O show do SILVA é pra dançar de olhos fechados

24/09/2016

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Ingrid Flores

Por: Ingrid Flores

Fotos: Ádamo Ovalhe

24/09/2016

Foram anos de flerte entre SILVA e Porto Alegre até que o capixaba resolvesse trazer o seu show pro público daqui. Ele até apareceu na cidade ano passado, tocou na banda da Gal Costa, mas só trocou carícias (sonoras) com os fãs ontem à noite no Opinião. Pode até ter demorado pra chegar, mas ele veio munido de um repertório mais rico e de uma leveza que fez Júpiter parecer logo ali.

O lado bom de toda essa espera é que o artista vem se soltando ao longo dos anos e chegou aqui num momento ótimo. O SILVA de hoje faz composições mais provocativas, veste moletom em vez de camisa abotoada e grava clipe nu-com-a-mão-no-bolso vivendo o amor livre. Ao mesmo tempo, não deixa de transparecer uma timidez adorável enquanto dança de olhos fechados no palco. Misturando faixas do primeiro EP e dos álbuns de estúdio, Lúcio trouxe uma atmosfera deliciosa (e todo o seu mel) pra cidade – e a hora está sempre certa pra isso.

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Recebido com sorrisos ansiosos e olhares encantados, SILVA nos presenteou com um setlist bem equilibrado. A maior parte das faixas era de Júpiter, seu disco mais recente, mas ele resgatou também algumas do (também ótimo) Vista Pro Mar e dos trabalhos anteriores, que de cara fizeram todo mundo notar que ele não era “só mais um Silva” lá em 2011.

A guitarrinha ecoada e a tranquilidade de “Eu Sempre Quis” apresentou logo no início qual seria clima da noite: todo mundo dançando sereninho e cantando junto (até porque “é como um planeta / que habitamos livremente / lá a gente inventa / e constrói o que é da gente” é um ótimo convite pra se conectar com a performance de um artista, né?)

Teve também “Sou Desse Jeito”, “Feliz e Ponto”, “Deixa Eu Te Falar” entre as escolhas do disco mais recente, que contaram com uma plateia cantando a plenos pulmões enquanto se embalava com os beats oitentistas de menino Lúcio e sua banda afiadíssima. O moço pode até ser tímido, mas sua música tem uma frequência tão boa que deixa todo mundo suave, curtindo super à vontade.

Entre uma novidade e outra, SILVA também resgatou delicinhas de Vista Pro Mar (2014), como “Volta”, “É Preciso Dizer” e “Entardecer”. “Janeiro” trouxe ritmo e letras tão alegres que deu até pra esquecer dos problemas lá fora: “não dê bola / o dia tá lindo / vem pra fora / mesmo fingindo” quase descreve o que a gente tem sentido em relação à segurança de Porto Alegre, né? Ainda bem que soa melhor em forma de música.

“Mais Feliz”, cover de Cazuza que ele gravou pro disco “Angenor”, do selo Joia Moderna, foi uma das surpresas da noite. Mesmo cantando “o nosso amor não vai parar de rolar”, o show teve que terminar e o público se despediu de SILVA embriagado de romantismo (sem contar o nível de glicose lá em cima depois de tanta doçura).

E o que estava fantástico ficou ainda melhor com uma apresentação contagiante da Dingo Bells, que enche seus conterrâneos de orgulho por “Maravilhas da Vida Moderna”. Já deu pra conferir o show dos caras algumas vezes e, em todas elas, a gente vê as pessoas comentando o quanto é bom ter uma banda dessas na cidade. Ontem não foi diferente.

Lúcio (Silva) e Rodrigo (Dingo Bells)

Resgatado dos bastidores, SILVA foi chamado ao palco pra soltar sua voz (e timidez) novamente, desta vez com a Dingo Bells. É muito bom testemunhar artistas que realmente curtem colaborar com o outro e, pra nossa sorte, isso transpareceu completamente no som que eles fizeram ali. Depois de duas performances deliciosas, foi difícil ter vontade de ir embora, mas dá pra arriscar dizer que uma noite como essa era exatamente o que a cidade precisava pra começar a primavera do melhor jeito: feliz e ponto.

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24/09/2016

Jornalista por formação, questionadora e overthinker por não conseguir evitar.
Ingrid Flores

Ingrid Flores