Casais da música refletem sobre criar uma família e ser artista em meio à pandemia

01/06/2021

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Por: Brenda Vidal

Fotos: Reprodução

01/06/2021

Ser artista no Brasil tem sido uma tarefa ainda mais desafiadora em meio à pandemia de Covid-19. Encarar a super convivência ao lado dos filhos em isolamento, a privação da socialização, as aulas EAD, e até mesmo o medo pela doença também não é algo que podemos chamar de fácil. E quando todos esses fatores se combinam?

Enfrentar a reinvenção e a resistência da indústria criativa em um contexto que impossibilita a circulação segura em turnês e a realização de shows presenciais, enquanto são responsáveis pela criação, sustento e apoio aos seus filhos. Essa tem sido a rotina de mães e pais que se unem no amor, no lar e na profissão. Conversamos com a artista Luedji Luna e com o rapper Zudizilla, pais do nenê Dayo, e com a cantora e compositora Anelis Assumpção e o músico, cantor e compositor Curumin, que criam os adolescentes Rubi e Bento, além do pequeno Benedito, sobre suas dinâmicas, reflexões e manobras para seguir criando – sejam músicas, sejam vidas. Confira abaixo:

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Luedji Luna e Zudizilla

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Oi, Luedji e Zudizilla! Espero que estejam bem, dentro do possível. Muito obrigada por terem topado conversar com a gente! Para iniciar o nosso papo, gostaria de saber: quais foram as principais mudanças que vocês precisaram enfrentar na rotina doméstica e de criação do filho logo que a pandemia se instaurou no Brasil? Que adaptações foram necessárias?

L: Acredito que as principais mudanças foram nos hábitos de higienização da casa, da roupa, de si mesmo. A preocupação constante pra que o lar seja um ambiente seguro pra nós mesmos e para o bebê.

Z: Acredito que a mudança maior seja da Luedji, porque estamos morando no AP dela, que já estava decorado de acordo com as necessidades da mesma. Eu só tive que trazer ou tirar algumas coisas daqui pra ter mais espaços. Eu sou total sem teto em SP (risos). 

A indústria musical está passando por um período de reinvenção e reconstrução imposta por todas as restrições que a pandemia ainda nos obriga. Como as crises e os baques sofridos pelo setor, como fechamento de casas e impossibilidades de shows presenciais, afetaram vocês? 

L: Afetou financeiramente, obviamente, mas também teve um impacto na nossa saúde mental. É triste não poder fazer aquilo que nos alimenta, nos mantêm vivos.

Z: Eu me fudi absurdamente porque lancei o meu primeiro álbum em SP em 2019 e só consegui fazer dois shows dele. Não consegui estabelecer meu corre aqui em SP com o novo trabalho, todos os shows que fiz foram com trabalhos antigos. Então, me fudi pra caralho, e é muito foda lidar psicologicamente com isso, que era a minha principal aposta pra estar e me manter aqui. Agora, eu tenho que rebolar pra caralho.

Vocês estão expostos a uma sobrecarga de preocupações; pela pandemia, pela saúde de vocês, do filho e de familiares, pela crise do setor que impacta diretamente a profissão de vocês. Como é lidar com tudo isso? Há uma tentativa de blindar o filho das ansiedades, medos, e tristezas que vocês estão sentindo?

L: Eu tenho feito terapia e me ocupado deste grande portal que é a maternidade. Acho que apesar dos pesares, a quarentena tem sido uma oportunidade de viver essa experiência com plenitude. O Dayo tem tido a mãe e o pai em tempo integral.

Z: Cara, eu me preocupo muito com minha família porque eu venho de uma realidade muito difícil. Geral é muito pobre e minha mãe depende de mim pra caraca, então, é foda. Mas, na real, sempre foi. Eu me preocupo muito, mas sei que minha família tem o mínimo de noção do que está acontecendo e que nos falamos sempre e, a princípio, está tudo sob controle. O Dayo não entende nada né?! Ele nasceu na pandemia, esse é o normal pra ele. A ansiedade é só nossa, mas eu já nasci na pressão, então, eu pinto, produzo, fumo cigarro e cozinho. Faço de tudo pra não entrar em parafuso porque já era pra ter enlouquecido antes por outras tretas inerentes à minha vivência. Eu não vim de uma família muito planejada, meu bairro era violento pra porra, eu trabalho desde os 14 anos. Lido muito bem com pressão e crises. O que me afeta é a situação de outros que estão à mercê desse momento pandêmico. Minha solidariedade com quem tá sofrendo às vezes me afeta em cheio, mas não chega a ser direto porque não perdi ninguém nesse período, mas conheço gente que perdeu. Isso me entristece.

