Bandas Que Você Não Conhece | Bosco Delrey

30/07/2010

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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30/07/2010

Bosco Delrey é a nova aposta da Mad Decent, gravadora americana moderninha que tem no seu cast gente como Bonde do Rolê, Diplo, Major Lazer e Rusko. Com um som que mistura pop displicente, rock garageiro e psicodelia eletrônica, o cara faz música de forma divertida, cheio de parcerias interessantes e uma abrangência sonora impressionante.

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Em processo de gravação do seu primeiro disco pelo selo, Delrey guardou um tempo para falar com a NOIZE sobre o novo trabalho, sua carreira, sonoridade de suas músicas e a ligação com o Brasil. Guarde esse nome!


Em primeiro lugar, fale um pouco sobre sua história. De onde você vem, quando começou a fazer música? Apresente Bosco Delrey para o Brasil.

Eu comecei a fazer música com mais ou menos dois ou três anos, em uma bateria Fisher-Price e em uma guitarra de brinquedo. Eu cresci em Nova Jérsei, em frente a um milharal, e costumava seguir fantasmas por lá. Eram fantasmas ou alieníginas, mas eu tenho quase certeza de que eles implantaram algo na minha cabeça que me fez compor música compulsivamente durante minha vida toda. Depois de um tempo, eu encaixotei tudo e me mudei para o Brooklyn, onde eu fiquei flutuando, absorvendo tudo que eu conseguia. Escrevi alguns pops doidões, que hoje descansam em paz para sempre em um porão de Nova Jérsei ou em apartamentos aleatórios da cidade, em fitas e mini discos. Eu vi o mercado nova-iorquino enfraquecendo e percebi que deveria lançar duas ou três faixas, então eu as passei para o 77Klash, que parecia estar mandar na cena do centro. Uma dessas músicas era um cover de “Around and Around“, uma música de Chuck Berry, gravada com uma batida meio dancehall. Klash curtiu muito essa e quis lançá-la imediatamente. Nós viramos amigos e ele me apresentou para todo mundo. Eu tinha ficado muito enfiado no meu quarto nos últimos anos e ele me puxou para fora de casa e para dentro da cena. “Pull up, pull up!“, sabe? Ele me botou pra cima e eu vou ser para sempre grato a ele.

Nós tocamos juntos em um show de abertura do Mad Professor, maior mestre do dub, com Macka B como MC. Eu só tinha lido sobre esses caras e pensei que Klash estava tirando onda comigo, até instantes antes do show. Então eu fui para o palco com Jahdan Blakkamoore e Klash. A plateia ficou olhando para mim, tipo “o que esse branquelo está fazendo no palco, com essa jaqueta de couro e esses óculos dos anos 60, num show de dub, reggae e dancehall?”. Klash tocou umas músicas, depois Jahdan, mas a plateia ficou louca, completamente fora de controle, quando eu toquei. Até Mad Professor falou que curtiu. Então, yeah, no camarim do Blender Theater eu decidi que era hora de parar de encher o saco e ir fazer um disco.

E como você chegou à Mad Decent?

Klash me apresentou ao Diplo, porque ele sabia do novo projeto dele, o Major Lazer, que estava apenas em desenvolvimento na época, e achava que ele iria curtir minhas músicas, por causa da conexão com o dancehall. Diplo definitivamente curtiu minhas faixas. Quer dizer, eu estava fazendo o tipo de música em que ele estava ligado. Ele é um excelente DJ por causa do amplo conhecimento musical que ele tem, e aconteceu de ele estar ligado no mesmo som que eu estava ligado. Ele me convidou para umas sessões de gravação, onde eu conheci Jasper Goggins, da Mad Decent. Tinha também uns caras de Trinidad e Antigua, o que eu acabei descobrindo que eram da turma do Skerritt Bwoy e Jillionaire. A Mad Decent estava crescendo, eu estava escrevendo toneladas de músicas e nós estávamos todos ficando amigos. O disco do Major Lazer saiu e abriu as portas para a Mad Decent me dizer que, sim, agora é a hora e nós vamos levar sua música para o mundo.

No Brasil, nós gostamos muito de rotular música. Mas é muito difícil encontrar só uma (ou duas, três, quatro…) influências nas suas gravações. Como você descreveria sua música?

Quando eu comecei a lançar faixas em blogs, eu vi como as pessoas estavam tentando me estipular um gênero ou categorizar meu som. Rockabilly, dancehall, garage, psicodélico, dance, futurista, ou qualquer coisa que eles pensavam. Eu simplesmente não consigo, fisicamente, me forçar a ser um gênero ou criar uma forma categorizada de expressão. Eu escrevo sons e eu ilustro esses sons com minha música. Parece bastante simples para mim. O Brooklyn é uma mistura de diferentes culturas e eu sou uma pessoa curiosa, então eu vou experimentando tudo e processo tudo através dos órgãos de Bosco Delrey e, talvez, até tocar isso em um órgão. Eu sou guloso quando se trata de música. Eu amo música em todos os sentidos e amo me expressar através dela em todas as maneiras que eu puder.

Eu estou lançando música em um selo basicamente de DJs, mas eu sou um compositor. Na minha cabeça, os dois não são muito diferentes. O DJ pega faixas e mistura elas fisicamente, em seus laptops ou nas pick-ups, e eu estou fazendo algo parecido, só que através da minha memória. Tem mais do que isso, só que, basicamente, a ideia é similar. A memória nunca traz algo à tona da mesma forma que a vez anterior. As coisas podem rodopiar e ziguezaguear na minha mente, com minhas próprias ideias e, no fim das contas, tudo se torna meu. De certa forma, é uma forma muito tradicional de funcionamento. Antigamente, era chocante se alguém escrevia suas próprias músicas. Eu quero fazer parte dessa tradição. A maior parte das coisas que duram não aparecem através do ar fino.

Como eu descreveria meu som? Bem, acho que isso é mais bem feito através das minhas músicas.

Suas músicas flutuam de reggae a rock e hip hop e pop e praticamente todo o resto. Você parece um artista 100% livre. Você procura isso intencionalmente nas suas composições?

Eu lhe agradeço por me chamar de “artista livre” porque, se eu não o fosse, acho que eu estaria fazendo algo errado. Para mim, eu encontro a liberdade fazendo música e espero que esse sentimento transpareça nas músicas para qualquer um que as ouça. Isso é o que eu mais amo na música. É o sentimento de que tudo é possível.

Diplo o descreve como “uma espécie de Elvis de uma lata de lixo de Nova Jérsei“, você diz que é o “Jerry Lee Lewis Carol King do pop“. Mas, ao mesmo tempo, você trabalha com artistas como Drop The Lime e 77Klash, que são essencialmente eltrônicos. Como você concilia passado e futuro na sua música?

Essas são apenas algumas das maneiras de ajudar pessoas a colocar seus dedos no que eu estou fazendo. Todo mundo está sempre tentando por o dedo em “o que alguma coisa é”, especialmente em música. Muito pouca gente vai ouvir se ninguém escreve sobre, e se ninguém sabe o que é, é difícil de escrever. Por que não pode haver uma resenha que diga “esse álbum é legal e eu curti ele“? Minha música é hoje e ontem e amanhã. Eu não consigo imaginar porque minha combinação funciona. Eu só consigo explicar isso emocionalmente e é por isso que minhas músicas existem. Elas pintam uma figura muito melhor.

Em casa ou no carro, o que você tem escutado?

Agora mesmo, estou alugando a casa de um outro músico chamado Harlan T. Bobo. Eu praticamente só ouço vinil em casa, mas todos os meus discos eu deixei na costa leste, então eu tenho mexido um pouco nas coisas dele. Ele tem um 45 polegadas da sua banda, chmada Arsene Obscene que eu estou curtindo. Eu estou curtindo demais Abner Jay e acabei de comprar um disco dele, chamado Folk Song Stylist. Da música atual, sou muito fã do Gucci Mane.

O Brooklyn é conhecido como um centro de inovação e vanguarda. Você viveu sua vida inteira aí? Como um morador, o que você gostaria de apresentar ao Brasil? O que está acontecendo por aí?

Brooklyn? Eu não estou mais lá! Eu estou morando em Memphis, Tennessee. Eu cresci em Nova Jérsei e me mudei para o Brooklyn porque eu conhecia alguns poucos músicos lá. A cena era legal por um tempo e ela definitivamente teve e tem algo a mais. É difícil falar sobre o que está acontecendo lá agora, estando onde eu estou, mas eu sempre ia assistir as bandas do Social Registry, como Growing ou Ghost Exits. Há essa coisa lo-fi rolando agora, mas eu não tenho a menor ideia do que se trata, porque todo mundo só balbucia. Memphis tem uma quantidade fantástica de música experimental e eletrônica. Parece uma pequena cama quente. Há toneladas de bons músicos fazendo música despretensiosa e inspirada sem a intenção única de conseguir um contrato com uma gravadora.

De certa forma, é possível notar uma assimilação da cultura brasileira na cultura americana – especialmente na Mad Decent. O que você conhece e ouve da cultura brasileira?

Brasil, Brasil, Brasil!!! Eu tenho um CD em português do Brasil que eu escuto bastante e um amigo que prometeu me ensinar a tocar pandeiro. Caetano, Os Mutantes, Jorge Ben, Gal Costa… Eu não consigo entender as letras ainda, mas eu me inspiro massivamente neles e na energia que emana dos discos. Eu acabei de fazer vocais em um novo instrumental do Bonde do Rolê que está foda. Eu peço para a Mad Decent me mandar pro Brasil sempre que eu posso. Na terra dos sonhos, eu gravo meu próximo disco aí.

Você está gravando o seu novo LP agora, certo? Como estão as sessões de gravação? Com quem você está gravando? E quando o disco deve sair?

Na realidade, eu gravei o disco durante todo o ano passado. Foi quase todo gravado em quartos de pequenos apartamentos do Brooklyn, assim como os singles que eu acabei de lançar. Eu realmente só uso o estúdio grande para os vocais principais, baterias ao vivo e mixagem. As sessões estão acontecendo no estúdio do Doug Easley, aqui em Memphis. É um lugar maravilhoso, com muitas ferramentas analógicas e o Doug é o cara perfeito para me ajudar a terminar esse disco. Ele tem uma história com materias gravados em casa que começou com ele gravando o Big Star em um disco de quatro faixas, no quintal da sua casa. Eu não acho que ele tenha posto as mãos em um projeto como o meu antes, auto-produzido e sem banda. Ele está acostumado a gravar bandas, tá ligado? Sonic Youth, Cat Power, os White Stripes. Grupos com mais de uma pessoa. É meio engraçado às vezes quando eu estou tocando piano ou órgão naquele estúdio gigante dele e sou só eu e de repente vem aquela voz da sala de mixagem. Apesar disso, o processo inteiro foi muito fácil e rápido. A maior parte dos vocais foram feitos em um ou dois takes, sem edição. Nós estamos prestes a chegar na mix final dessa sessão, essa semana. Depois disso, só pergunta para a Mad Decent pra saber quando o disco poderá ser escutado.

TwitterMyspace | Mad Decent

30/07/2010

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