Adeus, Pedro de Moraes | Veja fotos raras de Baden e Vinicius feitas por Pedro

01/06/2022

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Pedro de Moraes/VM Digital/Reprodução

01/06/2022

Na última sexta (27), o fotógrafo Pedro de Moraes, filho de Vinicius de Moraes com Tati Mello, morreu, aos 79 anos, na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, onde estava internado tratando as complicações que teve após contrair uma bactéria, conforme informado pela sua família.

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Uma publicação compartilhada por Vinicius de Moraes (@poetaviniciusdemoraes)

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Ainda que fosse pouco avesso às entrevistas ou aparições públicas, Pedro de Moraes teve um trabalho fotográfico de grande magnitude, com destaque especial aos registros que fez de grandes nomes da música popular brasileira. Em 2016, por ocasião da edição NRC#006 do Noize Record Club, que relançou em vinil de 180g o épico disco Os Afro-Sambas, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, tivemos a oportunidade de conversar com Pedro, que nos atendeu de sua casa, no Sul da Bahia, onde vivia desde o início dos anos 1980.

Abaixo, confira com exclusividade uma série de fotos raríssimas de Pedro de Moraes, feitas em setembro de 1966, registrando Baden Powell e Vinicius de Moraes. As imagens foram cedidas gentilmente pela VM Digital para a edição da revista Noize #70, que acompanha o LP de Os Afro-Sambas:

Nesta entrevista tão breve quanto memorável, publicada originalmente na reportagem “A genealogia oculta dos Afro-Sambas”, Pedro informa que começou a fotografar quando tinha cerca de 14 ou 15 anos. Segundo conta, seu pai já tinha conhecimento no assunto e foi a pessoa que lhe inseriu na arte fotográfica. “Ah, claro que tinha. Pô, o cara amigo do Orson Welles. O Vinicius sempre incentivou o meu lado da fotografia, ele que me incentivou a ser fotógrafo. Ele gostava do meu trabalho”, disse Pedro.

Na casa do seu pai, o adolescente teve oportunidade de registrar grandes encontros musicais. Frequentavam o espaço figuras do porte de Pixinguinha, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Elizeth Cardoso, Maria Bethania, e lá estava Pedro, pronto para registrá-los em seus cliques. “Me tratavam feito um moleque! Um adorável moleque”, disse Pedro respondendo como se sentia nessas reuniões: “[Me sentia] muito bem, adorava o ambiente, não esqueço até hoje”.

Com o passar dos anos, o jovem fotógrafo foi se aprofundando no mundo da música, e suas imagens acabaram estampando as capas de vários discos históricos. Um dos primeiros foi justamente Os Afro-Sambas. “Aconteceu de uma forma natural, eu amava meu pai e fotografei ele”, contou Pedro.

A capa da edição original de Os Afro-Sambas (1966)

O fotógrafo confirma uma certa lenda que existia em relação à imagem de capa de Os Afro-Sambas. “Aquela foto foi feita no apartamento, em Paris, onde o Lênin se exilou quando ele teve que fugir. Tem esse dado biográfico sobre esse apartamento”, afirmou.

Além de Os Afro-Sambas, no mesmo ano de 1966, Pedro fotografou as capas de Tempo Feliz, de Baden Powell, Desenhos, de Vitor Assis Brasil, e Edu e Bethania, LP de Edu Lobo e Maria Bethania. No ano seguinte, inclusive, ele registrou a foto do disco Edu, de Edu Lobo. Em 1968, fez as fotos de Paulinho da Viola, o primeiro disco do sambista; assim como do LP homônimo que Nara Leão gravou naquele ano (considerado o seu disco “tropicalista”); do álbum, também homônimo, da Joyce; de Intimidade, de Luiz Claudio; e ainda do LP Gente da Antiga, que reuniu Pixinguinha, Clementina de Jesus e João da Baiana.

Em 1972, uma foto sua virou capa do disco Marília Vinicius, de Marília Medalha e Vinicius de Moraes e, em 1973, ele fez a histórica foto de capa do disco Novos Baianos F.C, do grupo de Moraes, Baby, Pepeu, Galvão, e cia. Anos depois, o disco Público (2000), de Adriana Calcanhoto, também estampa uma foto sua na capa.

Em seu site oficial, há ainda o registro de retratos e fotografias documentais que Pedro realizou ao longo da vida. Sua carreira como fotógrafo iniciou na revista Manchete, no Rio de Janeiro, em 1957 (quando ele tinha 15 anos). Pedro também dirigiu o filme O homem e a profissão (1965) e foi diretor de fotografia de filmes como Guerra Conjugal (1975) e Aleijadinho (1978), de Joaquim Pedro de Andrade, e Idade da Terra (1979), de Glauber Rocha, dentre outros.

No disco que Vinicius gravou com Toquinho em 1975, Vinicius / Toquinho, a última faixa é um emocionante recado para ele. Nela, Vinicius declama parte de uma carta que escreveu para Pedro. De pai para filho, resta para eternidade uma bonita homenagem:

“Por isso que eu chorei tantas lágrimas para que não precisasse chorar, sem saber que criava um mar de pranto em cujos vórtices te haverias também de perder. E amordacei minha boca para que não gritasses e ceguei meus olhos para que não visses; e quanto mais amordaçado, mais gritavas; e quanto mais cego, mais vias. Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei. E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar. Assim é o canto que te quero cantar, Pedro meu filho…”.

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01/06/2022

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Ariel Fagundes

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