Air e Kraftwerk nostálgicos no Stockholm Music & Arts

05/08/2016

Powered by WP Bannerize

Gabriel Cevallos

Por: Gabriel Cevallos

Fotos: Divulgação

05/08/2016

A capital da Suécia reflete muito bem o imaginário Escandinavo, é moderna e clássica, organizada e muita bonita. Estocolmo é cercada por ilhas, e o festival Stockholm Music & Arts acontece em uma delas, no coração da cidade. A ilha de Skeppsholmen abriga alguns museus, entre eles o Moderna, com dezenas de galerias, salas multiuso e teatro, recortados com muita área aberta e uma marina com barcos ancorados.

O festival de 3 dias se espalhou pelo complexo do Moderna Museet, dividido em 2 palcos, o Main Stage e o Garden Stage, e diversas programações artísticas, com performances, exposições e instalações integradas ao festival. A má notícia dessa cobertura é que esse que vos escreve chegou no final do último dia de festival, a boa notícia é que eu consegui ver os show do Air e Kraftwerk, e literalmente por cima do muro um pouco da Patti Smith.

*

Patti Smith/Foto: Hilda Arneback

Na entrada do festival ficou o Garden Stage, o menor e mais intimista dos palcos, cercado por árvores, tinha o acesso controlado e já lotado quando eu cheguei. Quem ficou de fora conseguia ver por cima de um muro de plantas os cabelos brancos e revoltos de uma mulher revolucionária, fez 3 shows no festival, um por dia, todos lotados. Depois de uma espiadela por cima do muro me mandei para o palco principal onde os franceses do Air estavam prestes a começar.

O Main Stage ficava de costas para o mar, com barcos e Estocolmo silhuetada ao fundo, a locação era chique, assim como o público, que ainda não lotava a pista. Consegui ver o show na posição perfeita, perto do palco e centralizado onde o sound system soava melhor.

O show começou com “La Femme D’Argent”, exatamente a mesma música que abre o disco Moon Safari, a obra prima dos franceses. No final dos anos 90 começo dos 2000 o Air surgiu com uma mistura de Downtempo, Psicodelia Pop, Space Music e Prog Rock arrebatadora, embalaram muitos chillouts e finais de festa na minha na minha adolescência.

O show foi intercalado entre os grandes sucessos do Moon Safari, e outras músicas de seus outros discos, mas definitivamente o público (e eu) queriam os hits. Acompanhados por um baterista e um tecladista, Nicolas Godin e Jean Benoit, são seguros e leves no palco, destilam o blasésismo francês e a malícia Gainsbourgiana com propriedade. Moogs, Junos, Vocoders e muita brisa foi o que se escutou durante 1 hora de show, perfeito para ver sentando na grama, sorvendo um bom vinho francês ou uma ceva Sueca. Um show nostálgico e e cheio de lembranças afetivas, sem imprevistos e bem tocado, a preparação ideal para o verdadeiro desfile nostalgico do Kraftwerk.

O festival acabou com o show dos alemães, no seu já rodado concerto com visuais 3D que passou pelo Brasil na edição paulista do Sónar em 2012. Quem mantém a chama acessa do Kraftwerk é um dos seus fundadores Ralf Hütter que junto com Florian Schneider fundou em 1970 a banda que segundo alguns é mais influente que o Beatles. Essa afirmação não é meramente publicitária e polêmica, o eco do que os alemães começaram em 70 reverbera hoje em muito da música que se escuta, do pop da Beyonce, passando pela farofa do David Guetta até Radiohead.

Não espere nenhuma surpresa em escutar Kraftwerk em 2016, o último suspiro de novidades foi em 1986, mas eles tocam APENAS músicas dos seus discos mais conhecidos, como, Autobahn, Radio-Activity, Trans-Europe Express, The Man-Machine, Computer World, e o Electric Café de 86. O sentimento de ver um grupo tão influente (ou o que restou dele) em palco, gera um sentimento um tanto confuso, parece como encontrar um grande amigo do passado, vocês tem muitas boas recordações e um carinho profundo, mas a afinidade do momento, a sintonia fina, se perdeu.

O Kraftwerk é um museu ao vivo, com performance quase perfeita, ainda conseguem espalhar sorrisos e mexer quadris. Com alguns retoques ao vivo e improvisações do que se escuta nos álbuns, tudo soa perfeito e cristalino, techno, dub, hip-hop, pop, tudo surge em mente nessa usina de força criativa. A parte visual remete a cada um dos seus discos, com estética retro, expande a experiência do concerto e da mais dinâmica as músicas.

O ideal do Kraftwerk era o da máquina superar o homem, e homem através da máquina extrapolar a sua existência, essa simbiose pós-humana não se reflete mais em suas apresentações, se mantém mais na sua biografia e testamento. No momento ápice do show, quando os 4 humanos dão lugar aos 4 robôs sósias, é justamente a hora que surge a falha, o erro que suplanta o ideal, o playback de Robots tranca, as luzes do palco travam e uma lágrima digital escorre, os robôs agora são humanos, sangram e se mostram vulneráveis.

De nenhuma forma isso estraga o entretenimento e a felicidade de ver mais uma vez ao vivo uma parte importante da cultura pop, os país da música eletrônica, mas estou vacinado contra a idolatria, por isso não sofro, tudo é alegria e vivência no reino da Suécia.

Agradeço a Embaixada da Suécia no Brasil que me proporcionou a vinda para o país, pude visitar alguns festivais e conhecer pessoalmente a cena local, e por tabela ver alguns clássicos da vida.

Tags:, , ,

05/08/2016

Gabriel Cevallos

Gabriel Cevallos