Música brasileira universal e o valor do ordinário: conheça o som de AKEEM Music

19/01/2018

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Daniela Barbosa

Por: Daniela Barbosa

Fotos: Divulgação

19/01/2018

Depois de passar por bandas gaúchas e gringas, se apresentar no Canadá e na Califórnia, Akeem Delanhesi entendeu que sua pira real era cantar sozinho – e assim nasceu o projeto solo AKEEM Music. O disco de estreia do projeto, The Real Meaning of Revolution, Only Astronomers Know, saiu no final de 2017, como uma celebração aos detalhes ordinários do dia a dia, desde o real significado da palavra “revolução” até o despertar das emoções pessoais sobre os visuais e as composições alternativas.

Na troca de ideia que tivemos pós-ensaio com o cara, Akeem explicou o que a tal pira de trabalhar sozinho virou e onde espera chegar. Mesmo com uma sonoridade lotada de referências do indie gringo e letras em inglês, ele não quer ter que escolher um lado. “Se tu me perguntar o porquê de cantar em inglês, eu vou te perguntar ‘por que não cantar em inglês?’. Eu não quero só inglês ou só português. Desde o início da música do Brasil, o pessoal já cantava em inglês: Caetano Veloso e o Transa, Novos Baianos, o próprio Jorge Ben Tábua de Esmeraldas, que é a maior influência, tem inglês. Eu vejo que a música brasileira tem muito contato com a língua e não é que seja um bloqueio. Eu quero ser um artista brasileiro que canta em inglês, mas ainda ser o artista brasileiro. É o rolê de ter um som universal – e que seja universal até pro Brasil.”

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O tal projeto solo é, na verdade, uma mistura de amigos e artistas que sempre inspiraram Akeem, desde quando começou a tocar violão aos 12 anos e logo sacou que o caminho era a música. Entre as colaborações de produção estão ex-integrantes da Wannabe Jalva, João Augusto da Silva e Tiago Abrahão, Felipe Kautz da Dingo Bells e Pedro Petracco. As combinações de vocais ficaram com Erick Endres na faixa “Cyber Love Pt 2” e do ex-parceiro de Cartolas Dé Silveira em “Extraordinary in The Ordinary”, música que acabou de ganhar um clipe para ilustrar toda a história de misturar o surrealismo com o cotidiano. “Esse clipe é diferente dos outros porque eu quis fazer um clipe bonito, mais sério. A letra fala do extraordinário no ordinário, como são legais as coisas simples, como pode ser legal acordar cedo – porque ruim mesmo é estar mal no hospital. Tudo tem uma beleza nas coisas ordinárias da vida, aí partimos desse clichê do teatro, do terno, e brinquei com coisas extraordinárias, como os ninjas e os movimentos non-sense, que saíram de um programa de TV japonês.” Quanto à narrativa do clipe, Akeem não espera grandes interpretações. A ideia é gerar espanto quanto ao significado – ou deixar cada um entender como quiser. “A gente vê as coisas como a gente é, e não como elas são. Aí, quando alguém olha meu clipe non-sense e acha uma merda, é porque talvez a pessoa não esteja preparada pra ver ou não aceita coisas que não conseguem ser explicadas – e isso é uma coisa dentro de ti. Meu clipe é só o exemplo”. O vídeo tem a produção da DeD Studio e a direção do próprio Akeem Delanhesi, em parceria com Anderson Dorneles.

O título, que pode ser considerada a maior reflexão do disco, saiu da série Fargo: “O cara explica uma coisa muito sinistra. Quando a gente pensa em revolução, a gente pensa em guerra, mas é só nome de quando um objeto celeste completa um círculo, é o início e o fim de um ciclo. Isso é muito poético, então tive que fazer disso o nome do álbum. Eu gosto de sempre questionar o real significado das coisas. Por exemplo, quando tu fala em ‘trabalho’, vamos falar sobre o que é ‘trabalho’ – ‘revolução’ é a mesma coisa. Então coube perfeito.”

Antes mesmo do disco estar pronto, Akeem levou seu som pros Estados Unidos com uma turnê de nove shows marcados daqui. Entre um show no bar do Johnny Depp em LA e uma noite com Mark Foster, do Foster the People, os life goals da carreira foram sendo atingidos, menos de um ano após o lançamento do primeiro single. “Consegui fazer uma turnê na gringa com os meus sons e com o meu nome totalmente independente”. No meio disso, ele conseguiu chamar Darwin Smith, da banda Darwin Deez, pra masterizar o álbum, e ele acabou dando o pitaco essencial do disco. “Eu mandei a tracklist e ele respondeu:‘Sei que não tenho que me meter, mas vou porque já temos essa intimidade: não lança assim. Vou te dar uma dica e vê o que tu acha’. Ele mudou toda a ordem e eu aceitei na hora. Tudo fez sentido.”

Menos de dois anos depois de começar a produção do primeiro single, Akeem já conseguiu destacar seu som e dar uma nova vida pra tal cena do rock gaúcho, que volta com uma bagagem muito mais ampla, como ele mesmo diz. “Eu não diria que é uma cena rock, é algo mais alternativo. Porque voltou muito mais com a cara das pessoas. Tá voltando agora com uma bagagem do que, por exemplo, o pop trouxe, que o rap trouxe, e todos os outros rolês que estavam acontecendo durante esse hiato e acabaram contribuindo muito pra essa bagagem de ser plural e ser mais dançante. Eu gosto de fazer as coisas do meu jeito e azar dos julgamentos. E talvez isso encoraje alguém que também esteja querendo lançar seu trabalho.”

Sem planos de grandes eventos e contratos na carreira, a ideia é continuar fazendo um som experimental e eloquente e, se der, atingir o máximo de pessoas possível com isso. “Eu queria muito ter uma música na novela. Mas não por grana, por estar tocando na novela, por história de vida. Pra poder falar pro meu filho ‘teu pai já tocou na novela!’. Mas em função de como eu escrevo e como eu componho, minhas composições não são tão pop ainda. A tendência do projeto é ser mais nichado, ser mais Little Joy e menos Amarante, por exemplo. Meu papel é mostrar minha arte em um ambiente totalmente desconhecido e tentar fazer com que pelo menos a galera entenda. Se em algum momento entrar um produtor ou um selo que vá me encaixando, eu vou ter que me adaptar, mas eu não quero perder a essência.”

Além dos clipes de “Extraordinary in The Ordinary”, “Cyber Love Pt 2” e “Could You Please?”, o projeto de lançar um vídeo para “Anymore!” também já existe. Enquanto AKEEM Music não volta com mais surrealismos e questionamentos, você pode assistir ao som do cara no canal do Youtube e ouvir o debut album The Real Meaning of Revolution, Only Astronomers Know em todas plataformas de streaming.

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19/01/2018

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa