Bruna Mendez monta quebra-cabeças da paixão em “Nem Tudo é Amor”

23/10/2024

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Alile Dara Onawale/ Divulgação

23/10/2024

Nem Tudo é Amor, terceiro álbum da cantora, compositora e produtora Bruna Mendez, lançado em 26/9, traz a narrativa de um relacionamento conturbado, no qual o eu-lírico da artista busca formas de entender acontecimentos do passado. O novo trabalho da goiana é baseado em beats que dialogam com o reggaeton, o funk, o R&B e a MPB e conta com participações de Bebé e Lay (da Tuyo).


Com direção musical de Bruna e Lucs Romero, o álbum ainda conta com faixas produzidas por Machado, Enzo DiCarlo, Mateus Lanzarin e Adieu. “É uma obra confessional. Tenho buscado me distanciar para poder elaborar e compreender melhor os sentimentos. Acredito que com o passar do tempo – talvez – a minha percepção mude”, declarou a artista à NOIZE. Confira o faixa a faixa do disco:

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“eu já não falo de amor (nem quero que você me ame)”: É a primeira música do disco, não por acaso. Ela faz a transição do Love Songs Vol. 1 para o Nem Tudo é Amor, mas neste novo álbum, a canção assume outra conotação. O tom descontraído de antes se transforma; agora ela é mais madura, rancorosa e séria. É o momento em que a brincadeira começa a machucar. Com a mudança de tom em relação à versão original, ela ganha uma atmosfera nostálgica e é uma das faixas que passa por mais transformações ao longo do álbum. Ela inicialmente introduz o disco (com os arranjos de cordas) e depois, com mais um giro de instrumental, segue com elementos que permeiam o restante do trabalho. Além disso, é a faixa mais literal do álbum – tudo o que está na letra é dito de forma direta, exatamente como está escrito, do jeito que é.

“imenso mar”: Nasceu como um exercício pessoal, alternando entre uma escrita literal em alguns momentos e completamente abstrata em outros. Desde o início a música teve uma base de funk e a métrica foi construída sobre esse arranjo, que eu já tinha apresentado para o Lucs. Ao longo do processo, fizemos algumas mudanças trazidas pelo Enzo; essa faixa funciona quase como um “modo de exibição” do disco, onde tudo acontece em pouco mais de três minutos. Quando a Lay entra, grandona, depois dos meus versos sussurrados, é como se essa figura que eu mantinha no pedestal finalmente aparecesse para dizer exatamente o que eu queria ouvir, mas que eu nunca dei o tempo necessário. No fim, termino culpando a mim mesma, em uma eterna lamentação de quem foi precipitada demais. A música acaba com uma modulação, fazendo referência ao disco O mesmo mar que nega a terra cede a sua calma (meu primeiro álbum).

“nem tudo é amor”: É a música que mais orienta a estética do disco, é um reggaeton conduzido pelos beats, synths, violão e piano. Quando mostrei a estrutura do disco pro Lucs, sugeri que a gente começasse por ela, com a intuição de que ela daria todo o mood do trabalho. Para mim, é a canção mais pessoal, quase como uma carta, e talvez por isso eu a considere a mais forte do disco. Ela carrega a raiva em seu próprio arranjo – a voz levemente saturada, o synthbass e os synths, tudo nela tem um pouco de tensão, como se houvesse um “nervo exposto”.

“tô por você”: Surgiu junto com “temporal”, quando o Colors Studios me convidou para gravar em 2022. Mostramos essa música na época, mas acabou não rolando. Sempre senti que faltava algo – um momento contemplativo, uma mudança de direção que desviasse um pouco da estética anos 1980 que ela tinha. Por um tempo, ficamos sem saber exatamente o que fazer com ela. Quando decidimos “esvaziar” o arranjo, surgiu o sentimento que eu vinha tentando capturar nas diversas versões da letra, mas que o arranjo anterior não acompanhava. Eu queria ser a mais sincera e vulnerável possível, e com esses versos e o novo arranjo, parece que consegui. A faixa faz parte de um mini bloco no álbum onde o rancor começa a ser deixado de lado, abrindo espaço para uma compreensão mais tranquila dos sentimentos.

