Influenciado por Roberto Carlos, Erasmo cresceu na escola da Jovem Guarda. Quando o programa apresentado pelos dois e Wanderléia encerra suas atividades em 1968, o compositor entra em crise, mas o soul norte-americano e o tropicalismo brasileiro o inspiram novamente e em 1971 lança a viagem chamada Carlos, Erasmo, um de seus discos mais inspirados que relembramos hoje, no aniversário de 74 anos do Tremendão.
Em março de 1967, Otis Redding e Carla Thomas denominam-se os reis do soul no disco King & Queen. Mesmo que Erasmo nunca tenha deixado o rock’n’roll de lado, os sopros e o groove do baixo foram algumas coisas que chamaram a atenção do compositor no estilo norte-americano. Já no início dos anos 70, as interpretações florais da MPB de Erasmo Carlos e os Tremendões (1970) começam a apontar para uma nova fase de um Erasmo mais experimental e hippie.
No ano seguinte, o mais encrenqueiro da turma dos bons moços cria um disco conceitual e distinto de tudo que havia feito até então: Carlos, Erasmo (1971). Da festa sambista de “De Noite Na Cama”, escrita por Caetano Veloso, à apologia de “Maria Joana”. O registro é uma bagunça das boas, mostrando que Erasmo ainda estava se reencontrando musicalmente após a Jovem Guarda e com a Tropicália confundindo a MPB. E essa busca despretensiosa por uma nova sonoridade contou com a ajuda dos amigos Caetano Veloso, Roberto Carlos, Jorge Ben, Chiquinho de Moraes e outros nomes que participaram das gravações de Carlos, Erasmo.
Em faixas como “Gente Aberta”, “Mundo Deserto” e “Ciça Cecilia”, o amigo Roberto Carlos acompanha Erasmo nessa viagem pela soul music. O rock aparece com toda a maturidade do compositor em “É Preciso Dar Um Jeito Meu Amigo”, uma canção de contestação também composta junto com Roberto Carlos, e “Agora Ninguém Chora Mais”, música de Jorge Ben com pesados arranjos vocais e instrumentais.
Carlos, Erasmo encerra com um ode à planta da maconha. “Fumei um baseado, gostei e fiz a música com duplo sentido”, contou o compositor em entrevista ao Estadão neste ano. Os elementos afro-latinos do calipso foram inspirados em uma festa em Israel em que Erasmo e Roberto Carlos estavam durante as gravações do filme Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa (1970). Infelizmente, por conta de homens fardados e da ditadura, a música nunca chegou a ser tocada no rádio e nos shows do Tremendão.
No fim das contas, Carlos, Erasmo é um registro bem diversificado no tema das letras e nas sonoridades. Tem de tudo um pouco, até tema de novela (“Ciça Cecilia” foi a trilha-sonora de A Próxima Atração, da Rede Globo). Erasmo Carlos tentava se encontrar novamente na música e disso saiu um álbum de contradições e muitas inspirações. Em homenagem ao nosso eterno Tremendão, ouça Carlos, Erasmo logo abaixo: