias e a Cozinha Mineira – Bixa
10) Aláfia – São Paulo Não é Sopa
11) Rincon Sapiência – Galanga Livre
12) Rodrigo Campos, Juçara Marçal, Gui Amabis – Sambas do Absurdo
16) Trupe Chá de Boldo – Verso
18) Domenico Lancellotti – Serra dos Órgãos
19) Rimas & Melodias – Rimas & Melodias
20) Felipe S. – Cabeça de Felipe
21) Giovani Cidreira – Japanese Food
22) Lucas Santtana – Modo Avião
TOP 25 DISCOS INTERNACIONAIS
1) Kendrick Lamar – DAMN.
O mundo nunca mais foi o mesmo desde que Kendrick Lamar soltou como um meteoro o DAMN., já considerado o melhor de 2017 desde o lançamento em abril – afinal, seria impossível alguém chegar ao menos perto do que o rapper conseguiu fazer. Kendrick criou uma obra prima, embalado por beats explosivos e rimas furiosas, que confundem a história conturbada da negritude na América com a história do próprio rapper. Assim como já tinha feito com o “To Pimp A Butterfly”, também eleito unanimemente melhor do ano em 2015, Lamar solta o verbo pra criticar o governo e a polícia americana, bate de frente com seus parceiros do hip hop e conseguiu colocar tudo isso em destaque no mainstream e nos charts, mesmo sem fazer um som pop. Ficou difícil outro artista criar um disco tão icônico e não é novidade que a grandiosidade do DAMN. só será batida quando o próprio Kendrick Lamar soltar outro disco. Não é à toa que o cara é considerado o melhor rapper vivo e não cansa de subir ainda mais dentro do seu próprio pódio.
Por Daniela Barbosa
2) Gorillaz – Humanz
Pusha T, um dos inúmeros colaboradores do apocalíptico Humanz, disse que Damon Albarn devia ter uma espécie de bola de cristal quando, no início de 2016, pediu ao rapper que imaginasse como deveria soar um álbum em um cenário onde Donald Trump era o novo presidente dos EUA. À parte a premonição e o teor político que permeia as letras, as variações de sonoridade em Humanz já levaram críticos a dizer que o álbum soa mais como uma playlist do que um álbum. Mas que época melhor pra um álbum soar como uma playlist do fim do mundo do que em 2017? Rezemos pra que não em 2018.
Por Rodrigo Laux
3) Beck – Colors
Como muitos esperavam, a volatilidade de Beck não o permitiu dar sequência à introspecção de Morning Phase. Em Colors, o músico se atirou de cabeça nos vastos oceanos do pop experimental e colocou todo mundo pra dançar. Sua capacidade de criar melodias grudentas combinadas com arranjos incomuns que vão do rock ao rap e do pop ao underground, continua sendo uma das pérolas mais reluzentes da música norte-americana. E Colors ainda tem espaço pra outras surpresas. Não estranhe se detectar elementos do rock inglês, como um Beatles em “Dear Life” ou um Blur em “I’m So Free”.
Por Rodrigo Laux
4) Homeshake – Fresh Air
Foi em 2014 que o guitarrista Peter Sagar largou a banda de apoio do canadense Mac DeMarco para se dedicar ao seu projeto solo, o Homeshake, mas só agora, com o lançamento do seu terceiro disco, Fresh Air, parece que ele realmente se encontrou. Enquanto seus lançamentos anteriores abusavam de um experimentalismo que poderia soar quase desleixado, agora, tudo se encaixou. Com uma produção que ousa e experimenta bastante, mas que ainda assim traz um aroma pop facílimo de escutar, faixas como “Every Single Thing” e “Getting Down Pt. II (He’s Cooling Down)” trazem um embalo sedutor e narcótico, que inebria logo na primeira ouvida. E depois da primeira, pode ter certeza, você vai querer mais.
Por Ariel Fagundes
5) LCD Soundsystem – American Dream
Ouvindo o American Dream, dá pra entender por que James Murphy disse que não quer mais produzir outros artistas, que só consegue fazer música com o LCD Soundsystem. O comeback menos inesperado da década é uma sequência quase perfeita ao This Is Happening, representando um LCD que continua abraçado ao art rock, ao new wave, ao “dance-punk” – mas, aqui, tudo está mais tenso e sério, ainda menos sutil e mais jogado na sua cara. Murphy xinga quem quer e sem medo, celebra o fim de amizades e homenageia os ídolos que partiram nesse meio-tempo. É um disco de paixão e amargura, de uma consciência profunda sobre os perrengues, mas se mantendo no modo de ataque em frente a eles. É fritação pura, inspirando reações que vão desde o “nossa, que chato” ao “pô, disco perfeito pra treinar”. É o disco que a mente do Bowie de Berlim faria se ela vivesse no mundo atual. Enfim, é o que James Murphy quer e ponto final.
Por Leonardo Baldessarelli
6) Sharon Jones – Soul of a Woman
12) Kamasi Washington – Harmony of Difference
13) Vulfpeck – Mr. Finish Line
16) St. Vincent – Masseduction
19) Queens Of The Stone Age – Villains
20) Vince Staples – Big Fish Theory
24) Courtney Barnett e Kurt Ville – Lotta Sea Lice