Do Caos à Lapa: O mangue armado no Circo Voador

12/05/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

12/05/2014

Fotos: Ana Oliveira Rovati

O país está em obras. O Rio de Janeiro está em reforma. Mas, neste último final de semana, o verdadeiro caos esteve na Lapa. A chuva, que caiu por mais ou menos trinta minutos na noite de sexta-feira, recomeçou na tarde de sábado e só parou por volta da meia noite. Foi o bastante para transformar o barro em lama. Aí, meu caranguejo esperto, o cenário ficou perfeito: o mangue estava armado no Circo Voador. Foi lá que a Nação Zumbi fez seu primeiro retorno aos palcos para divulgar o mais recente álbum, que leva o nome da banda. A expectativa dos fãs era grande e, aliás, faz tempo. Há sete anos os pernambucanos não lançavam um disco de inéditas.

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Muito mais do que eternizado na tatuagem do genial baterista Pupillo, Chico Science permanece até hoje em tudo aquilo que a banda representa. No show, foi lembrado já na primeira música de sexta-feira, “Cicatriz”, através da fácil analogia da letra com a falta que ele faz. “Quando fica a cicatriz, fica difícil de esquecer”, já cantava o público, começando a se familiarizar com o single que foi lançado antes do disco. Na noite de sábado, a música de abertura do show também ficou por conta de outra das novas, “Foi de Amor”. Tirando as pequenas alterações no setlist, as duas apresentações foram muito semelhantes, ambas com a duração média de uma hora e vinte minutos (incluindo o bis). As interações de Jorge Du Peixe com o público nos intervalos das músicas são raras e pontuais. Ao vivo, o efeito do entrosamento do baixista Dengue com a percussão, sempre matadora, é sensacional.  Mas, sem dúvida, o desempenho do guitarrista Lúcio Maia faz toda diferença.

Show Nação zumbi

Como é normal nos shows de lançamento,  a festa realmente esquentou quando as músicas mais antigas começaram a chegar. A primeira da lista foi “Bossa Nostra”, e a partir daí a seleção de repertório misturou hits e clássicos, incluindo os do primeiro disco, “Da Lama ao Caos”, que já comemora duas décadas esse ano, deixando o retorno da banda ao estúdio ainda mais simbólico.

Outro fato que pode ter sido decisivo para acabar com o jejum de inéditas em 2014 foi a banda ter sido selecionada no edital do ano passado da Natura Musical (se você tem uma banda, mas não é o Lenine ou o Tom Zé, já deve ter tentado entrar nesse edital).  Mantendo o costume de ter sempre o aval de uma gravadora (sim, houve um tempo em que isso fazia toda diferença) no lançamento de seus álbuns, o Nação Zumbi (2014) saiu pela Slap, um braço da Som Livre, que, por sua vez, é subsidiária da Rede Globo. Fato que, imagino, facilite a entrada de uma das novas músicas em outra novela da emissora. Não que uma banda do porte da Nação dependa disso para continuar chegando até um grande público,  mas que foi lindo ouvi-los levando o “Inferno” para aquela novela das seis (“Lado a Lado”, 2012/2013), ah, isso foi. Minha aposta de agora seria “A melhor hora da praia”, pela suavidade presente no arranjo e, é claro, pela participação de Marisa Monte. Detalhes assim talvez nos façam pensar que o novo disco já não pesa uma tonelada, o que talvez não seja de todo ruim. Nada melhor do que a mudança para favorecer a permanência. Afinal, uma banda que ignora tendências pra invadir o tempo jamais poderia se repetir.

Show Nação zumbi

Se as letras do disco não soarem tão fortes já nas primeiras ouvidas (como por exemplo a sensacional “Fome de tudo”, do disco homônimo de 2007), não se engane. A poesia peculiar, mais uma vez, está lá. Seja atravessando os “agoras”, nos sonhos dentro dos sonhos, comendo o mundo pelas beiradas, ou nos perfeitos defeitos. Tanto na sexta quanto no sábado, as novas composições apareceram pouco dentro do repertório dos shows de lançamento. Em ambos, a música que antecedeu a saideira no Circo foi a “Pegando Fogo”, favorecendo ainda mais o trocadilho pronto. A metáfora se concretizou de fato com “Manguetown” e depois, já no bis, com as clássicas “Quando a maré encher” e “Da lama ao caos”.

Passada a sensação de que o show  poderia ter continuado (não rolou “Côco Dub”,  por exemplo), nos resta mergulhar nas novas canções. Acredito que algumas delas já estarão totalmente aceitas pelo público no tempo de um próximo lançamento, mas é esperar pra ver. Tomara que não mais por sete longos anos.

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12/05/2014

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