#BQVNC | The Velociraptors, rock and roll primitivo de Mossoró, RN

09/02/2015

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Ariel Martini/Divulgação

09/02/2015

Seria Mossoró a Detroit brasileira? Se dependesse do Velociraptors, seria. Não o dinossauro com garras em foice que iam direto para as regiões vitais das presas, mas uma banda que vai na jugular da maior cidade do Michigan e arredores para buscar sua principal influência: o rock and roll protopunk 70 estilo MC5 e Stooges, que cruza com referências de contemporâneos como The Hellacopters e FlamingSideburns, reforça com a garra de quem cresceu no punk/hardcore e esquenta no último grau do calor abrasador do oeste potiguar. O resultado da mistura é uma roqueragem energética, selvagem e universal.

Ao lado de conterrâneos como Cätärro, Monster Coyote e Red Boots, o Velociraptors vem movimentando a cena do Seridó desde 2008. E depois de um show brutal em Natal, os dois guitarristas da banda, Phillipe Oliveira – frontman e único remanescente da formação original – e Leo Martínez – integrante que não é integrante – falaram para a NOIZE sobre sua trajetória, o EP novo que acabam de produzir com Chuck Hipolitho e sobre a cena do Rio Grande do Norte.

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Contem um pouco sobre o começo de vocês na música e sobre o Velociraptors. Como que rolou, de onde veio o nome?

Phillipe: Comecei minha carreira em banda em 2004 com o Cätärro, que também é de Mossoró. A gente era muito influenciado por bandas da Läjä Records, do Fábio Mozine, com quem eu comecei a ouvir coisas como Motossierra, Evil Idols, guitarria… Aí comecei a ouvir rock and roll, fui buscar coisas mais antigas que influenciaram o punk, como MC5, New York Dolls, e esse rock and roll proto-punk me encantou muito. E eu sempre pensava em montar alguma coisa do tipo com o Aninho, baixista do Cätärro. Foi aí que em 2008 a gente encabeçou esse projeto paralelo que era o Velociraptors. É um nome meio selvagem, que remete a essas bandas de rock and roll primitivo, ao garage, ao power pop, que são as referências da gente. Eu sou o único da formação original, e há sete anos a gente tá aí na ativa.

Leo: Lá por 2009 eu tocava no Flaming Dogs, aqui de Natal, e a gente se conheceu tocando. Eu já curtia o Phillipe e me identifiquei muito com o som do Velociraptors, então começamos a trocar uma ideia pela internet, até que entrei na banda oficialmente em 2010. Fiquei um tempo e depois precisei sair – porque tocava no Camarones Orquestra Guitarrística, banda instrumental que tinha uma agenda muito cheia –, mas a gente manteve uma ligação forte. Eu ficava na correria Natal-Mossoró, ia pra lá sempre que podia, ensaiava, fazia show… Tirando o Wild Ambitions, que é o primeiro disco, gravei quase tudo com eles. E a gente continua nessa correria aí, em cidades diferentes.

Phillipe: O Leo na verdade diz que não faz parte da banda por questões logísticas, porque ele mora em Natal, tem trabalho… Oficialmente não faz parte, mas se você pegar uma proporção de shows nossos, ele toca bem mais do que não toca.

Como vocês veem a trajetória do Velociraptors desde do Wild Ambitions? As influências continuam as mesmas, rolou alguma mudança essencial no discurso, na estética?

Phillipe: O que é mais notável é a evolução técnica, a gente amadureceu um bocado musicalmente. Particularmente, expandi bastante meu gosto musical. Hoje escuto soul music, blues, power pop. Curto muito The Jam, The Fans, Modulares, que é de São Paulo, The Nerves… Tento incrementar isso junto a MC5, Stooges, New York Dolls. Também ouço Charles Bradley e Sharon Jones, dois cantores de Nova York de quem faço questão de ter os discos. Eles resgatam uma época que tá meio esquecida na música do mainstream, desse rock cada vez mais virtuoso… Apesar de não tá tão evidente, tem uma influência forte. A gente busca a simplicidade.

Vocês têm algum projeto paralelo?

Phillipe: Eu toco na Lei do Cão [guitarra e voz], que também é uma banda de Mossoró, de hardcore anos 80.

Leo: Eu tocava no Camarones, passei quase cinco anos com eles, e tô começando um projeto novo, mas ainda não tem nada muito definido.

