“Meu pai é conhecido pelas crônicas. Já eu escrevo letras de músicas. Se eu tiver um filho ele provavelmente vai escrever haikais.” Pedro Verissimo nasceu rodeado de livros. A palavra sempre esteve presente na vida do músico e ele decidiu usar isso a seu favor. Vocalista da banda Tom Bloch, Pedro agora está lançando seu primeiro disco solo.
“Esboços” foi produzido por JR Tostoi e reúne músicas de Pedro em parceria com o guitarrista Fernando Aranha. O projeto começou em 2011, com a postagem na internet de faixa a faixa e o pedido para que as pessoas criassem uma imagem que a música representasse para elas. Agora, Pedro lança as canções reunidas em um disco fechado, divulgado somente em formato digital.
O sócio fundador da Tom Bloch Guilherme Dable ajudou a tornar o projeto de Pedro todo visual. Ele fez um desenho para cada single, utilizando traços soltos e aquarelas. As imagens, assim como o álbum completo, estão todas para baixar no site do músico. Nós batemos um papo com Pedro Verissimo pra descobrir mais sobre o primeiro material de sua carreira solo.
Quando tu começou o projeto “Esboços”, em 2011, tu já pensava que iria reunir as músicas em um álbum fechado?
Sim e não. Eu sabia que, mesmo que não virasse um álbum, essas músicas formariam um conjunto. Então tinha que ter alguma coerência criativa entre elas. Mas quando comecei o projeto a maior possibilidade era ser só aquilo mesmo: um site com singles, fragmentado, cada página com uma música e um mural com as criações visuais das pessoas inspiradas por cada uma delas. Era uma exploração de outros formatos, ver como funcionaria a mídia sendo o próprio site. E acho que funcionou pro que se propôs. Mas depois do projeto encerrado me dei conta, que muita gente baixava só algumas e não se ligava de baixar todas. E notei que não era por desinteresse, era por ser estilhaçado demais, espaçado demais. Daí achei que devia facilitar o acesso e colocar todas pra baixar num clic só. A praticidade ganhou. O que eu sabia desde o início é que seria uma obra – despedaçada ou unida – pra baixar de graça.
Pra reunir tudo em um disco só tu deu uma remixada nas músicas. O que foi alterado nas músicas antes de lançar o álbum?
O grande divertimento pra mim no começo desse projeto era o limite de tempo que nos autoimpus: a ideia era finalizar a composição, gravar, mixar e colocar no site sem muito tempo pra pensar. As canções não estavam todas prontas quando lancei a primeira e era um raciocínio meio “adicione água”, um pouco instantâneo e com senso de urgência. Sempre acho que o processo de compor, gravar, mixar toma mais tempo do que deveria, porque sempre pode se mudar um detalhe aqui e outro ali… Queria me colocar numa posição de não ter esse tempo pra enrolar, de ser forçado a lançar como estivesse. E foram sendo lançadas com um espaço que ia de uma semana a 15 dias entre uma e outra, não mais do que isso. Mas é claro que depois do prazo cumprido e de todas lançadas, vários detalhes começaram a ficar mais evidentes. Desde pequenas “costuras” que podiam ser mais bem acabadas até proporções de volume entre um elemento e outro. Só não quis mexer muito, ficamos nos detalhes mesmo. A grande diferença foi a masterização, que é o processo final e mais técnico de todos.
Tu lançou “Esboços” apenas pela internet e deixou para as pessoas baixarem livremente. Tu acha que o trabalho tem mais retorno assim do que se tivesse sido colocado à venda?
Acho que tem mais alcance, vai da facilidade. Mesmo numa época em que o CD ainda existia de fato, os dois álbuns da Tom Bloch foram muito mais baixados do que comprados. Hoje, loja de CD é algo que quase não se encontra mais e o hábito de comprar digital ainda está se firmando. Fiquei pensando que o que eu mais queria era que as pessoas ouvissem. O lucro seria muito pequeno (ou inexistente) se colocasse pra vender. E nesse projeto em específico tem o fato de ter sido patrocinado pela Petrobrás Cultural através de edital e Lei Rouanet. Ser pago por um patrocinador e depois cobrar das pessoas eu achei que era um pouco cara-de-pau.
Os clipes das faixas “Por Aí” e “Paralisa” foram feitos com a direção do Raul Krebs. Como foi o processo de concepção dos clipes com o diretor?
Se dá pra dizer que eu tenho um relacionamento longo e estável na vida, é com o Raul! Amigo de infância, a gente se reencontrou na faculdade e ele acabou sendo, por proximidade e afinidade, o fotógrafo oficial da TB e de todos os meus projetos solo até aqui. Então, sempre que tenho uma ideia – ou vice-versa – não precisa de convencimento, é só partir pra realizar. E esses dois clipes partiram de um fato inescapável: pouca (ou nenhuma) verba. São produções quase caseiras, mas é um conceito que sempre me interessou – o de conseguir resultados grandes de coisas pequenas. Muitas vezes, o que realmente faz a diferença não é o tamanho da produção, mas o olhar. O clipe de “Por aí” é uma tarde no estúdio do Raul, duas câmeras e ângulos inusitados. Só isso. E “Paralisa” é só uma ideia simples e bem fotografada (e uma câmera na traseira de um carro sendo empurrado no braço mesmo).
O que tu gosta no som do teu projeto solo que não tem no Tom Bloch?
Gosto do fato de ser diferente. Não acho que seja melhor (ou pior) em nada, mas foram processos bem diferentes um do outro. Na TB eu tinha uma preocupação em ser contemporâneo, soar como sendo daquele momento. E isso passava muito por recortes de estúdio, loops, sobreposições, tecnologia. Tinha uma participação grande do estúdio – e todos os seus recursos – no resultado final. Nesse trabalho solo, não. O que se ouve na gravação é o mesmo que se ouve no palco, tudo sendo tocado de verdade. Tirando um vibrafone em duas faixas e algumas ambiências colocadas pelo JR Tostoi tudo é minha voz, a guitarra e os pedais do Fernando Aranha, a bateria minimalista do Marcello Cals e o baixo acústico do Claudio Alves. Acho que é mais simples, mais descomplicado.
Pegando a temática de “Daqui Pra Frente”, do disco “Esboços”, o que está faltando na tua vida?
Alguém pra chamar de baby?