RIP Negrete | Vida e morte do baixista do Legião + As Razões Para Ouvir

23/02/2015

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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23/02/2015

Foi encontrado ontem o corpo de Renato Rocha, o primeiro baixista do Legião Urbana, em um hotel em Guarujá, no litoral paulista. Conhecido também pelos apelidos de Negrete e Billy, o músico tinha apenas 53 anos e, de acordo com a perícia da Polícia Militar, foi vítima de um infarte. Renato estava internado em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos na cidade de Cotia, na região metropolitana de São Paulo, mas podia sair de lá nos finais de semana e resolveu passar seus últimos dias em Guarujá com uma amiga. Foi ela que encontrou o corpo no quarto do hotel onde, segundo a PM, não havia nenhum resquício de drogas.

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Negrete gravou os três primeiros discos da banda – Legião Urbana (1985), Dois (1986) e Que País É Este – 1978/1987 (1987) – e foi coautor de músicas emblemáticas do Legião, como “Quase Sem Querer” e “Daniel na Cova dos Leões”. Segundo o guitarrista Dado Villa-Lobos afirmou em algumas entrevistas, o baixista saiu do grupo por seu problema com o álcool e atrasos em shows. Apesar do sucesso explosivo de vendas dos primeiros discos da Legião, desde que saiu da banda, Renato Rocha foi esquecido pelos holofotes da mídia até 2012, quando o programa Domingo Espetacular, da Rede Record, transmitiu uma longa reportagem mostrando que o músico estava morando nas ruas do Rio de Janeiro em uma condição deplorável causada pelo vício em crack.

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A sua morte repentina tem motivado homenagens dos músicos que lhe conheceram. Os dois remanescentes vivos do Legião Urbana, Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá, publicaram em suas redes sociais palavras bonitas e fotos com Negrete. Fê Lemos, que tocava bateria no Aborto Elétrico junto com Renato Russo e, depois, formou o Capital Inicial com Dinho Ouro Preto, publicou um texto emocionado em seu blog sobre a morte de Negrete. Dinho também se manifestou em sua página no Facebook (veja abaixo).

As Razões Para Ouvir | Legião Urbana, Dois e Que País É Esse – 1978/1987, por Pedro Jansen

O primeiro disco da Legião Urbana saiu no início de 1985 e ainda hoje acho um dos melhores trabalhos do grupo. É recheado de clássicos lado B que quase ninguém conhece, dada a explosão que “Será”, “Ainda É Cedo”, “Geração Coca-Cola”, “Soldados” e “Teorema” representam em forma de hits. Aqui Negrete mata muito a pau, com linhas de baixo que complementam e até expandem as limitações dos demais instrumentistas da banda. Enquanto todo o resto é simplório, Rocha era detalhista, criativo e desenvolto. As razões para ouvir esse primeiro disco da Legião se enumeram abaixo:

01 – “Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação” (e quem nunca se perdeu, né?)
02 – “Você não tem ideias pra acompanhar a moda, tratando as meninas como se fosse lixo” (ou então espécie rara, que você não respeita)
03 – “Ah, se eu soubesse lhe dizer o que fazer pra todo mundo ficar junto, todo mundo já estava há muito tempo.”
04 – “Ela também estava perdida e por isso se agarrava a mim também. E eu me agarrava a ela, porque eu não tinha mais ninguém.” (defina relacionamento complicado)
05 – “Vivendo num planeta perdido como nós: quem sabe ainda estamos a salvo?”
06 – “Depois de 20 anos na escola não é difícil aprender todas as manhas do seu jogo sujo.”
07 – “Ainda me lembro aos três anos de idade, o meu primeiro contato com as grades. O meu primeiro dia na escola – como eu senti vontade de ir embora.”
08 – “Essa justiça desafinada é tão humana e tão errada. Nós assistimos televisão também, qual é a diferença?”
09 – “Se lembra quando era só brincadeira, fingir ser soldado a tarde inteira?”
10 – “Parece energia, mas é só distorção. E parece que sempre termina, mas não tem fim.”
11 – “Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, e nem desistir, nem tentar… Agora tanto faz.”

O bom de falar de Legião é que tudo que importa já foi dito. Todas as críticas, todos os elogios, todas as piadas. Não há nada de novo no reino de Renato Russo. Mas ainda assim é muito bom revisitar a trinca de discos que abre a carreira da banda. Dois é o segundo dos discos e mostra uma evolução e tanto do primeiro disco. Todas as razões para ouvir esse disco de 1986 seguem abaixo:

01 – “A insegurança não me ataca quando erro e o teu momento passa a ser o meu instante.”
02 – “Me fiz em mil pedaços pra você juntar e queria sempre achar explicação pro que eu sentia.”
03 – “Às vezes é difícil esquecer: ‘Sinto muito, ela não mora mais aqui’.”
04 – “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?”
05 – (instrumental)
06 – “Todos os dias, antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia. Sempre em frente, não temos tempo a perder.”
07 – “‘É tão emocionante um acidente de verdade!’”
08 – “Se afaste do abismo, faça do bom-senso a nova ordem.”
09 – “E a matilha de crianças sujas no meio da rua – música urbana.”
10 – “Às vezes parecia que, de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo, teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais.” (BAH)
11 – “Deve haver algum lugar onde o mais forte não consegue escravizar quem não tem chance.” (Haverá esse lugar?)
12 – “Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.”

Chegar aos terceiro disco da Legião Urbana, que intercala sucessos da época em que Renato Russo compunha e tocava sozinho (sob a alcunha maravilhosa de O TROVADOR SOLITÁRIO) com músicas compostas à época, nos mostra um lado ainda menos lapidado da banda, mais perto da tosqueira do punk que originou a banda e com um Negrete mais direto e escondido na produção (porquinha, diga-se). Ainda assim, grande colaboração do cara que – após esse disco – foi expulso da banda por abuso de álcool e outras drogas. Abaixo, as razões para ouvir esse disco cheio de lados B muito bons.

01 – “Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação.” (a rima é tenebrosa, mas é menos verdade por isso?)
02 – “Os tambores da selva já começaram a rufar: a cocaína não vai chegar.”
03 – “Se eu não faço nada, fico satisfeito. Eu durmo o dia inteiro e aí não é direito, porque quando escurece, só estou afim de aprontar.”
04 – “Vamos beber livros e mastigar tapetes, catar pontas de cigarros nas paredes.”
05 – “Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão.”
06 – “A noite acabou, talvez tenhamos que fugir sem você.”
07 – “Não entendia como a vida funcionava.” (alguém entenderá?)
08 – “Se fosse só sentir saudade, mas tem sempre algo mais.”
09 – “Bondade sua me explicar com tanta determinação exatamente o que eu sinto, como penso e como sou – eu realmente não sabia que eu pensava assim.”

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23/02/2015

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