Guns N’ Roses realiza sonhos com Axl, Slash e Duff

09/11/2016

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Por: Juliano Mosena

Fotos: Katarina Benzova/Divulgação

09/11/2016

Era difícil acreditar que algum dia isso ia acontecer, bem difícil. Em 2012, quando perguntaram a Axl Rose se a formação clássica do Guns se reuniria novamente, a resposta foi categórica: “Não nessa vida”, como você pode ver abaixo.

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Mas o que vimos ontem à noite talvez não pertença a essa vida mesmo, ou a essa realidade… Será que não passamos por um universo alternativo? Pode ser que sim, e temos que agradecer muito por termos estado nele, afinal pudemos ver Slash, Axl e Duff McKagan juntos novamente com os Guns ’n Roses. Dizzy Reed, o tecladista que entrou em 1990, também estava lá, ao lado de Richard Fortus (guitarrista desde 2001), de Frank Ferrer (baterista desde 2006) e da tecladista Melissa Reese, que estreou na banda em 2016, nessa turnê chamada Not Is This Lifetime… Tour que chegou agora ao Brasil e passará ainda por São Paulo, Rio, Brasília e Curitiba.

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Os fãs estavam nervosos e qualquer movimento no palco causava uma agitação enorme em todos. Afinal, lembremos de quanto tempo essas pessoas esperaram para que aquele sonho quebrado em 1996 retornasse, ainda mais em Porto Alegre. Até vaias surgiram devido à inquietação de todos: Será que haverá atraso de horas novamente, como no show que o Guns fez em Porto Alegre em 2010? Será que a banda mais perigosa do planeta vai fazer jus ao apelido?

Fez. Mas de outra maneira, com música e presença de palco, realizando o sonho perdido de quase todos ali. Era realmente difícil acreditar que os três estavam juntos, entrando no palco a introdução clássica do tema do Looney Tunes e começando “It’s So Easy”.

Olhando ao redor, era indescritível a sensação. O público não sabia se chorava, gritava, pulava, cantava… Sim, aquilo estava acontecendo de verdade. “Mr. Brownstone” veio logo em seguida, repetindo a sequência clássica do setlist da carreira meteórica da banda nos anos 90 (sdds).

Para lembrar o público de que se passaram 20 anos, logo engataram “Chinese Democracy”, do disco de mesmo nome que demorou dez anos para ser feito e virou uma lenda do rock concretizada. E então… “Vocês sabem onde estão?”, perguntou Axl dando a deixa para “Welcome to the Jungle”. Todos sabiam a resposta, estávamos no exato local onde o sonho e a realidade se encontram. O Guns ’n Roses estava ALI, na nossa frente! Tocando aquele tema que acompanhou as pessoas por toda infância/adolescência/vida adulta, que você gastou de tanto ouvir naquele K7/CD/LP. Estava acontecendo!

Os caras seguiram com “Double Talkin’ Jive”, do Use Your Illusion I, mostrando que cobririam todos (ou quase) discos da banda. Também deixaram claro que aquela banda não lembra em nada aquele Guns (digamos assim) triste do início dos anos 2000.

“Better”, do Chinese Democracy, veio com a galera afinada cantando, deixando claro que eram fãs que estava lá, e conheciam todas. Nessa até foi meio engraçado ver Slash e Duff tocando músicas do disco que não participaram, mostrando que são os caras.

Foi no solo de “Estranged” que quem tinha segurado as lágrimas até então se lavou em emoção. Todas aquelas notas exatas e harmoniosas… Aquele timbre sabe vibrar a parte certa do seu coração, a parte que diz pra você ser quem você é em todas suas eras.

Os músicos seguiram cheio de fogos e efeitos com “Live And Let Die”, versão do Wings, que havia sido tocada ali mesmo, no exato mesmo local, 6 anos e 1 dia antes pelo seu compositor, Paul McCartney no show histórico que fez no estádio Beira Rio em 2011. “Rocket Queen” e “You Could Be Mine” seguiram logo depois e, enquanto a plateia alternava olhares entre o palco e o telão, deu aquela sensação estranha de que aquilo não era mais um vídeo da banda que você estava assistindo, era real.

