A mulher do fim do mundo é deus. E doutora.

28/05/2019

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Bruno Barros

Por: Bruno Barros

Fotos: Douglas Hanauer | O Análogo

28/05/2019

O último final de semana foi de emoções fortes para a mulher do fim do mundo. Após lotar o Bar Opinião no sábado, 25, para apresentação do show “Deus é Mulher” em Porto Alegre, Elza Soares recebeu mais uma importante homenagem no domingo, 26. O Salão de Atos da UFRGS esteve com sua capacidade máxima para ver Elza ser agraciada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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Realizado pelo Departamento de Difusão Cultural da Pró-Reitoria de Extensão da universidade, o prêmio foi proposto pelo Instituto de Artes da instituição com aprovação unânime junto ao Conselho Universitário da UFRGS. O título é entregue a personalidades que tenham se distinguido na vida pública ou na atuação em prol do desenvolvimento da universidade, progresso das ciências, das letras e das artes.

Ao abrir a cerimônia, o reitor da UFRGS Rui Vicente Oppermann lembrou que normalmente as sessões são realizadas nas salas dos conselhos universitários, mas dado o significado e o interesse público, a cerimônia foi movida para o Salão de Atos da universidade.


Elza é a primeira artista mulher e negra ligada a música popular a receber a distinção. Um momento histórico para a universidade e para a cultura brasileira. “Na verdade, é a gente que ganha ao intitular Elza doutora. Muito importante pela figura que ela representa. Importante também pelo atual descaso e tentativa de desmonte da universidade pública, da cultura e da educação como um todo. Então, termos a força dessa mulher nesse momento é emblemático. É uma força pra nossa luta”, falou à NOIZE a professora do Departamento de Artes Dramáticas do IA/UFRGS Celina Alcântara, responsável ao lado de Lígia Petrucci do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS e da professora do Departamento de Música do IA/UFRGS Luciana Prass pela construção do dossiê justificando a entrega da homenagem.

Em seu agradecimento, chorando e emocionada, Elza Soares se desculpou por não poder levantar por conta da coluna, destacando sua equipe e parceiros Pedro Loureiro, Juliana Almeida e Wesley Pachu. “Obrigado vocês, público, e a essa universidade maravilhosa. Nós queremos mais educação. Nós queremos cultura. Nós queremos mais escolas públicas. Educação pra todos!” saudou a cantora.

“Eu queria pedir que a minha raça negra se sinta orgulhosa, por favor. Porque a gente sabe o quanto é difícil para um negro conseguir um espaço na vida. Principalmente dentro de uma universidade. Esse prêmio, eu gostaria que significasse não só pra mim, mas a todos nós, negros e negras. Eu sou bisneta e neta de escravos. Minha mãe pegou o finalzinho da escravatura. Dona Henriqueta, minha bisavó, dona Cristina, minha vó, dona Rosália, minha mãe, estou aqui eu, Elza, representando elas, com muito orgulho” pontuou a mulher do fim do mundo.

Vinda do planeta fome, Elza Soares é unanimidade aclamada por público e pela crítica. Eleita pela rádio BBC de Londres como cantora do milênio (1999), gravou seu primeiro álbum só com músicas inéditas apenas 62 anos depois de sua primeira aparição, no programa de Ary Barroso, na rádio Tupy. O disco, A Mulher do Fim do Mundo (2015), sugeriu o renascimento da carreira da cantora. O mérito, mostra Elza ligada ao tempo, ao se unir aos músicos identificados como atual vanguarda paulistana. Com o disco, ganharam o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira (2016), entre muitos prêmios. Desde então, não parou de se apresentar em palcos do mundo, mesmo com a dificuldade enfrentada pelos problemas na coluna.


A unidade garantiu mais uma realização. Em Deus é Mulher (2018), mais uma vez Elza atendeu à (alta) expectativa sobre seu trabalho e lançou um disco contemporâneo, sagaz e atento aos dias atuais. Sua voz impecável ecoa e reverbera por onde passa. A generosidade e atenção para com a sua volta confirmam o merecimento de tudo o que tem conquistado. Entre sábado e domingo, foram incontáveis as vezes que Elza agradeceu: ao público, à banda que lhe acompanha, ao produtor e aos compositores que realizam esse trabalho junto a ela, à universidade, a todos. Em todas as situações que cantora fora fazer alguma declaração, fosse no palco do Opinião ou no Salão de Atos de UFRGS, ela, em primeiro lugar, agradeceu.

Veja abaixo algumas fotos:

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28/05/2019

Bruno Barros é produtor de conteúdo independente. s.brunobarros@gmail.com | @labexp
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