Resenha | Precisamos falar sobre Mick Jagger

03/03/2016

Powered by WP Bannerize

Por: Lucas Neves

Fotos: Daniel Lacet

03/03/2016

Era um pouco mais de 19:00, no estádio Beira-Rio em Porto Alegre, e eu me encontrava em meio à pista pensando sobre o show que em poucas horas começaria. Embalados pelo som da Cachorro Grande meus pensamentos viajavam em busca de uma resposta: por que uma banda com tantos anos de historia ainda mobiliza tanta gente?

Alguns amigos arriscavam respostas. “Os solos de Keith Richards”, dizia um companheiro próximo. “Eles souberam tornar isso um grande evento de entretenimento”, dizia outro amigo emocionado. Todos tinham uma teoria e provavelmente a resposta esteja na soma de todas. Mas faltava a minha resposta. Confesso que me faltava entender o que todos pareciam saber. Me faltava a lição que Mick Jagger me daria nas próximas duas horas.

*

O relógio passava um pouco das 21:00 e as projeções indicavam o ínicio do maior show de rock da história de Porto Alegre. Em meio a uma estrutura monstruosa, surgiam quatro heróis desafiando suas próprias limitações. Com uma guitarra poderosa, Keith Richards anunciava “Jumpin’ Jack Flash” e parecia ao mesmo tempo estender um tapete por onde Mick Jagger passaria todo o show. A música durou um pouco menos de 6 minutos e foi tempo suficiente pra que um estádio inteiro se apaixonasse por Mick à primeira vista.

Trajado com um blazer de lantejoulas e dono de uma vitalidade que só é possível aos imortais, Mick dançava e cantava com uma naturalidade e uma magia jamais vistas em solo gaúcho. Entendia os espaços do palco como o predador entende seu habitat natural e por ali transitava incitando a multidão a fazer história com ele.

A chuva caia forte e Mick parecia desafiá-la encorajando todos a fazerem o mesmo. Andava pela passarela encharcada com a tranquilidade de um passeio no parque e, como um maestro, regia um coral de 50 mil pessoas.

Com uma versatilidade impressionante, Mick Jagger se transformava a cada música. Era Robert Plant em toda sua sensualidade cantando “Gimme Shelter” e Michael Jackson em “Miss You”. Lembrava cada grande frontman em todas as músicas por um motivo simples: ele é o pai de tudo isso.

Mick Jagger é mágico. Um herói que entende a fraqueza de se saber só um homem e ao mesmo tempo a necessidade de ser mulher. Por duas horas, Mick transita por um mundo sem barreiras se despindo de qualquer preconceito na busca de algo maior. Na busca de algo incerto. Na busca do improvável mesmo num mundo onde o entretenimento tem todos seus passos marcados.

Durante todo o show, Mick soube ser o centro das atenções e ao mesmo tempo soube deixar todos brilharem. Enquanto Keith e Ron Wood solavam brilhantemente (ambos mereciam textos individuais também) , Mick dançava e puxava a platéia sendo a nota mágica que não é escutada, enriquecendo e dando uma pitada de magia a uma banda que é tecnicamente perfeita.

Eu assistia ao show hipnotizado por ele. Eu e 50 mil pessoas não desgrudávamos os olhos do cara com o microfone. Todos do meu lado torciam para aquilo não acabar. As pessoas entendiam a imortalidade daquele momento, daquela banda e principalmente daquele cara. A resposta pra minha pergunta inicial estava clara. A resposta é Mick Jagger.

Tags:, , , , ,

03/03/2016

Lucas Neves