Primavera Sound 2016 | Uma catarse coletiva chamada Radiohead

04/06/2016

Powered by WP Bannerize

Rafael Rocha

Por: Rafael Rocha

Fotos: Ariel Martini

04/06/2016

Segundo dia de Primavera Sound em Barcelona. Ainda tentando assimilar a porrada dada pelos amigos do LCD SoundSystem no dia anterior, me direcionava ao Parc del Forum para tomar um laço tão grande (ou maior) de uns outros amigos chamados Radiohead.

Eram quase seis da tarde enquanto corria para pegar a condução pensando em não me atrasar para ver o show de Moses Sumney às 19h no Palco Pitchfork. Olhei no meu Google Maps e exatos 50 minutos levariam do meu hotel ao festival. Dito e feito, 18h50 estava cruzando as portas do Parc del Forum. Ao entrar, me deparo com uma multidão ainda maior do que no dia anterior, com certeza o show do Radiohead era mais esperado para os que estavam indo todos os dias ao festival.

*

Chego no palco Pitchfork, de frente para o mar Mediterrâneo, com o sol começando a cair. Sobe sozinho ao palco Moses Sumney, músico californiano ainda desconhecido do grande público, porém com uma grande voz e som. Portando em mãos apenas uma guitarra e pedais de loop, segurou o público tocando belas melodias e ritmos, apenas com suas vocalizações e acordes. Era nítido que o rapaz estava surpreso com a recepção da plateia que aplaudia fortemente ao final de cada música. Seu show estava previsto para ter uma hora de duração, porém por ser um artista muito novo, Moses tocou apenas 45 minutos. Um show curto, deixando o público ansioso para o seu retorno em terras espanholas.

Logo após, aproveitei o pôr do sol para conhecer o Beach Club, espaço mais afastado do festival, cheio de palmeiras e colado na praia, onde residem DJs do mundo inteiro. Algumas bandas que também tocam no festival param ali para fazer um DJset especial. Cheguei a tempo de ver o set do DJ Koze, DJ alemão que iria tocar novamente encerrando o festival às 4h da manhã. No seu primeiro set, Koze tocou músicas mais leves, conduzindo bem o público e preparando para a noite que estava por vir.

Saí do Beach Club e dei uma passada na praia para pisar os pés na areia. Interessante o sistema do Primavera, que disponibiliza até toalhas de banho e uma pulseira de entrada e saída para os que querem se aventurar em um mergulho no Mediterrâneo.

Me direcionei ao palco principal, pois como estava muito cheio, sabia que seria bem complicado pegar um lugar bom para ver o Radiohead. Faltava ainda uma hora para o show e descubro que alguns amigos ficaram na frente do palco por cinco horas, ou seja, a situacão estava ficando crítica para achar um espaço.

Passei reto pelo Beirut (sorry Zach!), que estava tocando no outro palco principal, e me direcionei ao meio do público. “Permiso”, “mi scusi”, “excuse me”, “excusez-moi”, “com licença”! Acho que pedi perdão por ir passando em 23 línguas diferentes, mas consegui pegar um lugar ótimo, bem na frente da House Mix.

Pontualmente as 22h15 começa a trilha incidental de abertura do show. Sobem no palco primeiro os dois bateristas da banda, seguidos por Colin, Ed, John e por último Thom. O público vibra calorosamente e a banda se prepara para começar. Escuto “Burn the Witch”, primeiro single de A moon shaped pool, disco recém lançado pelo Radiohead, seguido de mais 4 músicas do álbum. Nessas músicas iniciais notei que o público estava estranhamente em silêncio, catatônico, apenas escutando a perfeição do som trazido pela banda. Dava para escutar qualquer coisa que alguém falasse nas redondezas (porém, ninguém dizia nada). Logo após esse início baseado no disco novo, ouvimos John Greenwood sintonizar o rádio AM, em uma estação espanhola qualquer. Já sabia que viria “National Anthem”, pedrada do disco Kid A, lançado no ano 2000. Depois dessa música o set list tomou um novo rumo, alternando entre baladas clássicas e versões alternativas de hits mais eletrônicos do grupo. Destaque para as versões lindas de “Lotus Flower, “Everything is its right place” e “Idioteque”, que ganharam partes, timbres e arranjos bem diferentes das originais.

Radiohead tocando uma versão bem diferente de "Everything is in its right place", do clássico Kid A #primaverasound2016 #noizeprimaverasound2016 #radiohead

Um vídeo publicado por NOIZE (@revistanoize) em

Na volta do primeiro bis, a banda executa “Bloom”, música do disco King of Limbs de 2011. Neste momento Greenwood vai para a bateria fazendo com que a banda tenha na mesma música 3 baterias tocando simultaneamente. Logo após, fechando o segundo bis, a banda executa a dobradinha do disco Hail to the Thief, “2+2=5” e “There, There” fazendo muito marmanjo chorar com tamanha maestria.

"There, There" encerra o segundo bis desse show foda do Radiohead #radiohead #noizeprimaverasound2016 #primaverasound2016

Um vídeo publicado por NOIZE (@revistanoize) em

Se acabasse ali já teria sido algo histórico, porém ainda tinha mais. A banda volta ao palco, ovacionada pelo público. Começam a conversar entre si, algo estranho no ar, Thom fala com John, fala com o roadie, conversa com Ed. Apagam-se as luzes e ouvimos os primeiros acordes de “Creep”, hit que estourou a banda em 1993, e muito pouco executada ao vivo nas apresentações mais recentes do grupo. Fechamento com chave de ouro.

Depois desse show era difícil raciocinar e ver outras atrações, mas não dava para se entregar. Estiquei as pernas e fui para o palco Ray Ban onde iria rolar o show do Animal Collective. Chegando lá me deparo com uma multidão que mal comportava no espaço do palco secundário. Consegui ver algumas músicas, mas estava tão cheio que ficou um pouco impraticável. Além disso, minha cabeça ainda fritava da catarse chamada Radiohead, então aproveitei para dar uma pausa para comer e me preparar para o último show do palco principal, o dos americanos do Beach House.

Com um atraso de 20 minutos devido a desmontagem do palco do Radiohead, a banda sobe no palco tocando seu dream pop dark, transformando o Primavera Sound em uma festa gótica e feliz (hahaha). Com um set list focado nos últimos albuns da banda, com destaque para a belíssima “PPP” e o hit “Sparks”, que fechou o show, com um cenário simples e belo, fez todo mundo dançar calmamente por uma hora seguida, baixando os ânimos e conduzindo todos a suas casas com mais um dia de um festival incrível. Que venha o último dia!

Tags:, , , , , , , , , , , , ,

04/06/2016

Rafael Rocha

Rafael Rocha