Por Lidy Araujo
Fotos: Pedro Braga
Várias gerações de roqueiros lotaram o Gigantinho, ontem, em Porto Alegre. De avós a netos, todos estavam sedentos pelo Príncipe das Trevas.
E Ozzy Osbourne não decepciona. Surge no palco pontualmente, às 21h. Ovacionado pelo público, a lenda viva a cumprimenta e convida: “go fucking crazy!”. Então, os primeiros acordes de “Bark at the Moon” são ouvidos. Entre saltos e palminhas, o músico atiça a plateia, que oferece um presente bem sacana: uma bandeira do Grêmio. Ozzy aceita, enrola o mimo nas costas e segue o baile, em pleno endereço colorado. Ironicamente, o time estava em ação, ali ao lado, no Gigante da Beira-Rio, para onde muitos dos torcedores dirigiram-se ao final do show.
Já de volta ao seu look total black – e perdoado pelos colorados, Ozzy deu sequência à apresentação com “Let Me Hear You Scream”. Assim, direto, com apenas uma pausa. Entre uma música e outra, se ajoelha no palco, reverenciando o público e mostrando que as sequelas da vida surtiram efeito apenas em sua aparência. Reza a lenda que vendeu a voz ao diabo. Não dá para duvidar, tendo em vista sua capacidade vocal, tão jovem, que destoa de seu andar de velhinho e rosto botocado.
As contradições não param aí. Ozzy no palco é um misto de rock e fofura. Sério, não entenda mal. Ele brinca, joga água no público, pula, bate palminhas, tal qual como uma avozinha. Não fosse pelo peso do som, era bem possível imaginá-lo brincando com os netos no jardim de casa. Ele curte a brincadeira e molha a plateia repetidas vezes, inclusive jogando o resto da água do balde que é mantido estrategicamente cheio pela produção, para que o Príncipe das Trevas se refresque ao longo do show. Aos intervalos, ele corre em direção ao balde, com aquele jeito trêmulo que estamos acostumados a ver na televisão, e afunda a cabeça na água.
Enquanto Ozzy lê atentamente suas próprias letras em dois teleprompters instalados à sua frente, a banda que o acompanha impressiona e tem seu auge lá pela metade da apresentação. É quando o astro principal deixa o palco para se recompor, que Gus G, guitarrista que entrou na banda com a difícil tarefa de substituir Zakk Wylde, dá o seu show particular. Para delírio da plateia, na sequência, o baterista Tommy Clufetos, que inclusive já tocou com Zakk Wylde, senta a lenha num solo de arrepiar. O tecladista Adam Wakeman e o baixista Rob “Blasko” Nicholson acompanham, mas não com menos brilho. Pudera, para estar ao lado de Ozzy, impossível ser meia-boca.
Recomposto, o Príncipe das Trevas volta ao palco para o ponto alto do show. E aí há um desfile de clássicos. “Iron Man”, “Rat Salad” e “War Pigs” estão lá. A hora e meia de espetáculo é fechada com “Paranoid” e um Ozzy sem camisa se despede da gauchada. As luzes se acendem, e o público, ainda em êxtase, questiona a falta de “No More Tears”. Ok, faltou, mas sem lágrimas, por favor.