Duff tomou os vocais em “Attitude”, cover de Misfits. Cantando muito bem, lembrou seus projetos solos (que são ótimos) e atendeu à expectativa de quem esperou anos para ver o baixista original da banda ali em sua frente, com mais rugas na cara e cabelo menos esvoaçante, mas mais experiente, melhor do que nunca!

“This I Love” antecipou “Civil War”. Essa última, que muitos consideram a melhor faixa da banda, levou os fãs ao delírio mostrando porque as Armas e as Rosas dominaram o mundo da música na virada dos anos 80 para os 90. Quando iniciou “Coma” foi realmente confuso presenciar aquilo tudo, os fãs ao meu redor gritavam endoidecidos ao reconhecer a faixa lendária. Pra mim, ela é quase mística. Lembro bem de estar na casa de dois grandes amigos meus, os maiores fãs de Guns que eu conhecia, ouvindo a música que tinha sido tocada somente uma vez ao vivo, e de que alguma maneira alguém havia gravado, e agora estava disponível na ainda jovem internet. Aquele som de qualidade ruim que havia sido baixado provavelmente de alguém do Napster ou Audiogalaxy estava lá sendo tocado ao vivo em 2016 e eu e eles estávamos lá vivos pra ver, fiquei emocionado e muito feliz por mim, e pelos dois.

Slash começou seu clássico solo do tema de O Poderoso Chefão e a todo mundo saberia o que estava por vir, o hit sem tamanho “Sweet Child Of Mine”, cantado a plenos pulmões por todos e todas no estádio, desde os fãs mais doentes até aquelas pessoas que aparentavam estar lá só para acompanhar alguém. O guitarrista completou seu momento de estrelato com sua versão de “Wish You Where Here” do Pink Floyd, onde abraçou o coração e os ouvidos de todos, dividindo a versão instrumental com o outro guitarrista, Richard Fortus.

Estamos em novembro, o tempo estava bastante nublado e todos esperavam que viesse uma chuva para refrescar e completar o cenário perfeito daquela noite, mas não foi dessa vez que choveu em novembro durante a linda “November Rain”, perfeitamente interpretada por Mr. Rose, dessa vez no piano. Mas talvez eu esteja errado, houve uma chuva sim, de lágrimas emocionadas por estar ouvindo ao vivo essa grande canção do rock. Quem nunca sonhou sair de uma igreja, empunhar uma guitarra e tocar para o deserto o icônico solo de guitarra dessa música? Eu já. E o cara que fez isso estava ali, tocando na nossa frente.

A despedida começou com “Knockin’ On Heaven’s Door”, versão de Bob Dylan que mostrou o clima divertido e sereno da banda no momento. Axa brincava e se divertia com os colegas de banda, mesmo depois de anos de picuinhas, e com o público, alcançando camisetas e apontando para as pessoas na plateia que lhe chamaram atenção.

“Nightrain” chegou como um soco na cara, mostrando toda a ferocidade do som da banda, e não deixou ninguém parado. A banda fingiu se despedir, mas como a gente sabe, sempre vem o encore. Parece que eles leram nossos pensamentos ao voltar com “Don’t Cry” fazendo amigos cantar abraçados, casais celebrarem o momento com beijos e pais, mães e filhos e filhas trocarem olhares marejados por estarem juntos naqueles momentos. Afinal, o Guns n’ Roses já é uma banda que une gerações.

“The Seeker”, a grande música do The Who, chegou antes da despedida com “Paradise City”, aproveitada até os últimos segundos tanto pela plateia quanto pela própria banda, que se divertia muito no palco.

As únicas palavras para definir o show que aconteceu na noite de 8 de novembro de 2016 no estádio Beira Rio em Porto Alegre são impossivelmente inesquecível. Slash e Duff estavam mandando muito como nunca deixaram de mandar. Axl veio renovado, mesmo com a barriguinha e a idade aparente não estava nem perto da imagem negativa que tanto se espalha sobre ele atualmente. Cantou muito bem, correu muito, tocou divinamente e superou todas expectativas.

A cara de satisfação de todos na saída com certeza é um pagamento lindo para quem ama música com o coração. Se entramos em uma dimensão alterinativa em que essa reunião aconteceu e proporcionou tudo isso, só tenho a agradecer. Porque não foi em outra vida, foi nessa.

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09/11/2016

Juliano Mosena