Quem faz as capas de vocês? Tava pirando hoje na arte do New State, que tem uma pegada mais psicodélica – tem uns pianinhos no começo também, né? – e é diferente das outras, mais punk, mais cruas.

Phillipe: As artes são de quatro pessoas de quem eu gosto muito. Um é o Durex – tocamos juntos no Drunk Driver, aqui de Natal –, que fez a capa do Wild Ambitions (2010). Ele era tatuador e fez aquele tigre old school que remete ao Sailor Jerry. A gente gosta dessa parada. Pro A New State of Mind (2014) chamamos um cara que eu sempre curti, mas achava inacessível: o Cristiano Suarez, de Maceió. Apesar disso, joguei a ideia, e ele achou ótimo, já gostava da banda sem a gente saber. Sou fã, qualquer coisa que ele faz já gosto de imediato. O Kin Noise, um cara de Recife que toca na Sex Drive e tem essa arte mais punk, mais sujona, fez o nosso split com o Galgos, banda do Rio Grande do Sul, e agora chamamos o Chico Felix, do Evil Idols, de Curitiba. De moleque eu já acompanhava as artes dele nos discos da Läjä. A capa do Drunk Fools vs True Till Deaths (2001), se tivesse em versão pôster, eu teria no meu quarto. Pago um pau pra arte dele.

artes velociraptors

Aproveitando que você mencionou, como rolou esse split com o Galgos, essa junção dos Rio Grandes?

Phillipe: Vi um clipe deles no Youtube, acho que em 2012, e gostei pra caralho, era um rock meio selvagem, meio parecido com o nosso. Eles não eram muito grandes, então pareceu acessível pra convidar. Casou muito bem. A gente é amigo até hoje, apesar de ninguém se conhecer pessoalmente.

Quem compõe as letras e do que elas falam, tem um posicionamento político, vocês só retratam o que vivem?

Phillipe: Eu componho a maioria. No Wild Ambitions tem algumas dos integrantes da época, o Luan da Red Boots e o Aninho, mas depois como eles saíram e eu fiquei tentando deixar a banda viva, fiquei responsável. Como vim da escola do punk, de letras mais políticas, tento colocar isso, falar de livros que eu leio, de anarquismo… Também herdei muito do MC5. Quando eu li o Mate-me Por Favor aquilo fervilhou muito, deles quererem revolucionar numa época quando ninguém questionava as coisas. Tento fazer essas referências, mas também falo de diversão, for fun. As letras também falam sobre amor, sobre vivências pessoais minhas, namoradas, namorados [risos]…

Cantar em inglês é uma escolha estética ou você se expressa melhor? Tem algumas músicas em português, mas poucas.

Phillipe: É por estética mesmo. Até me questiono se ficaria legal em português, mas tenho receio de não soar legal.

Mossoró tem uma economia estabilizada e em crescimento, e também tem uma história progressista: o primeiro voto feminino do Brasil, a libertação dos escravos antes da Lei Áurea… Vocês acham que isso se traduz de alguma maneira e dá uma cara própria pra música da cidade?

Phillipe: Acho que a influência tem mais a ver com resistência, no sentido de que, tipo, a gente nunca teve um espaço como o DoSol [estúdio e festival], nunca teve lugares de ensaio… Sempre falo que o rock pra mim é uma coisa muito nerd, por eu estar sempre pesquisando bandas, comprar um vinil e ler a capa, colecionar, compor, essa parada. Acho que Mossoró tem muito disso, de nerds do rock. Em uma cidade grande as pessoas vão pra rua, pra balada, pra uma festa. Lá não. Hoje as pessoas estão tentando manter casas de show, estúdios de ensaio… resistindo.

Você acha que essa coisa da nerdice também se manifesta na técnica?

Philipe: Não, não [risos]. Ao meu ver é mais feeling, amor, mais de gostar mesmo sem se preocupar em tocar bem.

Nesses anos todos, vocês viram a cena de Mossoró mudar expressivamente? O público do Velociraptors mudou de 2008 pra cá?

Phillpe: Sim. Hoje tem mais estrutura. Antigamente quando a gente ia ensaiar, levava caixa de som em cima de carrinho de skate, ensaiava na minha casa até o vizinho ligar pra reclamar [risos], não tinha estúdio. Agora já tá bem mais evoluído e tem muitas bandas boas, que ajudam umas às outras. Parece que elas têm mais garra de chegar e fazer turnê, têm mais vontade de sair no mundo, de se jogar no rock.

