Resenha | Lembranças, confissões e a poesia íntima de Cícero e Albatroz

11/03/2018

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Vitória Proença

11/03/2018

Nem muito agito, muito menos ansiedade. O público que aguardava a entrada de Cícero acompanhado da Albatroz na noite de ontem, no Bar Opinião, estava sereno, como se esperasse a chegada de um velho amigo.

Às 20h22, com um tímido “boa noite”, Cícero apareceu, já preparando os acordes para a faixa “A Ilha”, do seu novo álbum, Cícero & Albatroz (2017). No palco, ao lado do coletivo Albatroz, com músicos que também tocam nas bandas cariocas Ventre e Baleia, tudo era manso, harmônico. A atmosfera intimista era sentida em tudo, desde a meia luz constante que iluminava os músicos até a palheta de cores das camisas da banda, em sóbrios tons de azul, cinza e bordô.

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Cícero (Foto: Vitória Proença)

Logo em seguida, “À Deriva” e “O Bobo” foram deixando Cícero, Albatroz e a plateia ainda mais próximos. Em sete anos de carreira desde seu álbum de estreia, distorções, instrumentos de sopro, e a voz calma do carioca mostram uma variedade de sons que Cícero construiu ao longo de uma discografia sólida, com uma sensível progressão, perceptível a qualquer ouvinte atento. Esse amadurecimento musical não se reflete só no disco atual, como também na forma como a banda revisita as canções mais antigas, como alguém que lê uma carta escrita há muito tempo sobre sentimentos que já se ressignificaram.

“Pra Animar o Bar” engatou com “A Grande Onda” e aí Cícero começou a conversar mais com a plateia, sempre no seu tom tímido, mas em casa. Os acordes de “Ela e a Lata”, de Sábado (2013) arrancaram gritos da plateia, que voltou a vibrar com “Não Se Vá” e a encantadora “A Praia”. Com o ambiente cada vez mais íntimo, Cícero fez uma das falas mais divertidas do show: “Que bom que vocês vieram no mesmo dia [do show] da Rouge”, brincou.

Cícero (Foto: Vitória Proença)

Canções mais antigas, como “Isabel (Carta de um Pai Aflito)” encaixaram-se suavemente entre as faixas do trabalho presente, como “A Cidade” e “A Rua Mais Deserta”, trinca que envolveu o público.

Os versos de Cícero são tristes, cortantes, daquela sinceridade que chega a rasgar por dentro se você tiver algum romance mal resolvido recente para lembrar. Mas a sequência “Vagalumes Cegos” e “Açúcar ou Adoçante?”, hits do primeiro álbum Canções de Apartamento (2011), e “Aquele Adeus”, na voz rouca e violão, foram um dos momentos mais íntimos e doídinhos do show. “Terminal Alvorada”, mais dançante, chegou para refrescar, acompanhada pela luz roxa que agora iluminava os músicos.

Cícero (Foto: Vitória Proença)

“Capim-Limão” e seu instrumental inconfundível deixou todo mundo atento, em estado de contemplação. Logo após, a banda fez sua saída para retornar para o bis de encerramento.

Os hits “Tempo de Pipa” e “Ponto Cego”, do primeiro disco, foram cantadas do início ao fim, com direito a palminhas super sincronizadas durante a segunda música. “Um Arco” foi a escolhida para encerrar a noite tendo um breve “boa noite” do cantor como despedida.

A relação entre Cícero & Albatroz com o público tem a fluência e a ternura que se constróem como amizades de longa data, aquelas em que você tem a intimidade para passar uma tarde lado a lado em silêncio, cada um deslizando os dedos na tela de seu própria celular, e logo após conversar noite adentro. Uma cumplicidade que une banda e fãs, que fez a despedida soar como um beijo na testa, um carinhoso ‘a gente se vê’.

Cícero (Foto: Vitória Proença)

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11/03/2018

Brenda Vidal

Brenda Vidal