Marcelo Perdido e João Erbetta | Faixa a faixa de “Inverno”

02/07/2015

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação

02/07/2015

Marcelo Perdido está em seu novo disco como aparece na capa: nu. Inverno traz dez faixas que falam sobre a relação do compositor com a cidade de São Paulo onde vive. A naturalidade da voz e do violão de Perdido ganham a produção de João Erbetta no sucessor de Lenhador (2014). Em um faixa a faixa exclusivo pra Noize, eles nos contam sobre as canções da nova estação de Perdido.

Valorizando a simplicidade das canções, o álbum ainda conta com as participações de Mariana Corado (violino), Henrique Caldas (rabeca) e o uruguaio Gonzalo Deniz (vocais). São Paulo e sua selva de pedras, arranjos, família, tensão e calmaria. Veja o faixa a faixa do disco Inverno com Marcelo Perdido e João Erbetta:

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1. “Inverno”
Perdido: Quem bate? É o frio! O Itunes e as platarformas de streaming censuraram o sample das lojas Pernambucanas que abre o disco, mas é possível ouvi-lo na versão original disponível para download no site, é a canção que abre o disco e é o primeiro dos muitos soquinhos na barriga que a cidade de São Paulo me dá.

Erbetta: Quando eu ouvi essa música pela primeira vez e soube da ideia de abrir o disco com ela eu percebi a coragem desse disco. A música é incômoda e o arranjo amplifica essa sensação de desconforto com o inverno e suas consequências.

2. “Saturno”
Perdido: Muito se fala do retorno de Saturno, ele serve como muleta muitas vezes para explicar algumas pequenas perturbações, não sei se acredito ou não, mas em mim bateu no ano passado, repensei um pouco quem eu estava me tornando, meu redor e etc.

Erbetta: O arranjo de violino mais solto caminha com a busca por esse lugar, essa cidade e essa procura por nós mesmos.

3. “Saúde”
Perdido: Cuidar da saúde tá na moda, tá no Facebook, tá na categoria demagogia, comigo é assim, digo que me cuido, mas não me cuido, e aí me arrependo. Tem gente que capricha mais em não se cuidar, tomando bomba, abusando e nem sempre conseguindo colocar o trem para andar.

Erbetta: Essa é uma das canções mais “rock” do disco e tínhamos que pensar numa maneira dela “andar” mais, mantendo a instrumentação sem bateria. O baixo em dobra com a guitarra faz esse papel. Já na fase de mixagem o Perdido teve a brilhante ideia de ter uma ponte com violões de cordas de nylon fazendo um contraponto mais singelo com a letra, mais agressiva.

4. “Defeito”
Perdido: Escrevi quando meu pai vacilou e teve que abrir o peito pela segunda vez, foi mais punk dessa vez, vi ele lá debilitado numa cama de hospital, entrei numa viagem sobre como somos máquinas complexas que quando dão defeito causam pânico nos demais. Aí começa uma fuga por lugares e lembranças, para concluir o quão sozinho no fundo eu me sentia, e como aquela situação toda me afetava.

Erbetta: A música de arranjo mais simples, que acompanha a voz na sua mensagem reta. Uma música de acampamento para melancólicos anônimos.

5. “Todo Lugar”
Perdido: Letra pequena né? Nem parece música minha. Uma contestação de que não adianta muito fugir, seus problemas vão lhe acompanhar.

Erbetta: Uma de minhas preferidas, com rabeca e final de festa hippie. Linda canção.

6. “Cidade Pequena”
Perdido: Escrevi depois de ver num show do Maglore um cara na plateia cantando “Avenida Sete” chorando emocionado, pensei ‘poxa, eu também tenho para onde voltar, eu também tive uma cidade que era minha’. Eu fui jovem e não dei valor quando morava no interior de São Paulo, ainda me sentia ligado afetivamente ao Rio, mas hoje lembro o quanto foi bom ter morado em uma cidade pequena.

Erbetta: Embarquei na emoção dessa música já por causa do vídeo gravado em Santa Rita do Passa Quatro e por também “sofrer” com as questões de para onde ir ou para onde voltar na vida. Tem um arranjo muito simples de violino que dá as mãos para a cantoria de Perdido. Emocionante.

7. “Egoísmo”
Perdido: a música mais bonita do disco, da minha carreira até agora, méritos do Erbetta que tinha no seu repertório todos esses momentos, além do mar, temos o momento Bahia e Hollywood que nas nossas cabeças fariam sentido juntos. Eu me emociono muito com ela, barra pesada!

Erbetta: Essa canção foi feita a quatro mãos e foi um momento muito especial pra mim. Fomos montando o arranjo em função da melodia sugerida pelo Perdido e a música foi acontecendo verso a verso, no estúdio, ao vivo. Ela tem uma tensão inicial que se esvai num final que chamamos de “mar” e que traz a calma diante do imponderável.

8. “Como Ser Feliz Só”
Perdido: Geração smartphone, efêmera… as notícias, os memes, os amores… nada dura. As pessoas se divertem sozinhas postando coisas que apenas elas acham incríveis, e tudo bem se só elas curtirem. Sei lá, tanta gente já escreveu sobre aprender a ser só, mas sempre motivado por uma desilusão amorosa. Hoje o momento é outro, as pessoas são desilusões, não o amor.

Erbetta: Uma das canções mais tristes do disco, na minha opinião. Criei um arranjo tristemente compatível.

9. “Tudo de Bom”
Perdido: O grande Gonzalo Deniz canta nessa que é minha releitura do samba “Amigo é para essas coisas” numa versão SP 2.0. Aquele papo de vamos marcar uma breja, a falta de real interesse nas pessoas, o foco no umbigo. Tem minha frase favorita do disco: Ana fez massa sem molho, é a cara de São Paulo. Acho que isso reflete a cidade que eu moro: colonização italiana e falta de tempo para fazer um macarrão direito, para que serve então?

Erbetta: Adoro a interação entre os dois personagens. Há uma resignação no ar e o arranjo de violinos ajuda a conduzir a coisa toda. É outra das minhas preferidas.

10. “SP, O Cavalo e o Violão”
Perdido: Minha despedida, quando acaba eu sempre imagino que eu largo o microfone no chão, ele bate, faz barulho e depois soa uma microfonia enquanto eu já tô lá longe!

Erbetta: Essa é outra canção “rock” do disco e também tratamos ela com mais pressão, sem sair da instrumentação mínima. O verbo só ganha com todo o espaço deixado para a cantoria. Belo final para um disco denso e adulto.

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02/07/2015

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Ariel Fagundes

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