Falem um pouco sobre o disco novo, como foi a produção com o Chuck Hipolitho, foi em São Paulo, como que rolou com a Ghost Recordings?

Leo: Fomos convidados a lançar um EP pela Ghost Highway Recordings, que é um selo que sempre curtimos muito, que lançou bandas como DT’s, lançou material do Imperial State Electric… gente de quem a gente é fã há muito tempo. Foi uma grande honra. A gente gravou no DoSol, captou tudo lá com produção da própria banda e pensou, pô, precisamos de um cara pra dar o toque final. Aí lembramos do Chuck, que a gente admira muito desde o Forgotten Boys, todo mundo aqui é fã. E ele conhecia as nossas influências, então tinha tudo a ver. Mandei um e-mail meio que “Chuck, vamos fazer a mix e a master e você fica livre pra fazer o que quiser na pós-produção”, e ele aceitou, se identificou com o som. Acho que é nosso melhor registro. Mostra nossa evolução tanto em composição quanto em sonoridade. Ele entendeu perfeitamente e deu a cara que a gente precisava. Esse disco já tá pronto.

Já dá pra comprar?

Leo: Dá pra comprar com a gente e no site do selo, lá da Espanha. Saíram 100 cópias pra gente e 100 pro selo mineiro High Times Records, que é de um grande amigo nosso, o Daniel Freire, que sempre nos apoiou muito. Tem bem poucos agora, tem que se agilizar.

Vocês tão planejando alguma turnê para esse ano?

Phillipe: Como a gente nunca fez turnê fora do Nordeste, acho que tá na hora! Chego a ser ambicioso o suficiente pra querer fazer duas: uma pro Sudeste – Rio, São Paulo, Curitiba… onde a gente tem muitos amigos – e uma no final do ano pra Europa, ou pra Argentina e pro Uruguai. Rolando uma tá ótimo [risos].

Quais as bandas de Mossoró de potencial agora, alguma recomendação?

Phillipe: O Cätärro lançou um split agora com uma banda da Itália, a Feed me More, que tá excelente. Pra mim, que sempre acompanhei, é um dos melhores registros. O Red Boots também acabou de lançar um disco foda, desde o Aracnophilia (2012) eles evoluíram bastante. Tem também o Mad Grinder, com uma pegada anos 90, meio Seatle, e o Monster Coyote, uns caras muito profissionais.

Alguma coisa da safra nova, da molecada?

Phillipe: Pois é, acho que isso é um ponto negativo em Mossoró. É bom que exista a influência das bandas antigas pra quem tá chegando, mas de um tempo pra cá vejo pouca gente nova querendo se envolver.

Leo: Em Natal também não vemos uma renovação tão grande. Tem muitas bandas muito boas, mas bandas novas de gente velha. A gente também quer ver mais juventude na cena, é um processo que tá rolando.

Tem alguma diferença fundamental entre as bandas das duas cidades? Dá pra traçar uma linha distintiva?

Phillipe: Ao meu ver, as bandas de Natal duram menos. Por exemplo, tá voltando agora uma banda que cresci ouvindo, o Parole, que é aquelas misturas meio baião com letras regionais, pegam cordel como referência pras letras… com a mesma formação. Das bandas aqui de Natal eu acompanhava, por exemplo, o Fratelli, que acabou. As bandas aqui parecem ter uma vida menor.

Pra fechar, o que vocês têm ouvido fora as influências que já citaram?

Phillipe: Hoje em dia tem tanta coisa, que me dá até uma certa angústia de tentar acompanhar. Acabo reciclando muito do que ouvia antigamente. Escuto Dead Boys, Rolling Stones, Redd Kross, Bob Dylan. Tenho escutado também Dirty Fences e uma cena nova de power pop dos EUA na onda do Jay Reatard, que tem um lance meio punk com power pop. O King Tuff, lançado pela Subpop… Tomo tudo isso como referência pro Velociraptors.

Leo: Tenho escutado Robert Pehrsson, que é um cara dessa galera do Hellacopters. Robert Pehrsson Humbucker, um projeto solo dele com os caras que tocaram no Thunder Express. O Imperial State Electric, o BellRays. A gente também bebe muitos dos clássicos, de MC5, New York Dolls. Não cansamos nunca.

Leo e Phillipe. Completam o Velociraptors o baixista Renato Misfits e Gil Marinho, na bateria

Leo e Phillipe. Completam o Velociraptors o baixista Renato Misfits e Gil Marinho, na bateria

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