“temporal”: Encerra bem rapidamente – (risos) – o bloco que explora uma compreensão mais tranquila dos sentimentos. Ela é a faixa mais solar e conformada do álbum, algo que não se repete nas demais. Refizemos o arranjo para que soasse totalmente diferente da versão original, mas preservamos sua essência, que é justamente o que a torna tão envolvente: aquele sentimento de tranquilidade. A música, tanto na letra quanto no arranjo, descreve o percurso de um amor que, com o tempo, deixou de existir, mas o que resta é uma nostalgia boa – uma lembrança que ainda carrega um sentimento bom.


“risco”: É a maior canção do disco, o arranjo serve as intenções e nada surge por acaso, é tudo em função da letra. Ela tenta seguir com o sentimento de “temporal”, mas não consegue e logo volta cheia de ódio. É como se eu estivesse me olhando no espelho, me cobrando por tudo o que não consigo expressar. Ao mesmo tempo, essa raiva se transforma numa espécie de mecanismo de defesa, me convencendo de que, na verdade, o que sinto é medo – medo de ainda gostar. Há uma cobrança constante a longo da música, tanto em relação a mim quanto à outra pessoa, sobre a importância de falar e como se eu também tivesse no esforço constante de desvendar o que não é dito. Quando a Bebé entra na música, é como se eu tivesse finalmente ouvindo aquilo que precisava. Essa parte revela o motivo pelo qual as coisas deram errado. O esforço excessivo foi insuficiente e desgastante.

“não te conheço”: É a música com menos canais, a mais simples, e traz como referência a versão de “Besame Mucho” do João Gilberto no disco Amoroso (1977): voz, violão, uma condução rítmica básica e os arranjos de corda com colaboração do Mateus Lanzarin exaltando os momentos de maior tensão/emoção da música. Apesar da letra, a harmonia e as cordas permanecem com alguma ternura, sem deixar que a frustração e a raiva presentes da letra consumam o sentimento. Assim como em “nem tudo é amor”, eu sinto que ela funciona como uma carta, porque tem muita letra, trazendo uma construção de memórias fragmentadas ao longo do tempo/música.

“baby, não me liga”: Faz parte do bloco de “superação” do álbum. Nesse momento, eu deixo de colocar toda a culpa em mim e reconheço que o problema não era só meu. A música traz uma nova perspectiva sobre os sentimentos que explorei em “temporal”, mas agora com um toque de realidade e uma percepção mais elaborada. Produzida com a colaboração do Enzo Dicarlo, ela é uma das músicas com maior riqueza de detalhes no arranjo, são muitas texturas, synths e muitos elementos percussivos. A música ainda faz referência a “não te conheço” tanto no refrão quanto nos últimos versos.

“só + uma chance”: Traz o sentimento e a linguagem mais “jovem” do disco e é a faixa mais pop, misturando elementos de beats dos anos 2000 com R&B, e funciona como um recado: “sério que você tá falando isso agora?”. Como se fosse um último suspiro, o último momento de humilhação, o último pedido, mesmo que pra ter essa última chance (e a gente já percebeu ao longo do disco que todas as tentativas foram fracassadas, risos).

“eu ando pensando”: É uma das minhas músicas preferidas desse disco, eu realmente gosto do sentimento dela. Inicialmente, construí o arranjo sozinha e depois mandei pro Machado (da Tuyo), que levantou bons momentos. Guardei a faixa por um tempo, sabendo que seria uma ótima escolha para fechar o álbum, mas já estava decidida a lançar independente se esse disco iria ser viabilizado ou não. Foi aí que mandei pro Adieu e ele estruturou melhor e deu mais camadas ao arranjo. Quando o Lucs assumiu a produção, já estávamos pensando no álbum. Mudamos o tom, acrescentamos mais synths e nuances. “eu ando pensando” é um reggaeton despretensioso, e, à medida que a música avança, os synths se tornam cada vez mais presentes, terminando com o chop de voz repetidas vezes. Encerrando a saga dessa guerreira dramática e delusional com um pouco mais de esperança, apesar de ainda doer.

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23/10/2024

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