O músico multiuso Woodkid trouxe sua Golden Age Tour neste sábado a São Paulo para seu primeiro show no Brasil. A proposta do espetáculo é ser uma experiência audiovisual completa e meticulosa. Com a participação da plateia ensandecida presente, o resultado final foi superior à soma das duas partes: a histeria do público encontrou e transformou o profissionalismo metódico da apresentação, criando uma noite surreal.
O repertório é focado no primeiro e único disco do artista, Golden Age (2013), com algumas músicas retiradas do EP Iron (2011) e duas composições inéditas.
Yoann Lemoine (nome real do garoto de madeira) é francês, mas vive no Brooklin, vizinhança de Nova York. É díficil encontrar qualquer matéria sobre o cara que não pareça um perfil do LinkedIn; em resumo, ele faz tudo e já trabalhou com quase todo mundo.
Com toda sua experiência como diretor de vídeos, suas apresentações são calculadas para proporcionar sensações, nas palavras do próprio, “cinemáticas”. Como um Prokofiev hipster, suas composições ora soam como brados de batalha e em outros instantes retratam a delicadeza dos momentos de calmaria. É como a famosa ópera Guerra e Paz, modernizada com um toque de música pop.
O aspecto visual da apresentação segue a mesma dicotomia. Os elementos de projeção e iluminação também criam climas diferentes. Nos momentos mais sutis, é como ver um filme de Gus Van Sant sobre a solidão nos grandes centros urbanos. Quando o som explode, pense visualmente em Darren Aronofsky dirigindo uma cena de Game of Thrones.
Todo esse drama (no bom sentido) é acompanhado por uma banda de 7 integrantes, além de Woodkid. Uma seção de metais, 2 percussionistas, um pianista e outro membro se alternando nas percussões eletrônicas e samples. Yoann e sua banda entregam um show impressionante em todos os aspectos. Da qualidade do som até a postura dos integrantes do palco, tudo foi muito ensaiado. O elemento supresa foi a plateia.
Mesmo nas baladas mais soturnas (como as belas “Brooklyn” e “Where I Live”) o público já impulsionava o espetáculo com uma recepção extremamente calorosa, fora do normal até para os padrões brasileiros. Mesmo os eventuais agregadores de valor dos camarotes estavam empolgados. Quando a banda executava os hits mais rítimicos (destaque para “Conquest of Spaces”, “Iron” e “Run Boy Run”), os fãs pulavam como se estivessem presentes num bloco de carnaval em plena Terra Média. A interação foi tão positiva que era possível perceber que Yoann estava visivelmente emocionado no final do evento. A banda, performática e séria no começo do set, estava pulando e sorrindo nos momentos de clímax da noite.
Após entrar no palco, Woodkid brincou com os presentes: “se vocês forem legais conosco, tocaremos nosso primeiro disco quase inteiro. Se forem muito legais, tocaremos umas duas músicas novas”. Pela reação que recebeu de seus fãs, “muito legal” é quase pejorativo. A entrega dos espectadores merecia que o músico escrevesse um disco apenas para São Paulo.
Setlitst
Baltimore’s Fireflies
Golden Age
Where I Live
Ghost Lights
I Love You
Go
Brooklyn
Boat Song
Stabat Mater
Conquest of Spaces
Volcano
Iron
The Great Escape
Run Boy Run
The Other Side
Fotos: Marcelo Mattina