A leveza sonora do Secret Festival

10/11/2016

Powered by WP Bannerize

Nicolas Henriques

Por: Nicolas Henriques

Fotos: Luiz Sontachi/I Hate Flash

10/11/2016

Esta provavelmente será a minha resenha mais curta de todos os tempos. Não porque a quarta edição do Secret Festival deste domingo em São Paulo mereça uma resenha curta, um texto que não mostre tudo que o festival foi, com excelentes bandas tocando num lugar que, justamente por fugir um pouco do circuito zona oeste, é tão bem-vindo (é fundamental termos cada vez mais shows e festivais que explorem melhor a cidade e suas belezas). Também não faço uma resenha curta por falta de vontade, ou por estar adotando um novo estilo; sínteses não são muito minha praia e entro em digressões com uma facilidade inversamente proporcional à dificuldade de sair delas. A grande verdade é da resenha ser tão curta é que, por motivos de saúde e ressaca de uma longa viagem, não me sentia bem e fiquei pouco mais de uma hora no evento, acompanhando parte do show do Terno Rei e a Mahmundi. Sequer aguentei para ver o começo de Charly Coombes. Uma pena.

Charly Coombes

Não é o primeiro show do Terno Rei que acompanho. O som onírico e um pouco soturno da banda paulistana é daqueles que possuem certo ar que combina tanto com um espaço escuro, fechado, quase como um quarto escuro onde entraremos num transe de um riff repetido como mantra, como também com um entardecer aberto mais intimista em algum lugar como uma praia deserta. De certa forma, não sinto que é um som de multidão; é algo mais intimista, introspectivo, gostoso de ouvir e ficar sentindo as reverberações da banda é sempre prazeroso. O som combinava de uma maneira contrastante com o ar da Vila São Paulo, mas peguei os minutos finais do show. Confesso que a voz de Ale Sater (que lançou o ótimo Japão, primeiro EP solo, esse ano) é daquelas que me transporta para certo interior, tanto físico quanto emocional. Fico triste de não ter acompanhado mais do show, mas vamos lá.

*

Ale Sater (O Terno Rei)

Logo em seguida aos paulistanos do Terno Rei, a carioca musa máxima Marcela Vale, a Mahmundi, subiu ao palco, não muito alto e bem próximo da plateia, que dava uma sensação gostosa de show mais amador e caseiro, intimista, muito similar ao que o próprio Sofar Sounds causa em quem vai lá assistir, para mostrar a que veio. Seu som que flerta com os anos 80, que tem um quê de Marina Lima, pop gostoso que vai fundo e gruda na cabeça com riffs, teclados e sintetizadores, que combina tanto para ouvir com a gatinha ou gatinho como para pegar uma estrada, cresce – e muito – ao vivo. A voz da cantora, que no álbum apenas sugere sua força, mostra-se com tudo no palco: graves, agudos, afinação que casa perfeitamente com o ritmo dançante de cada música, uma delícia pra dançar e impressionante de se sentir. A banda também não deixa nada a desejar: se Mahmundi toca de tudo um pouco e seria capaz de conduzir, a presença de Felipe Vellozo, excelente nas guitarras, e Lux Ferreira, um tecladista de mão cheia com um carisma natural, complementam e enriquecem o som da cantora. Com direito aos principais sucessos do álbum homônimo, tranquilamente um dos melhores do ano, como “Hit“, “Azul” e “Eterno Verão“, o show combinava perfeitamente com o crepúsculo no horizonte. Infelizmente, ao fim da última música, minha situação deu uma piorada.

Marcela Vale e Felipe Vellozo (Mahmundi)

Tentei segurar porque queria saber o que viria de Charly Coombes, que desconhecia, mas não consegui. Mais triste ainda fiquei de não ter visto Carne Doce, que também lançou, há menos de três meses, Princesa, seu segundo álbum, e que nunca tive a oportunidade de ver ao vivo. Fica para uma próxima, na qual espero ansiosamente poder fazer uma resenha imensa de cada banda que fez do Secret Festival uma versão menos intimista, mas ainda assim com o singular ar caseiro, de festa de amigos, em que parece que todos os músicos são aqueles seus chapas que resolveram fazer um show despretensioso depois do sucesso, que o Sofar Sounds possui.

Veja também:
Intimismo e descobertas no Sofar Sounds
Entrevista | Charly Coombes e o universo espacial de Black Moon
Entrevista | Mahmundi no olho do furacão
Ouça o novo álbum do Carne Doce: “Princesa”

Tags:, , , , , , ,

10/11/2016

Sou pesquisador e escrevo resenhas de shows pagando de crítico musical porque gosto muito de música e minha verdadeira intenção era ser multi-instrumentista ou vocalista de alguma banda. O problema é que falta habilidade para tocar até campainhas mais complexas e meu alcance vocálico lembra uma taquara rachada.
Nicolas Henriques

Nicolas Henriques