Um papo com Luiz Mazetto, o explorador do metal

24/10/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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24/10/2014

Longe dos holofotes que hoje banham bandas como Iron Maiden e Slayer existe uma vasta dimensão obscura de bandas de metal alternativo nos Estados Unidos. Luiz Mazetto explorou esse mundo no seu primeiro livro, Nós somos a tempestade – Conversas sobre o metal alternativo dos EUA (2014). Parte da coleção Mondo Massari das Edições Ideal, a obra aborda desde as raizes dos subgêneros do metal, que passam por grupos como Neurosis e Melvins, até as ramificações mais recentes do sludge, stoner, doom, noise, etc. Jornalista musical há tempos, e metaleiro há mais tempo ainda, Mazetto conversou com dezenas de músicos para as entrevistas que compõem seu primeiro livro. Trocamos uma ideia com ele sobre seu trabalho e o resultado você confere abaixo:

Quando e como começou o seu interesse pelo metal?
Comecei a ouvir metal lá pelos 10, 11 anos, muito por influência do meu pai, que sempre curtiu esse tipo de som e me deu alguns discos antigos, além de ter me levado em shows, principalmente nesses primeiros anos. No início, como costuma acontecer, ficava mais focado no metal tradicional, tanto que meu primeiro show foi um Skol Rock, em 1997, com o Dio e o Bruce Dickinson. Um pouco depois fui entrando no thrash, com Sepultura, Slayer e Metallica, além de bandas “modernas” da época como Pantera e Machine Head. Aí foi uma questão de tempo até chegar a esse metal e rock mais alternativo e estranho, mas sem nunca deixar o metal mais tradicional, incluindo sempre o metal extremo aí, principalmente death e grind.

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Seu gosto pela música influenciou a sua escolha pelo jornalismo de alguma forma?
Influenciou totalmente. Se a música não fosse tão importante pra mim, acho que dificilmente teria escolhido estudar (e trabalhar) com jornalismo. Na época, foi meio que algo que me ajudou, pensar que poderia unir o que mais gostava (música, cinema e literatura), podendo escrever sobre isso. Óbvio que as coisas não aconteceram exatamente desse jeito, porque nunca escrevi sobre música e cultura como um emprego principal, mas foi sempre um sonho que mirei de alguma forma e que felizmente estou realizando com o lançamento do livro, ainda mais tendo o Massari junto no projeto.

N.R.: Fabio Massari dá nome à coleção pela qual sai o livro, a Mondo Massari, lançada no início do ano, junto com a 4ª e homônima obra do jornalista musical.

No livro, você conta que foi em busca de entrevistas, mesmo sem ter onde publicá-las. Como conseguiu tantas entrevistas dessa forma?
Na verdade, as primeiras entrevistas que fiz, sendo que a maior parte delas nem entrou no livro, foram feitas para o meu antigo blog que nem existe mais e era totalmente desconhecido na época. Depois que consegui essa abertura, durante uma viagem para a Califórnia, publiquei algumas das entrevistas que estão no livro no Intervalo Banger, que é um site que também não existe mais, mas era mais conhecido desse público. Mas nessa época, em 2012, já tinha o livro em mente e por isso mesmo sempre citava que a entrevista seria usada no livro, além de talvez ser publicada na internet, ao fazer os pedidos para os artistas ou assessorias. Mas a minha sorte é que a grande maioria desses artistas que estão no livro não tem muito esse lance de se preocupar com a audiência do seu site, por exemplo, até por fazerem um som que é mais alternativo e, na maior parte, atinge um público menor por natureza.

A propósito, embora o metal não tenha grande abertura na imprensa, seu público sempre foi muito fiel. Como está o cenário hoje?
Acho que não está muito diferente de antes, mas provavelmente depende muito menos da chamada imprensa especializada e de gravadoras maiores, o que é bom. A cena underground parece estar num momento muito bom, com bandas de vários estilos conseguindo fazer “o seu rolê” sem depender dos outros, quase sempre fazendo parcerias com gravadoras independentes e que estão nessa pelo amor ao som. Infelizmente ainda rola aquele bom e velho QI nos lances de shows de abertura de bandas internacionais, mas isso parece ser um problema bem longe de acabar.

Estas entrevistas foram feitas nas mais diversas situações, inclusive você conta que a maior parte delas foi agendada diretamente com os músicos. Diante de tanta informalidade e aventura, você deve ter vivido momentos inusitados. Conta alguns.
Ah, o vocal do Buzzov-en, por exemplo, que é um dos caras mais carismáticos que já conheci, não dava entrevistas há muito tempo e tem problemas conhecidos com drogas. Então muitas vezes no meio da entrevista ele tinha alguns brancos e não lembrava do que estávamos falando. Algumas poucas entrevistas do livro foram feitas por e-mail, como o Melvins e o Oxbow, e o tempo que eles levaram para responder foram absurdamente diferentes. Enquanto o Melvins foi um trabalho de insistência, sempre atrás da assessoria deles, com o Oxbow foi totalmente o contrário, já que falei diretamente com o Eugene (Robinson, vocal da banda), mandei as perguntas e e ele me respondeu em algo como uma hora. O Randy Odierno, ex-Grief e Disrupt, pareceu ter ficado super feliz e surpreso pelo pedido de entrevista, agradecendo no final e tudo mais. Foi um bom termômetro para saber mais sobre o perfil desses artistas e, assim, passar a admirar mais ou menos determinados nomes como fã mesmo.

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Há artistas que costumam nos surpreender em entrevistas, seja para o bem ou para o mal. Que situações você viveu, inesperadamente, nessas entrevistas e que se tornaram “histórias pra contar pros netos”, do tipo pra rir muito depois?
A entrevista com o Jimmy Bower, do Eyehategod e do Down, é uma das minha favoritas por vários motivos. Primeiro porque ele é um dos caras mais legais do mundo para você entrevistar, super simpático e que literalmente “troca ideia” com você, sem pose de artista ou coisa do tipo. E, em segundo, porque foi via Skype, então a gente ficou se vendo o tempo todo, o que deu um tom mais pessoal para a entrevista. Na conversa, ele mostrou a sala de ensaio na casa dele, a guitarra que usou para gravar alguns discos do Eyehategod, além de um pouco da sua erva inspiradora e, no fim, ainda se ofereceu a colocar o meu nome na lista de convidados do show do Down que ia rolar em SP na época. Além disso, consegui ficar até meio “próximo” de alguns dos entrevistados. O caso mais emblemático é o Nate Newton, para quem até mandei material de bandas nacionais e com quem falo ocasionalmente. No caso dele, rolou uma sinergia tão boa na entrevista e nas conversas que tivemos depois que chamei o cara pra fazer o prefácio do livro, o que ele felizmente topou na hora.

Com o livro em mãos, quais seus planos agora?
Estou lançando agora no começo de outubro um blog (www.contra-corrente.com) que vai trazer entrevistas com bandas, artistas e escritores ligados a essa cena de metal alternativo, que poderão, quem sabe, ser usados em um possível livro novo sobre o assunto, sobre o qual vou começar a pensar melhor nos próximos meses. Já falei com bastante gente legal nos últimos meses, desde que o livro ficou pronto, como Kyuss, YOB, Amenra, Baptists, Yakuza, entre outros. Além disso, tenho na minha lista de coisas a fazer conseguir lançar o livro em inglês ou mesmo escrever outro sobre o mesmo assunto em inglês.

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24/10/2014

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