Luedji e Zud, vocês enfrentaram a gestação em meio à pandemia. Como esse contexto impactou a preparação de vocês pro nascimento do bebê, o puerpério e os primeiros meses do recém-nascido? Como estão administrando essa super convivência numa fase em que os filhos demandam tanto? 

L: Acho que viver uma gestação em meio uma pandemia aproximou o casal. Tudo que nós tem é nós, parafraseando o Emicida. Somos pais de primeira viagem, viver essa experiência sem interferência de terceiros só fortaleceu os laços entre os três.

Z: Somos um casal novo, nossa relação não tem muitos anos e tudo – inclusive a pandemia, é novidade. Eu não sei ser pai, nem marido e nem recluso de quarentena, e o momento me trouxe as três possibilidades ao mesmo tempo, o que foi da hora até.Tudo é uma questão de se posicionar à frente das condições e da situação, todas elas nos deram tempo para nos prepararmos. Ser pai começa no mês da descoberta, e aí você tem 9 meses para se preparar. A Covid, apesar de ser muito mortal, é um vírus que a gente consegue se manter à parte, graças a essa vida não corporativa e informal que nos permite trabalhar à distância, e, se cuidando legal, dá pra não pegar a infame doença. Agora, a convivência é um barato muito louco porque somos duas pessoas ABSURDAMENTE diferentes uma da outra, com necessidades completamente diferentes, mas ter um filho que precisa de ambas as personalidades por perto nos dá um gás pra que não se perca o foco de manter em pé essa instituição que acreditamos, a família. É foda, mas dá de dale.

Como é ver um filho crescer na pandemia? 

L: É frustrante em vários momentos porque não teve chá de bebê, nem festa de um ano, nem contato com outros bebês. Dayo tem crescido num apartamento, torço pra que tudo isso acabe logo e ela possa se socializar.

Z: Cara, é louco. A gente tá 24 horas perto do negão e acompanhando cada mínimo lampejo de evolução, isso daí é muito foda. No momento, estamos pensando em como vai ser a sociabilidade desse carinha, mas ele ainda vai fazer um ano, então, ele não tá muito noiado nessa fita. Espero que o governo Bolsonaro caia de uma vez, e que tenhamos avanços na área de saúde antes que ele sinta real falta de outros moleques pra correr pelas ruas, ainda que a gente não viva mais essa realidade (risos). Então, é massa, mas às vezes não é; Porém a oportunidade de estar ali 24 horas é maneirão!

Como é criar artisticamente na presença de um filho 24h por dia? Conseguem estabelecer uma divisão entre espaço doméstico e espaço de trabalho? 

L: Não. Compartilhamos o mesmo espaço. Agora nesse momento, Zud está fazendo um beat e dando de comer ao Dayo. Dou de mamar e respondo aos meus e-mails no celular. Quando necessário, um fica com o Dayo e o outro trabalha.

Z: Pra mim especialmente é difícil, mas não por causa do filho. É porque eu realmente tive que mudar a minha vida todinha quando nos juntamos, e isso me fez ter que me ver produzindo de outras formas, do jeito que fosse possível, já que eu não tinha mais aquela comodidade da particularidade individual para poder desenhar/compor/criar. Mas pra quem vem de onde eu venho, sabe que um filho não é um obstáculo pra criar. Já enfrentei coisa muito pior e, ainda nesse momento, eu tinha esse refúgio dentro de mim que deixa resíduos em forma de arte. Cêis não fazem ideia de como era, então, se eu tiver que produzir um beat na cozinha, vai rolar. Se tiver que gravar no banheiro vai rolar, ou se tiver que me deitar no chão do lado da cama no espaço que fica entre ela e a parede, eu vou dale! Meu filho é foda, é o poderoso chefe desse pico e nóis que lute até sermos o casal mais foda do Brasil e comprarmos nossa mansão e tal.

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Luedji, pesquisas revelam que muitas mães brasileiras, no contexto pandêmico, têm enfrentado um quadro de extrema exaustão. Você tem se sentido assim? Como tem evitado a recorrência dessa sensação? O papel da maternidade neste contexto se transformou para você?

