NOIZE Sessions | Rubel e a captura do som de cada palavra

26/12/2016

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Joana Barboza

Por: Joana Barboza

Fotos: Pedro Krum e Rafael Rocha

26/12/2016

No meio de mais de uma centena de pessoas, Rubel conseguiu encontrar amigos de diferentes lugares do mundo sintonizados na mesma “frequência” que ele. Assim, nasceu Pearl.

O álbum – que leva o nome da casa comunitária que viveu em Austin (EUA) – é uma fotografia daquela experiência em música. Uma forma de capturar toda aquela verdade que estava vivendo. Uma verdade que de tão particular, facilmente, se tornou universal.

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Depois de três anos e a sensação de dever cumprido, Pearl se despediu esse ano. Rubel segue sua caminhada com um novo e ambicioso projeto – totalmente diferente do que vem desenvolvendo até agora – ganhador do Edital Natura Musical 2016 e com o selo de aprovação dos fãs.

Ao longo de todos esse anos, as pessoas entoaram “Quando Bate Essa Saudade” incontáveis vezes e continuarão cantando o sentimento mais puro e global de todos: O AMOR. Aperta o play e vem viver isso conosco:

“Pearl” foi idealizado em 2011/ 2012, enquanto você estava em Austin e viveu uma experiência inusitada – morando numa casa com 100 pessoas. Como aconteceu o processo criativo para esse disco?
Eu fui para Austin em 2011 e não morava nesta casa, chamada Pearl. Um dia, fui numa festa lá. Estava tocando uma banda e tinha muita gente…quando coloquei o pé na casa, senti algo muito forte. Pensei “preciso vir morar aqui! Essa casa vai me trazer alguma coisa”. Senti isso muito forte em mim. Dai, comecei a fazer de tudo para ir morar lá!

Quando apliquei não tinha vaga, então torci muito, vibrei, implorei. Parece que deu certo, porque depois de duas semanas me ligaram dizendo que tinha um lugar pra mim. Nossa, fiquei muito feliz. Fui para lá e de 100 – talvez 120 – pessoas, devia ter uns 20 ou 30 músicos na casa. Então, foi um encontro explosivo (em todos os sentidos) de amizade, de música, de sintonia…

Inclusive, antes mesmo do disco, formei uma banda de música brasileira… De cover com um cara da Hungria e outro do Chile. Tocávamos Jorge Ben e Caetano Veloso nas festinhas. Que loucura, né?! Em paralelo, fomos fazendo um projeto folk com as composições de cada um de nós. E antes de voltar pro Brasil, tive essa ideia de registrar aquilo que estávamos fazendo para levar comigo sempre. Como se fosse uma fotografia daquela experiência, só que em música.

Então, esse disco começou com a ideia de ser uma captura de um momento e não com a ambição de ser propriamente um álbum. Pensando nisso, você acredita que foi bem sucedido nesse registro? Quer dizer, você acredita que conseguiu atingir o objetivo de eternizar no tempo aquela vivência?
Muito! É impressionante como a música tem esse poder. O poder de captar a sensação mais pura. Eu ainda me surpreendo às vezes ouvindo, porque sinto a mesma coisa que sentia quando estava lá. Acredito que um dos motivos do álbum estar ressoando até hoje (foi lançando em 2013, estamos no final de 2016) e ele ainda está atual, vivo para muita gente. Penso que é principalmente por causa disso, pois conseguimos captar uma essência muito pura do que era aquilo, do que estávamos vivendo.

Além de ser uma composição bacana ou do arranjo. Acho que tem muito a vibe do lugar e a emoção de estarmos ali juntos, o encontro.

Como foi convergir diferentes músicos dos mais diversos locais do planeta, com diferentes influências em um único objetivo? Vocês planejaram ou aconteceu?
Então, a maluquice é que a gente ouvia as mesmas coisas. O que eu ouvia no Brasil nenhum dos meus amigos daqui ouvia. Quando cheguei lá, me dei conta que esses malucos ouviam as mesmas coisas que eu. A gente tocava as mesmas coisas, pensava a música idêntica. Muito doido!

Nunca houve uma discussão do tipo “será que vamos por esse caminho ou por aquele?”, estávamos na mesma página.

Digo que é muito doido, porque (pensa!) eram cinco malucos que cresceram um em cada canto do mundo estavam na mesma “frequência de rádio”.

Este tipo de sincronia é algo incrível quando acontece, realmente. Você comentou sobre a música se manter atual e “Quando Bate Aquela Saudade” já está com mais de dois milhões de plays no Spotify e mais de seis milhões de views no Youtube. O que você acredita que está música causa nas pessoas para ter estourado dessa forma?
Um grande mistério. Gostaria de saber a resposta para essa pergunta para poder replicá-la. Mas não tem como. Se eu tivesse que apostar em algo, seria na verdade. A verdade que eu coloquei ali veio muito do fundo do meu corpo e do meu amago. Acredito que por ser uma verdade tão particular, as pessoas acabam associando com a verdade delas. Por ser tão particular se torna universal.

Olhando a trajetória de Pearl, que iniciou lá em 2011, lançado em 2013. Considerado o “Melhor Álbum do Ano”. E agora vivendo essa turnê de despedida. Como está sendo esse processo de deixar a ”Pearl” ir?
Está sendo muito bom, porque apesar o disco ter sido feito despretensiosamente, quando eu o vi pronto, sabia que tinha algo especial em mãos. Queria que chegasse até muita gente. E agora, finalmente, vejo que está chegando onde imaginava. O que é muito gratificante.

Não sei se dá para entender, porque tem o lado da despretensão e ao mesmo tempo tem o lado de acreditar, de já esperar que isso aconteceria. Então a sensação é de vencer, porque chegamos onde tínhamos que chegar com esse álbum. Portanto já estamos prontos para o próximo.

Estou trabalhando no segundo há bastante tempo, porém só agora tenho a sensação de trabalho cumprido com Pearl.

Falando sobre o próximo disco: parabéns pelo Prêmio Natura! Como foi para esse processo para você? Porque tem muita coisa do disco novo que tem uma proposta completamente diferente do anterior, como o público aceitou esse conceito?
Isso foi o mais divertido para mim. Falar para as pessoas o que quero fazer para o próximo álbum. A votação acabou servindo para expressar a ideia que eu tenho. E tive muito medo, mas muito mesmo, porque é uma mudança muito radical que vamos fazer ao incorporar o Hip Hop. No primeiro dia da campanha, escrevi um textão falando sobre isso, descrevendo qual era o sonho que tinha. E a repercussão foi incrível, porque as pessoas abraçaram muito a ideia. O que me deixou muito feliz…ver as pessoas – genuinamente – embarcando e acreditando ao dizer “Vai! A gente também acredito nesse sonho”.

Algo ótimo, porque ficava muito tempo pensado sobre isso sozinho. Tinha até vergonha de falar que queria fazer um disco de Hip Hop, de certa forma. Dai, foi completamente libertador colocar isso para fora.

Além dessa mudança para o Hip Hop (que não é pouca coisa), o que mais podemos esperar sobre essa nova fase de Rubel?
Acredito vamos manter muito presente a “parada” de contar histórias, é o essencial. É quem somos! Cada música é uma história.

Em relação a letra, o que penso muito é sair da tradição da canção e incorporar o que o Hip Hop traz. Toda a questão da rima e da métrica mais perfeita. Pensar as palavras como instrumento musical. O som de cada palavra importa!

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26/12/2016

Joana Barboza

Joana Barboza