Resenha | O Brasil sintético de Catavento em “Ansiedade na Cidade”

10/08/2018

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Carolina Santos

Por: Carolina Santos

Fotos: Rodolfo Cemin

10/08/2018

Pra quem já conhecia o trabalho da banda, Ansiedade na Cidade pode ser considerado o álbum mais maduro e consolidado da Catavento. O álbum tem patrocínio do edital de Natura Musical (em parceria com o Pró Cultura RS e Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do RS) e traz dez faixas fluídas, gostosas de escutar, que ao todo constroem uma narrativa identificável. As composições conversam entre si, falando sobre diversas angústias atuais, como a busca por aceitação na internet, a vontade de relaxar em meio ao caos, depressão, capitalismo, paranóias e inseguranças, mas de maneira muito romântica e sincera.

Ao primeiro olhar, imaginar sete integrantes de uma banda decidindo democraticamente a produção de um álbum pode parecer o completo caos, mas, ao escutar o resultado disso, a única percepção que tenho é a de que foi um processo muito harmonioso. Aqui, menciono o super time composto por Leonardo Lucena (vocal, guitarra e baixo), Leonardo Sandi (vocal, guitarra e teclado aika), Eduardo Panozzo (baixo, guitarra e vocal), Johnny Boaventura (vocal, piano elétrico e teclados), Francisco Maffei (samples, sintetizadores, guitarras e vozes), Lucas Bustince (bateria e percussões) e Jonas Bustince (percussões e bateria).

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Jonas Bustince cita que as músicas são ideias de 2017 materializadas no retiro quase que espiritual no estúdio, onde a banda se reuniu no inicio do ano para ensaiar, gravar e conviver. Minha sensação na primeira audição foi de satisfação de uma banda investir em referências incríveis com composições em português. A importância de trazer o olhar para o que temos de bom aqui, mas sem ignorar vertentes internacionais é confortante. Tem muito de Mild High Club, algo que se aproxima de Parsley Sounds e Vulfpeck, mas com uma identidade própria bem definida. Eles enunciam como referência no momento de produção Arthur Verocai, Marcos Valle e Ana Mazzotti, cujas sonoridades elegantes são citadas em várias ocasiões. Aqui, entendemos como o peso da produção nacional entrou nesse processo. São citados também King Krule, BadbadnotgooDDD, Beach Fossils, DIIV e o groove americano nessa mistura.

O vocal permanece denso e contrastante, como nas primeiras produções da banda, em especial do Lost Youth Against The Rush (2014). Claro, lá os caras exploravam mais o grunge e composições em inglês, que falavam muito mais sobre um sentimento de revolta. Cha (2016) já trouxe um misto de composições em inglês e português, os elementos de psicodelia chegaram com força e o som tinha um tom mais experimental, com um propósito muito mais anárquico. Todos os álbuns têm em comum os anseios da idade e acompanham a passagem de tempo para o grupo, porém é facilmente perceptível que Ansiedade na Cidade continua encarando esses assuntos, mas agora com clima de paz e texturas mais suaves.

O álbum visual, lançado logo após o disco entrar nas plataformas de streaming, chancela totalmente o trabalho e, se alguém não tinha entendido ou materializado qual o clima que a banda queria transmitir, agora não tem erro. O disco é sobre estar ansioso com tudo o que está acontecendo, no mundo, na vida, mas sem deixar de estar vivendo o rolê, conversando com os amigos sobre, num momento muito interno que ora é externo, ora não. Aquela caminhada até o pico, ouvindo música, normalmente é um momento de questionamento, de dúvida e insegurança, e se completa ao chegar no âmbito social, de aparente despreocupação, vivendo com os amigos, conversando com eles sobre todos esses anseios. Esse trabalho visual foi registrado em Caxias do Sul, com várias intervenções visuais que se destacam no vídeo. Gifs, pixos, identidade visual da capa, rolando ao mesmo tempo na narrativa. A produção foi da Ilha 8C5A e direção de Breno Dallas e Saimon C. Fortuna.

E a agenda de shows já está rolando. O show de estreia aconteceu em Caxias do Sul, no dia 9, no Sesc. Hoje a banda toca em Porto Alegre, no Agulha, e parte dia 15 para São Paulo, onde vai apresentar seu trabalho no CCSP e Jardim Secreto. O roteiro também inclui Piracicaba, Sorocaba, Rio de Janeiro e Juiz de Fora.

Siga a banda aqui e fique de olho nos shows.

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10/08/2018

Social Media e frequentadora assídua do Twitter (@caroldeverdade).
Carolina Santos

Carolina Santos