L: A maternidade não me exaure porque dividimos essa responsabilidade. Tem sido um processo tranquilo na maior parte do tempo; cansa quando você tem de ser mãe, profissional e mulher bonita nas redes sociais. Acredito que é o bojo todo que traz essa sensação.

Zudi, como a pandemia impactou sua paternidade? Como as tarefas domésticas e em relação à criação do seu filho foram divididas? Você pôde perceber e refletir sobre influências da sociedade patriarcal que vivemos em sua percepção sobre ser pai de uma forma mais profunda? 

Z: Eu sou filho de laços rompidos. Minha mãe é solo, eu nunca tive um outro parâmetro. Não faço ideia do que é ter um cara/pai dentro de casa. Sempre soube que, enquanto pai, eu tenho um ponto de partida que vem da constatação de que eu sei o que é ser um mau pai, e que seria impossível eu ser mais negligente do que o meu foi. A partir daí, é só agregar elementos que me faltaram, e aqui to eu, sendo o pai que eu não tive. Minha percepção sobre o patriarcado veio muito antes de eu conseguir utilizar eficazmente esse termo.  As tarefas domésticas não são tão aquém do que eu aprendi desde cedão, afinal, eu e minhas irmãs ficávamos sozinhos mais de 12 horas por dia enquanto minha mãe trabalhava durante e após o turno de um emprego. Depois disso, meu pai teve filhos e, de novo, nós, os irmãos mais velhos, tivemos que cuidar deles. Eu tenho tato com criança e talvez isso venha desse processo ou da curta infância que tive, porém feliz pra caralho, que me faz um baita crianção – e aí as crianças me adoram. Aqui, eu procuro não sobrecarregar minha companheira e deixar ela livre pra que ela consiga cumprir as tarefas que eu não consigo, que basicamente é estar ali pra jogar uma teta na boca do meu blackzinho quando ele tá nervosão. Lavo, cozinho e faço tudo o que for preciso com muito prazer, porque eu sempre o fiz, mas agora isso tem uma grande interferência ao colaborar com a saúde mental e alívio de tarefas de Luedji.

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Como é a relação do bebê de vocês com a música? A convivência tem o tornado mais conectado com os trabalhos musicais de vocês?

L: Dayo é uma grande dançarino; quando ele ouve música ou alguém cantando, ele dança. Ele também ama instrumentos e fica colocando a mão na caixa de som, pra sentir a vibração.

Z: Acho que pela Luedji fazer um som mais soft, ela se conecta mais com ele. Eu tenho um trabalho muito denso e que parte de um lugar obscuro que meu filho um dia vai perceber, mas espero que não tão cedo.Porém, ele sempre flexiona os joelhinhos quando ouve rap e isso já me deixa muito feliz. Eu espero que quando meu filho consiga alcançar o meu trabalho, ele já esteja maduro e que não seja como eu, que fui apresentado ao mundo cru muito cedo. 

Em meio a esse processo que ainda estamos enfrentando, o que ‘casa’ significa para vocês?

L: Casa significa lugar seguro, que a gente ama, mas que não vê a hora de estar nas ruas.

Z: Se torna esse bunker onde se encontram duas das minhas maiores prioridades. Eu cheguei em São Paulo em busca de subsídio pra conseguir chamar um lugar de casa e quando encontrei Luedji, ela estava atrás de um lugar pra chamar de casa, já com mais tempo de estadia aqui e uma carreira bem mais robusta que a minha. Então, temos duas percepções do mesmo lugar em que habitamos. Eu ainda moro dentro da minha cabeça.
Mas a “casa”, endereço que temos em comum, se torna esse lugar de proteção onde estamos seguros. Mas eu ainda tenho que me entender aqui, porém não tenho pressa e nem tempo pra devanear sobre. Sempre tem uma louça pra lavar, um lixo pra levar pra rua, pra que a Luedji possa dormir um pouco mais, já que o baby boy Dayo sempre da uma mamada bolada na madruga e isso cansa a minha nega.

Anelis Assumpção e Curumin

Como os artistas estão criando, vivendo 24h com seus filhos?

A: Criando e vivendo 24 horas com seus filhos! [risos] Como dá pra ser, né? Como a gente consegue. Aqui, a gente já trabalhava muito em casa, eu e o Curumin, mas, é claro que tem uma intensificação; mais ruído, mais barulho, tem que burocratizar e roteirizar um pouco pra poder acompanhar as aulas, ajudar com as aulas, com os trabalhos da escola, em tentar manter a rotina da alimentação nos horários pra que eles consigam fazer as atividades das escolas, quando acabar a escola, colocar para jantar, lanche, então, tem uma função extra, e a gente vai se dividindo, equilibrando pratos, literalmente, e fazendo dar certo também. Estamos tentando trazer leveza pra esse convívio com amor, com harmonia, com respeito também quando percebe que um tá mais introspectivo, que o outro fica mais deprimido ou com questões de ansiedade. A gente tem uma intensidade muito maior porque acabamos tendo que suprir as conversas de amizades, as trocas que eles [filhos] naturalmente fariam com pessoas da idade deles. A gente acaba ficando um pouco sobrecarregado, mas não é nada que seja assustador. 

C: [Risos] Ai, ai, viu, boa pergunta, viu? Eu não sei como! Ao longo desse confinamento na pandemia, a gente foi criando novas rotinas; demorou até encontrar, mas encontramos Em geral, todos os filhos estão tendo mais aulas, e no período delas, a gente consegue trabalhar um pouco. Às vezes, depois das 19h, 20h, a gente vinha tocar um pouco, experimentar e tal, e o turno da noite a gente já dava ok pras crianças assistirem TV, ficarem de boa, e a gente ir trabalhar um pouco. 

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Casais héteros estão conseguindo fazer uma divisão de tarefas com igualdade em casa?

A: Olha, eu acho que a igualdade das tarefas, e a própria relação da mulher cis com o homem cis, dentro de um convívio de companheirismo, elas são estruturalmente estabelecidas de forma diferente, então é uma batalha que tem que ter a sensibilidade das duas partes pra poder trazer cada vez mais equilíbrio nessa divisão, nesse trabalho doméstico, nesse trabalho com os filhos, que às vezes não é doméstico, é uma atenção diferente, é consegui ter uma qualidade de tempo pra brincar, então eu acho que os casais héteros que estão se esforçando, querendo e percebendo que isso é importante, eu acho que eles tão tentando. Aqui, a gente tem realmente… isso já vinha desde antes, um esforço de ter essa visão do outro, quando uma das partes tá sobrecarregada, as coisas ficam muito desequilibradas. Então, tudo começa a ficar mais tenso, então isso já era uma busca nossa aqui, desde que a gente veio morar juntos e que o Benedito nem tinha nascido, e era só eu, a Rubi e o Curumin, depois que chega um bebê e a gente se divide em relação ao que é possível, no caso do bebê pro pai, que não são as demandas necessariamente a ver com o bebê, mas sobre a estrutura da casa, então, manter o supermercado feito, conseguir fazer um planejamento do alimento da semana, o dia que passa o lixo reciclável, coisas que muitas vezes estavam longe dos homens, dos pais, porque as mulheres tinham essa função extra de administrar o lar, e aí, eu acho que a gente também vai se aproximando de pessoas que tão a fim de entender que uma casa, uma responsabilidade de uma casa, de uma família, ela é de todo mundo. 

C: Olha, a Anelis sempre vai ter uma visão muito mais aguçada sobre as coisas da casa. Eu ajudo bastante, eu não tô falando que eu não ajudo não, mas ela tem esse olhar; por exemplo, um armário que tá velho demais e que precisa ser mudado, e que eu acabo não percebendo, ou não ligo. Ela tem essa visão mais ampla. Todo mundo ajuda aqui em casa; nós estamos em cinco, eu, Anelis, e três filhos, sendo dois adolescentes. Eles também ajudam, também têm suas funções, a gente também foi encontrando uma divisão que, não é fixa, mas uma organização em que alguns ficam com quintal, outro da lavanderia, o outro fica na cozinha, um ajuda a limpar os banheiros, enfim. Mas a Ane acaba fazendo um pouco mais sim, por essa questão de saber o que precisa ser feito e, às vezes, acaba passando. Mas todo mundo trabalha bastante aqui e a gente consegue manter a casa minimamente organizada e bem limpa.

A relação dos filhos com a música e com o trabalho dos pais se intensificou?

A: Sim, se intensificou. Os meninos tão tocando muito mais, o Bento, que já tocava bastante, criou uma rotina de praticar e estudar; o Benedito avançou muito também com alguns instrumentos, então, eles veem mais a gente trabalhando, conseguem entender um pouco mais do processo do trabalho que não é só fazer música, tem toda a organização, a produção, as reuniões, o financeiro, tudo o que envolve o trabalho profissional. Então, eles conseguem também observar isso mais e vão, aos poucos, criando uma relação de compreensão, de companheirismo, de respeito. Eles estão entendendo um pouco mais como o nosso trabalho funciona. 

C: Com certeza, ano passado, inclusive, fiz uma live em que a banda eram os filhos. O filho mais novo, o Benedito, está muito envolvido com o trabalho. Toda hora perguntando “como faz pra botar música no Spotify?”, “Quero gravar essa semana”,  “Quero fazer uma live”, e ele acha que é isso, que trabalha, que é músico, igual a gente. Mas, com certeza, todos se intensificaram. Vejo que a Rubi, minha filha mais velha, lançou o trabalho dela, e ela também tem criado suas produções. No caso do Bento, que é o do meio, que tem 16 anos, ele tá mais focado na escola ainda, já que tá finalizando. O Benedito vendo e vivendo com a gente, tá todo dia tocando bateria, aprendendo a tocar violão, e já tá tocando bem.

O que mudou na rotina da família na pandemia?

A: Como eu falei, a gente já tinha um rotina por conta dos horários escolares, com almoço, ordem da casa, e isso se manteve. Claro que a gente, em vários momentos da pandemia, relaxou, não conseguiu dar conta, mas a gente cozinha praticamente todos os dias, a nossa relação não é com pedir comida, isso é mais raro. A nossa rotina mudou porque a gente não sai (risos), simples assim, a gente tem que conversar com o mundo lá fora estando aqui dentro. Todos nós – os adolescentes, os adultos e a criança.

C: O que mudou principalmente foi o cuidado com a casa. Como é o ambiente que a gente tá e vai ficar o tempo todo, pelo menos metade do dia é pra cuidar dela, faxinar, fazer café da manhã, almoço, janta, já raramente pedimos algo pra comer, então tem uma produção grande de comida tendo aqui na composição dois adolescentes e dois adultos. Então, tem uma ralação aqui. 

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Como as relações afetivas dos casais podem fortalecer o processo de reinvenção que ambos estão enfrentando desde a impossibilidade de shows e turnês? 

A: Olha, eu acho que isso varia muito de cada encontro, e também do momento que cada parte desse casal estava vindo e tratando, seus próprios planos. Agora, a gente teve que, realmente, andar nessa corda da reinvenção e das possibilidades. No meu caso, o Curumin é um suporte muito importante. Eu tenho esse privilégio de ter um músico [como parceiro], então, ele me ajuda nas gravações, nas criações de algumas harmonias, ele já não depende de mim para as coisas dele, as lives dele. Eu ajudo com cenário, com figurino, faço a câmera, e a gente vai se apoiando, não tem outra form. O jeito é buscar mesmo mais um lugar nessa parceria do encontro afetivo. Esse suporte sempre houve, independente de isolamento ou não; pra poder fazer os nossos trabalhos fora, quando um tá fora, o outro tem a cobertura. A gente conversa, se programa e, na ausência de um, o outro cobre as funções em jornada dupla. Se a gente já não tivesse isso, talvez fosse muito difícil. A reinvenção é somente pela forma, porque esse suporte e esse desejo de ser estrutura emocional, financeira, física, um do outro, a gente já tinha, só ficou mais fortalecido. Nesse convívio exacerbado que a gente vem tendo, é super importante a observação sensível de um sobre o outro.  

C: Olha, muda muito. foi muito importante. Quando começou a pandemia e não se sabia o que seria, quanto tempo ia durar, eu fiquei meio que esperando quais seriam os próximos passos, pra onde ir. Foi muito importante estar com a Anelis porque ela estava em uma situação diferente da minha. Logo, ela já falou logo “Fudeu! Acabou, caíram todos os shows! Vamos começar a correr aqui, vamos ver como é essa coisa de lives”. Ela teve essa atitude mais proativa, e foi importante pra gente seguir trabalhando nessas alternativas todas, isso foi muito importante. Lógico, todo mundo aqui teve momentos em que teve uma queda, se sentiu fragilizado, preocupado com isso tudo e, estar rodeada pela família, por pessoas que você ama e cuida, com certeza ajudou muito. Passamos aqui todos os nossos aniversários, festas no zoom, momentos muito emocionantes, e isso aí foi uma história que a gente viveu junto e que vai ficar guardada pra sempre na nossa história. 

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01/06/2021

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